Política

Líder ruralista critica pressão de presidente por apoio a Lira

Deputado Alceu Moreira, que anunciou apoio a Baleia Rossi, afirmou que Bolsonaro comete "erro político" ao atribuir resultados apenas ao governo

Estadão Conteúdo

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução / Instagram
Alceu Moreira: "Erro ingênuo do governo"

As cobranças do presidente Jair Bolsonaro pelo apoio da bancada ruralista ao deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), seu candidato à presidência da Câmara, desagradaram integrantes da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA). Para parlamentares do grupo, Bolsonaro erra ao atribuir os resultados do setor apenas ao governo e ao usar esse argumento para exigir adesão ao seu candidato na eleição do Legislativo.

"É um erro ingênuo do governo. A FPA não é partido, isso é um erro político", disse o líder da bancada, deputado Alceu Moreira (MDB-RS). Moreira foi um dos que declararam apoio ao correligionário Baleia Rossi (MDB-SP), candidato do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Em conversa com apoiadores na segunda-feira (11) Bolsonaro afirmou que o campo "nunca teve um tratamento tão justo e honesto" quanto em seu governo. Segundo ele, o agronegócio está "bombando" e, por isso, parlamentares da bancada deveriam apoiar o candidato do governo. "Alguns parlamentares do campo, ao invés de apoiar o nosso candidato, estão apoiando outro candidato. Eu não entendo", disse o presidente, na portal do Palácio da Alvorada.

O presidente voltou ao assunto nesta terça, 12, com uma nova cobrança pública e argumentou que Lira permitirá o avanço da reforma agrária e da regularização fundiária. "Se fizer a regularização fundiária nós vamos saber de quem é o CPF daquela pessoa daquela terra que desmatou ou pegou fogo, e o atual presidente da Câmara ainda não permitiu que isso fosse votado", disse Bolsonaro. Uma medida provisória sobre o tema enfrentou resistência de parlamentares e foi apelidada de MP da Grilagem. Sem acordo para votação, o texto perdeu a validade no ano passado.

O líder da bancada ruralista rebateu os argumentos de Bolsonaro e criticou o fato de o chefe do Executivo usar políticas de governo para cobrar apoio numa eleição interna da Câmara. "O sucesso do agro tem a participação do governo, com o brilhantismo da ministra (da Agricultura) Tereza Cristina e também com a atuação da Frente, mas quem merece os aplausos é sua excelência, o produtor rural", declarou Moreira. Para ele, as bandeiras são convergentes e a disputa no Legislativo não pode se transformar numa disputa entre Maia e Bolsonaro.

'Chantagem'

Para o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), que faz parte da FPA, o que Bolsonaro faz é "chantagem". "A bancada é suprapartidária e independente. Qualquer tentativa de torná-la submissa a qualquer liderança política gerará sentimento de corpo contra essa liderança", disse o parlamentar.

A FPA tem 241 deputados. Entre os integrantes, estão tanto aliados de Baleia quanto de Lira - os dois, inclusive, fazem parte da bancada ruralista.

Aliado de Lira e um dos vice-presidentes do grupo, o deputado Evair de Melo (Progressistas-ES) negou que haja qualquer crise com o governo por causa das declarações do presidente. "Não tem apoio formal da frente, isso não é um assunto para a bancada tratar, por isso, não tem crise instalada", afirmou. Melo disse, no entanto, que a maioria dos deputados na bancada já apoia o candidato de seu partido.

O deputado Sérgio Souza (MDB-PR), que assumirá a presidência da bancada a partir do dia 22 no lugar de Moreira, também minimizou as cobranças do presidente. "É o estilo de Bolsonaro. Ele fala o que pensa. Não há um racha dentro da FPA, um afastamento do governo, não há. As pautas do governo e da FPA são praticamente as mesmas", disse Souza. Segundo ele, a preocupação do grupo é que tanto Baleia quanto Lira se comprometam em votar projetos defendidos pelos ruralistas. "Temos um papel de ter uma pauta, defendemos essa pauta e vamos cobrar dos candidatos o compromisso com isso", afirmou.

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