Quando esta coluna começou a noticiar sobre as movimentações para o comando da Câmara de Vila Velha, no dia 7 de novembro, cinco nomes apareciam na disputa pela presidência. Estavam no páreo os vereadores eleitos e reeleitos: Rogério Cardoso (Podemos), Ivan Carlini (Podemos), Osvaldo Maturano (PRD), Joel Rangel (Podemos) e Patrícia Crizanto (PSB).
Até então, o prefeito reeleito Arnaldinho Borgo (Podemos) não tinha se manifestado. Acompanhava, de perto, as articulações dos cinco, que são da sua base, mas sem definir quem seria o escolhido ou escolhida para receber seu apoio. Mesmo sem nenhum aceno, os vereadores tinham ciência de que a escolha do prefeito teria um peso definitivo.
De lá pra cá alguns pré-candidatos perderam força, outros conseguiram arregimentar apoios para a formação de blocos. Primeiro surgiu um blocão, com a presença de todos os pré-candidatos – à exceção de Joel – e com assinaturas de 11 eleitos – inclusive, registradas em cartório.
Com divergências sobre quem seria o candidato, o blocão se dividiu em dois grupos: um liderado por Maturano, atual líder do prefeito, tendo Joel em sua composição e boa parte da base aliada; e o outro liderado por Ivan, presidente da Câmara por 12 anos, e que contava com as presenças de Rogério e Patrícia, parte dos aliados e ainda com os quatro vereadores eleitos fora da base de Arnaldinho – um vereador do PT e três do PL.
A escolha
Na última sexta-feira (13), o prefeito decidiu. Chamou Maturano para uma reunião e definiu que ele receberia o apoio para a disputa pela Mesa Diretora. Depois, teria chamado alguns dos vereadores para comunicar sua decisão. A leitura que o grupo de Maturano faz é que o líder do prefeito teria passado mais “segurança” para ocupar o cargo.
Além de líder do prefeito, Maturano é vice-presidente da Câmara, presidente da Comissão de Finanças, foi vereador com Arnaldinho por dois mandatos e fez movimentos que teriam passado tranquilidade ao prefeito, principalmente com relação à governabilidade.
O fato do grupo adversário a Maturano conter integrantes potencialmente inclinados a já iniciarem o mandato na oposição ao prefeito, teria pesado na decisão de Arnaldinho. Aliados de Maturano chegaram a comparar a escolha de Arnaldinho com a escolha do governador Renato Casagrande por Marcelo Santos, na disputa pela presidência da Assembleia em 2023.
Na ocasião, Marcelo e Vandinho Leite disputavam o comando da Ales, mas entre os aliados de Vandinho estava o grupo de oposição a Casagrande, com toda a bancada do PL. Esse fato não passou despercebido pelo grupo de Marcelo que usou isso a seu favor.
Somado a outros fatores, Casagrande acabou por escolher Marcelo para presidir a Ales.
A chapa
Arnaldinho não se manifestou a respeito da escolha. Ontem (18), cerca de uma hora antes da diplomação dos eleitos, 11 vereadores, liderados por Maturano, estiveram no gabinete do prefeito e alinharam a composição da chapa para a Mesa Diretora e posaram para foto. Ontem mesmo a chapa foi protocolada e ficou assim:
- Osvaldo Maturano (PRD): presidente
- Hércules Silveira (PP): 1º vice-presidente
- Alex Repecute (PRD): 2º vice-presidente
- Léo Pindoba (Podemos): 1º secretário
- Carol Caldeira (DC): 2ª secretária
- Ademir Pontini (MDB): 3º secretário
Além dos seis que compõem a chapa, outros cinco assinaram em apoio:
- Joel Rangel (Podemos)
- Anadelso Pereira (Podemos)
- Devanir Ferreira (Republicanos)
- Thiago Henker (Podemos)
- Jonimar Santos (PP)
Até o momento da diplomação, na quarta-feira (18), havia dois blocos: um liderado por Maturano, com 11 vereadores, e o outro fechado com 10 vereadores, entre eles Ivan, Rogério e Patrícia.
Porém, antes da cerimônia de diplomação terminar, as coisas começaram a mudar.
Ivan muda de lado
Ivan Carlini, que era um dos principais nomes do G-10 e cotado a presidir a Câmara, mudou de lado. Segundo entrevista dada à coluna De Olho no Poder, na tarde desta quinta-feira (19), após se reunir com o prefeito Arnaldinho, ele decidiu apoiar Maturano.
“Eu só seria candidato se o prefeito quisesse. Ele me chamou lá e disse que iria lançar o Maturano, perguntou se eu teria dificuldades e eu disse que não. Maturano é meu amigo, já votou em mim quatro vezes, por que eu não posso dar a oportunidade para ele? Vou apoiá-lo”, afirmou Ivan.
Nos bastidores, Ivan teria pedido para entrar na chapa de Maturano, porém, à coluna, ele negou. “Não pedi nada. Já fui presidente por 12 anos e agora vou dar oportunidade aos mais jovens. Eu acho que fiz o certo”.
Além de Ivan, Maturano também recebeu o apoio do vereador Welber da Segurança (União), que também esteve com o prefeito, antes de decidir mudar de lado. “Comecei o dia com uma reunião com o meu amigo Osvaldo Maturano, líder do prefeito Arnaldinho, para declarar meu apoio à chapa encabeçada por ele para presidir a Câmara de Vila Velha”, escreveu Welber numa rede social.
Com os dois novos apoios, Maturano soma 13 dos 21 votos possíveis para ser eleito presidente da Câmara de Vila Velha. Isso, é claro, se até a eleição não houver traições e novas mudanças. É com isso, aliás, que o outro bloco conta.
“Vamos protocolar chapa, vai ter disputa”
Embora tenha perdido dois integrantes, o G-10, que no momento é G-8, não se dá por vencido. Os vereadores Patrick da Guarda (PL) e Pastor Fabiano (PL), que, ao que parece, assumiram a liderança do bloco, disseram que irão protocolar uma chapa até a próxima segunda-feira (23) para disputar contra Maturano.
“O projeto está de pé e vamos protocolar uma chapa, vai ter disputa, até para fazer um contraponto na cidade. Não vamos apoiar Maturano”, disse Patrick. O nome para encabeçar a chapa ainda não foi definido, embora o de Patrícia seja o mais cotado.
“O grupo está unido e é salutar que haja o debate. O nome do candidato à presidência será definido, mas temos vários nomes, inclusive estamos trabalhando para trazer outros nomes para o grupo, como o Joel. Mas vamos protocolar nossa chapa”, disse Pastor Fabiano, que negou que o grupo seja de oposição ao prefeito.
Ele chegou a fazer referência ao documento assinado e testificado em cartório com o nome, inclusive do Maturano, que hoje, aposta no consenso e na apresentação de uma chapa única. Os oito que estão nesse bloco são:
- Patrícia Crizanto (PSB)
- Rogério Cardoso (Podemos)
- Renzo Mendes (PP)
- Flavio Pires (Agir)
- Patrick da Guarda (PL)
- Pastor Fabiano (PL)
- Devacir Rabello (PL)
- Rafael Primo (PT)
Segundo o Regimento Interno da Câmara de Vitória, as chapas que irão disputar a Mesa Diretora precisam ser protocoladas até 8 dias antes da eleição, o que daria no dia 24, véspera de Natal, que será ponto facultativo no município. A data limite, então, seria até o dia 23 (próxima segunda-feira).
Hoje, Maturano tem larga vantagem, principalmente pelo apoio do prefeito ao seu nome. Mas, isso não significa que terá vida fácil. Aliás, com os eleitos rachados do jeito que estão, a sinalização não é de calmaria, mas sim de turbulência, o que pode, inclusive, respingar na governabilidade do prefeito na Câmara.
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