O aumento no preço das passagens nas principais capitais brasileiras foi o estopim para o início de um movimento que tomou conta do país e também do Espírito Santo. O cidadão já cansado dos péssimos serviços públicos e o descaso com dinheiro da população se sentiu na obrigação de sair de casa e também da internet e mostrar sua indignação nas ruas. Quando pipocaram os protestos, aqui no Espírito Santo a impressão que se tinha foi de que estaríamos livres dos estudantes fechando o trânsito e causando transtornos na cidade, já que por aqui a passagem sofreu uma redução de R$ 0,05. Puro engano. Os capixabas, solidários ao reajuste da tarifa em São Paulo e no Rio de Janeiro, também fizeram suas manifestações e embalados pelo clima de mudança e contra a corrupção conseguiram mandar seus recados ao poder público.
O movimento pode ser comparado a outros dois grandes protestos que aconteceram e conseguiram mudar a história do país. O das Diretas Já e o Fora Collor. O primeiro conseguiu por fim à ditadura militar e o segundo expulsar um presidente da República mergulhado em corrupção. Famílias, crianças, jovens, trabalhadores, donas de casas participaram de uma manifestação teoricamente apartidária. Infelizmente houve cenas de vandalismo, desrespeito ao patrimônio público e privado em vários locais. No Estado, houve confrontos entre polícia e manifestantes na porta da casa oficial do governador Renato Casagrande. Prédio da Assembleia Legislativa e Tribunal de Justiça foram depredados.
O curioso é que esse clima de insatisfação tenha acontecido justamente em um período pré-eleitoral e durante a realização dos jogos da Copa das Confederações, evento que é visto como uma preparação da Copa do Mundo. Quem não se lembra da festa da nação comemorando a conquista do Brasil na disputa pela sede desse campeonato? O que houve com essa alegria? Talvez acabou quando a ficha caiu e muitos perceberam que o valor dos ingressos cobrados para assistir as partidas são tão exorbitantes que o jeito será ver a seleção pela televisão.
Mais curioso ainda é ver políticos que estão há anos no poder, tanto por aqui e como fora do Estado, apoiando o movimento #vemprarua. Nunca fizeram nada pelo povo e agora tentam pegar carona na popularidade que ganhou o protesto se dizendo ao lado da população. O cidadão capixaba, no entanto, ficou atento e nas redes sociais criticaram aqueles que manifestaram o interesse em aderir à passeata.
A esperança é que assim como no Fora Collor e nas Diretas Já, essa manifestação, em maioria pacífica, consiga atingir seus resultados. Que os serviços de saúde, educação e segurança sejam melhorados. Que o dinheiro público seja realmente aplicado em benefício da população. Que os corruptos de colarinho branco sejam extirpados do poder e que nós, cidadãos, possamos aprender a votar corretamente nas próximas eleições.
O outro lado
Apesar da grandiosidade desses protestos, não dá para não citar que muitos estão ali apenas para causar tumultos, badernas e também encontrar os amigos como se fossem uma micareta ou um show do seu artista preferido. A ideologia ficou esquecida em casa. Para se ter uma idéia, ao ser entrevistado um manifestante em Vitória foi perguntado por que estava protestando. A resposta: Contra tudo. Tudo o que, Brasil? Sem contar os que saquearam lojas e quebraram as cabines da Terceira Ponte. É preciso parar de tratar bandido como se fossem manifestantes. Não são!
Sem organização
O fato de não ter uma bandeira específica, como foi pelo fim da ditadura ou pela derrubada de um presidente, esse protesto corre o risco de ser apenas mais um encontro de modinha que não terá nenhum efeito concreto. Vamos torcer para que não aconteça isso e os políticos fiquem atentos, principalmente porque ano que vem o povo vai às urnas e pode dar seu recado, assim como deu nas últimas eleições.