Para continuar à frente da Ales, Marcelo Santos garante aliança com o governo para 2026

Marcelo Santos em coletiva de imprensa / crédito: Lucas Costa/Ales

O presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União Brasil), fez na manhã desta quarta-feira (11) uma demonstração pública de que quer (e quer muito) continuar à frente do comando do Legislativo no próximo biênio.

Como quem manda um recado direto para o Palácio Anchieta, Marcelo enfatizou que não rompeu o “cordão umbilical” com o governo, que entregou e continuará entregando estabilidade política na Assembleia e ainda se comprometeu a apoiar o governador Renato Casagrande (PSB) em seu projeto de sucessão em 2026.

Tudo isso foi dito numa coletiva de imprensa convocada pelo presidente para prestar contas do mandato.

Antes de responder às perguntas dos jornalistas, Marcelo fez uma fala inicial pontuando as conquistas e entregas da Assembleia (que são da sua gestão também), ressaltando, em muitos momentos, a estabilidade política e institucional que permeou a relação entre o Legislativo e outros Poderes, principalmente na relação com o governo do Estado.

Marcelo não cravou que é candidato à reeleição da presidência da Mesa Diretora. Ao ser questionado, disse que tem o direito e que está “inclinado” a disputar, mas que irá discutir o assunto em janeiro, com o governador.

“Eu tenho direito de disputar a reeleição e só posso disputar mais uma vez, pelo entendimento recente do STF. Estou inclinado a disputar. Estou sendo cobrado pelos meus colegas deputados para que continue à frente do Poder Legislativo. Não discuti isso com o governador. Vamos iniciar essa discussão em janeiro e, naturalmente, decidindo disputar a reeleição, vou buscar o apoio do governador e do vice”, afirmou o presidente.

Deixar as negociações da Mesa Diretora para janeiro partiu do governo do Estado que, por meio da Casa Civil, chamou os deputados e pediu para que, nesse momento, eles não assinassem lista e nem empenhassem a palavra em apoio a nenhuma candidatura.

Algo que o governo tem dito também, em alto e bom som, é que Casagrande participará “ativamente” do processo da Mesa Diretora, assim como participou na eleição passada, quando Marcelo foi escolhido em detrimento do deputado Vandinho Leite (PSDB) que, inclusive tinha uma lista com 24 deputados o apoiando.

Marcelo, hoje, tem também a preferência da maioria da Assembleia, mas ele sabe que o que irá definir quem será o próximo presidente da Ales é a bênção do Palácio Anchieta.

“Estou dialogando com meus colegas. Não serei hipócrita em dizer que não tenho essa vontade (de disputar a reeleição), tenho. Mas eu, sozinho, não posso lutar. Por mais que eu tenha tido a manifestação da maioria dos deputados, quero fazer algo que seja importante na relação”, afirmou.

Marcelo tem a ciência de que não adiantará concorrer contra o apoio do governo – ainda que tenha o apoio dos deputados, que são os eleitores da eleição da Mesa Diretora. E ele também tem a ciência de que, para herdar esse apoio, vai precisar mostrar mais do que os resultados já apresentados, como a estabilidade e a aprovação de todos os projetos enviados pelo governo – entre eles, o Orçamento do Estado para 2025, que foi aprovado na manhã de hoje, antes da coletiva de imprensa.

O compromisso com 2026

Conforme a coluna já noticiou aqui, o que irá definir o apoio do governador na disputa pela presidência da Assembleia será o compromisso com o projeto do governo para 2026. O “plano A” desse projeto é a eleição de Casagrande para o Senado, e de Ricardo Ferraço para o governo.

E um apoio público a esse compromisso foi o que o presidente da Ales fez ou ao menos tentou fazer hoje, na avaliação da coluna.

“Tenho uma aliança formal com o governador Renato Casagrande e com o projeto de sucessão que ele irá liderar. Declarei, amplamente aqui, que tenho um compromisso com ele ao Senado e um compromisso com o processo de sucessão. Tem o Ricardo, que estará no direito, a partir do momento que ele assumir o Governo, pra disputar a reeleição”.

A citação do vice-governador Ricardo Ferraço não foi por acaso. Nos bastidores, haveria a incerteza se Marcelo, à frente da Ales, apoiaria o nome de Ricardo Ferraço (MDB) ao governo.

E essa dúvida do governo com relação a Marcelo aumentou consideravelmente após as eleições de outubro, quando o presidente da Ales tomou rumos distintos do Palácio Anchieta. Um desses caminhos divergentes foi apoiar candidatos que faziam oposição ao governo.

A preocupação do Palácio é de não ter o apoio do presidente da Assembleia justamente num momento sensível, de transição de governo e de sucessão.

E o apoio a Pazolini?

Marcelo agiu para tentar desfazer as desconfianças com relação ao futuro. Nas eleições deste ano, ele apoiou a reeleição do prefeito de Vitória Lorenzo Pazolini (Republicanos) que, não é segredo para ninguém, é oposição ao governo do Estado. Pazolini, inclusive é cotado para disputar o Palácio Anchieta daqui a dois anos.

Ao ser questionado se poderia apoiar Pazolini em 2026, como fez em outubro, Marcelo descartou totalmente e, mais uma vez, se comprometeu com o projeto do governo do Estado.

“A eleição de 2024 e a eleição de 2026 são coisas distintas. Meu compromisso com Pazolini se deu pela relação que tenho com Duda Brasil, que é o líder dele na Câmara. Duda coordenou minha campanha em Vitória. E, naturalmente, foi também por entender que era um bom candidato a continuar, porque fez um bom trabalho. Tenho, também, relação com Lorenzo, ele era delegado e foi deputado comigo. Mas, meu compromisso era com a reeleição dele, a partir daí não existe mais nenhum compromisso com ele. Tenho compromisso com a liderança do governador Renato Casagrande para o projeto de 26”, disse o presidente.

Ele também afirmou que continua com a intenção de disputar uma vaga à Câmara Federal em 2026, o que era uma segunda dúvida, tendo em vista as movimentações que fez durante a pré-campanha eleitoral deste ano. A leitura do mercado político era de que Marcelo poderia disputar um cargo majoritário, como Senado ou até mesmo o governo, e ir para o lado oposto ao de Casagrande.

Uma ressalva

Embora tenha dito, diversas vezes, que está no projeto de sucessão do governo, o presidente Marcelo Santos afirmou que não se pode misturar a eleição da Mesa Diretora com a eleição de 2026. “Para não contaminar o processo”, justificou, sem dar muitos detalhes.

Marcelo deu, como garantia, a continuidade da estabilidade, caso continue à frente do Legislativo. Embora não tenha dito, sua fala foi num tom de quem levanta a suspeita que poderia faltar tranquilidade ao governo caso outro candidato seja eleito presidente.

Hoje, quem também está de olho na cadeira da presidência é o deputado Vandinho Leite (PSDB), repetindo assim o “duelo” de 2023. Vandinho faz parte da base aliada e é bastante próximo de Ricardo Ferraço, já que os dois eram do mesmo partido, o que aponta para uma dobradinha de apoio em 2026.

Porém, no início do mandato anterior (2019-2022), Vandinho fez oposição ao governo do Estado, principalmente durante a pandemia de Covid-19, e aliados de Marcelo têm levantado a bola de que quem já foi oposição uma vez, pode voltar a ser novamente. Já Marcelo tem a seu favor sua lealdade a Casagrande, que passou inclusive pelo teste de 2014, quando o socialista perdeu a eleição para o ex-governador Paulo Hartung.

Ao fim da coletiva, Marcelo foi para o Palácio Anchieta para o tradicional almoço de fim de ano entre o governador e os deputados. Na foto oficial do evento, Marcelo, sorridente, apareceu do lado direito do governador. Seria um sinal? A conferir.

Almoço entre o governador e deputados

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