Eles não aprendem

A última semana mostrou que, passada a euforia das megamanifestações – substituídas cada vez mais por ações isoladas e descoordenadas –, ainda há muito a fazer para assegurar que as instituições e os políticos brasileiros se rendam, definitivamente, a práticas republicanas. De jatos da FAB usados para dar carona a amigos e comparecer a eventos sociais, a manobras protelatórias e propostas que pouco refletem as demandas do povo, o que não faltaram foram exemplos da velha postura arcaica e patrimonialista que caracteriza nossa política.

O que os últimos episódios demonstram é que a mudança política desejada pelo brasileiro, ainda precisará de muita vigilância, mobilização e pressão para se tornar efetiva. Para certos exemplares de nossa classe política, é extremamente difícil abrir mão de (maus) hábitos tão arraigados. De nada adiantará reformas, plebiscitos e toda sorte de feitiçarias burocráticas se nossos representantes não entenderem, de uma vez, que o povo cansou de financiar as extravagâncias de uma corte inepta.

Mas se as manifestações começam a perder força e mobilizam menos gente, como podemos manter a pressão sobre os parlamentares? Bem, os fatos dessa semana também apontam alguns caminhos. Para começar, é preciso manter viva a capacidade de se indignar com os desmandos daqueles que ocupam cargos públicos e são (muito bem, diga-se) remunerados para nos representar e servir. É fundamental reclamar, denunciar, levantar a voz contra todo e qualquer abuso. Aquele velho comportamento, tão comum do brasileiro, de virar para o lado e fingir que não viu precisa ser definitivamente substituído pela postura de inquietação e intolerância com o mau uso dos recursos públicos.
 
A mobilização, de igual forma, precisa ser mantida. É claro que não se pode manter o ritmo de protestos, passeatas e manifestações diárias, sob pena de paralisarmos o país e afundarmos, ainda mais, a economia já estagnada. Mas a mobilização que conquistou as ruas começou na internet, nas redes sociais, e pode continuar a operar lá mesmo, com muita eficácia, no mundo virtual. Afinal, agora que o “Gigante Acordou”, todos sabem que ele pode tomar as ruas a qualquer momento. Portanto, se a sociedade e a imprensa trabalharem juntas, para manter a vigilância sobre os atos de nossos políticos, é possível que continuemos a obter a resposta que esperamos. O medo opera  milagres… Afinal, nunca se viu um Congresso tão produtivo, para ficar apenas em um exemplo.

Para encerrar, é preciso continuar atuando com os instrumentos legais disponíveis. Para isso, os representantes do Ministério Público, que receberam o apoio da sociedade e, graças a ela, viram enterrada a PEC37, precisam agora oferecer a contrapartida. Não é possível tolerar ações se arrastando há 14, 15 anos na Justiça, a exemplo daquela que questiona a concessão da Terceira Ponte e Rodovia do Sol. Iniciada logo após a concessão dos sistema viário para a Rodosol, em 1998, a ação não foi julgada até hoje e, coincidência ou não, terá uma audiência de conciliação na próxima terça-feira. Prazos como esse, realmente, não podem mais ser tolerados.
 
E se for preciso, que o Gigante seja acionado para fazer as coisas andarem…
 
Eles precisam aprender
 
Tem vereador na Grande Vitória apresentando projeto de Lei para criminalizar os atos de vandalismo. Alguém precisa explicar para esses ilustres parlamentares que vereador não tem competência para legislar sobre matéria criminal. Será que mesmo participando de tantos cursos (com viagens e diárias pagas pelo contribuinte) esses vereadores ainda não sabem qual o seu papel?

Um comentário em “Eles não aprendem”

  1. Os manifestantes deveriam assumir a seguinte postura (legal): que se faça um encontro de contas entre o que a Rodosol e o Estado devem um para o outro e se houver, ainda, algum valor a pagar à Rodosol, é só acabar com alguns incentivos fiscais (Fundap e outros considerados inconstitucionais pelo STF e que não foram aprovados pela ALES, são R$2 bilhões por ano dados às empresas) para pagar. O governo vai ficar sem reação e desmoralizado ainda mais, já que esta proposta não quebra contratos (ou, se quebra, indeniza) e indica fonte de recursos para pagar.

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