Política

Com Lula elegível, o que esperar do futuro do PT no Espírito Santo

As principais lideranças do PT no Espírito Santo terão a missão de conduzir o partido para reverter "massacres eleitorais" nos últimos anos

Luana Damasceno de Almeida

Redação Folha Vitória
Foto: Folha Vitória

Ao ter as condenações no âmbito da Lava Jato anuladas, Lula está livre para concorrer às eleições de 2022, se quiser. Candidato ou não, a decisão do STF envolvendo a maior liderança da sigla garante um novo momento ao Partido dos Trabalhadores, em âmbito nacional e estadual. Nos últimos anos, a legenda amargou "massacres eleitorais". E aqui no Estado não foi diferente. 

O partido sequer teve prefeito eleito no Espírito Santo em 2020, emplacando apenas um vice-prefeito, no município de Águia Branca, e 11 vereadores, sendo apenas dois deles na Grande Vitória: Karla Coser, na Capital, e André Lopes, em Cariacica. Nas eleições municipais de 2016 foram eleitos um prefeito, 2 vice e 28 vereadores. Diante resultados tão ruins, nem mesmo os mais confiantes dos petistas poderiam imaginar que o lema "Lula Livre" viraria realidade alguns meses depois.

E agora, o que muda para os rumos do Partido dos Trabalhadores no Espírito Santo. A legenda terá representante ao governo do Estado? Apoiaria uma eventual reeleição de Casagrande, ainda que o governador tenha fechado as portas para dialogar com o partido em 2018? As respostas vão depender de uma só questão: como o PT vai se posicionar no cenário nacional. 

Enquanto as definições lideradas pela alta cúpula são costuradas, o PT ganha musculatura para ampliar o poder de diálogo nos estados e municípios. Os reflexos dos últimos acontecimentos envolvendo o ex-presidente Lula já começaram a aparecer aqui no Estado. Petistas da "velha guarda", como o professor Roberto Carlos, que hoje está filiado à rede, já estão de malas prontas para se filiar novamente ao partido. Outros nomes de peso, como o senador Fabiano Contarato, também estão em negociações avançadas. 

O partido já conversa com lideranças políticas sobre os possíveis cenários de 2022 para o governo do Estado. "Conversamos com o Guerino Zanon (MDB), com Audifax (Rede) e com o próprio Renato Casagrande (PSB). Então o partido continua conversando com os candidatos do campo de centro-esquerda. Não está descartado ter candidatura, mas também não está descartado fazer uma aliança pra ter um candidato ao governo", disse o ex-prefeito de Vitória, João Coser. 

O próprio MDB já confirmou a pretensão de lançar Guerino ao governo do Estado no ano que vem. Já o ex-prefeito da Serra também não descarta concorrer ao Palácio Anchieta. Sobre Casagrande, a reeleição é o caminho natural.  Ou seja, caso não tenha candidatura própria, o apoio do PT tende a ser bem-vindo dessa vez, diferente dos anos anteriores. 

"Por um momento nós fomos tratados quase que como se tivéssemos algum tipo de lepra. Tinha uma relação pessoal respeitosa mas não podia vincular porque era do PT, que tinha o Lula e o Lula estava preso", disse João Coser.  

Também como consequência do chamado "efeito Lula", o número de filiações ao PT tem aumentado. "Desde o início de março, mas especificamente da entrevista do Lula até a decisão que considerou o Moro suspeito, nós aumentamos em doze vezes o número de filiados", disse a presidente do PT no Espírito Santo, Jackeline Rocha. 

É claro que os próximos meses serão de muitas discussões e os planos podem mudar, principalmente se o "chefe" mandar. Mas, por hora, algumas definições já começam a ganhar forma tabuleiro: João Coser será candidato a deputado estadual, assim como Iriny Lopes e o professor Roberto Carlos. Helder Salomão vai buscar a reeleição na Câmara dos Deputados e o possível novo filiado do partido, Fabiano Contarato, poderá disputar para governo do Estado. O partido faz suspense em relação ao nome que deve concorrer ao Senado Federal. 


A reportagem conversou com as principais lideranças do PT no Espírito Santo sobre as últimas definições do Supremo envolvendo o ex-presidente e o que pensam para o futuro do partido no Espírito Santo: 

João Coser (PT) 

Foto: Reprodução Facebook

"Nós tivemos 2020, 2018 e 2016 um massacre eleitoral. O Lula condenado de certa forma dava margem pra isso, porque se sua grande liderança está presa dá impressão de que o projeto todo está contaminado. Foi demonstrada que a condenação do Lula foi fraudulenta, a Suprema Corte já constata isso. Abre uma oportunidade de voltarmos a sentar na mesa nas condições de igualdade. Reduz o desrespeito, reduz o preconceito. Por um momento nós fomos tratamos quase que como se tivéssemos algum tipo de lepra. Tenho esperança que isso seja superado e a decisão do STF foi muito importante para que isso aconteça. Nosso foco é nacional. Se tivermos que fazer qualquer movimento para ajudar a candidatura nacional, se for o Lula, se for o Haddad, nós faremos um movimento orientado pela direção nacional, porque o nosso foco não é hoje ganhar o governo do Estado e sim a presidência da República porque é lá você muda a vida das pessoas". 

Helder Salomão 

Foto: Agência Brasil

"Embora tenha sido tardia essa decisão (do STF) ela foi muito importante porque faz justiça ao ex-presidente Lula. Houve uma condenação por convicção e não por provas. É uma decisão histórica, importante, que o recoloca no cenário político pra exercer a liderança que ele construiu ao longo de toda sua trajetória política. Mesmo antes dessa decisão favorável ao Lula,  o PT vinha crescendo em todo o Brasil por causa da nossa firmeza nos enfrentamentos ao "desgoverno" de Bolsonaro. Estamos vivendo uma situação trágica no Brasil. Agora esse crescimento acelerou. O PT é o que mais recebe pedidos de novas filiações no País, e aqui no Espírito Santo não é diferente. Com as decisões favoráveis a Lula, o partido poderá fazer uma disputa muito mais forte em 2022. Nossa prioridade agora é auxiliar e socorrer a população. Mas, nós também estamos fazendo as conversas para a filiação de novas pessoas, pra formação das chapas de deputado estadual, federal, isso vai acontecendo no processo até o ano que vem. A gente deve ter boas chapas para disputar as eleições aqui no Estado. 

Jackeline Rocha 

Foto: Divulgação

A principal lição que a gente tira disso é que não dá para destruir um partido que foi construído com uma força popular tão verdadeira. Agora é hora de levantar a cabeça. Queremos conversar com todas as forças políticas do campo progressista, todas as forças que não estejam alinhadas a Bolsonaro. O que nos unifica neste momento é a pauta anti-bolsonarista. Do ponto de vista nacional o PT já começa a fazer uma análise de que não vai lançar candidatos a qualquer custo, mas é lógico que cada região tem especificidades. Precisamos ter sabedoria pra tocar esse processo. Uma das coisas que a gente não abre mão é de apresentar uma agenda alternativa para a sociedade capixaba, mas isso não significa que a gente, necessariamente, terá candidatura própria. Neste momento a gente quer organizar o PT para que o partido tenha condições de viabilizar o aumento da bancada federal e estadual e, se possível, apresentar candidatura para o Senado Federal. 

Iriny Lopes

Foto: Camara dos Deputados

“Para nós que sempre soubemos das implicações de uma politização irresponsável na Justiça brasileira, a decisão puxada por Fachin vem com certo atraso e é o mínimo que se espera de um colegiado que esteve, se não envolvido diretamente, de olhos fechados ao processo desde sua gênese. É uma responsabilidade à qual não cabem comemorações, mas sim cobranças por parte da República e do Estado Democrático de Direito. Sobre os rumos do partido, podemos dizer que nada muda mesmo com a chegada de cada vez mais membros. Há de se respeitar o nosso processo interno e 2022 ainda não está em debate. Nossa prioridade neste momento é fazer frente no combate à pandemia lutando por vacinas já e para todos, auxílio emergencial de no mínimo R$600 e o combate à fome que volta a crescer. Eleições ficam em segundo plano por agora”.






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