Homenagem a Lula Rocha provoca bate-boca na Câmara de Vereadores de Vitória
Votação do Projeto para criação da Comenda Lula Rocha, que foi ativista dos direitos dos negros no ES, foi marcada por ofensas e xingamentos entre vereadores
O projeto de resolução que cria a Comenda Lula Rocha, cujo objetivo é homenagear o ativista dos direitos dos negros no Espírito Santo, foi rejeitado em votação na Câmara de Vereadores de Vitória, nesta segunda-feira (19). O momento foi marcado por ofensas e xingamentos por parte do vereador Gilvan da Federal (Patriota), que criticou a matéria de autoria da vereadora Camila Valadão (PSOL).
Luiz Inácio Silva Rocha, conhecido como Lula Rocha, morreu no dia 11 de fevereiro deste ano. Ele tinha 36 anos e lutava contra problemas renais.
Durante a sessão, que antecipou a prevista para 27 de julho, o vereador do Patriota subiu à tribuna da Casa de Leis justificando que não votaria a favor do projeto de resolução 6/2021, pois atacava a polícia. O parlamentar leu um tweet antigo de Lula, no qual o ativista afirmava que a polícia "atira primeiro e forja depois".
"Votarei contrário a comenda. Em vida descumpria a lei e a ordem e atacava a polícia. Jamais votarei em quem ataca de forma canalha e covarde os policiais". Lula Rocha é um vagabundo. Jamais votarei em vagabundo que ataca polícia. Antes de ser político, sou policial", argumentou Gilvan que é policial federal.
Logo após a fala do parlamentar, a vereadora Camila Valadão saiu em defesa do projeto. Ela destacou que Lula iniciou sua vida no ambiente católico e que atuava dando cursos e capacitações para jovens policiais negros.
"Ele não era um vagabundo não. Ao contrário, ele dedicou sua vida pautada nos Direitos Humanos, direitos da juventude, e não está no seu currículo os inúmeros cursos de formação aos polícias que o próprio Lula ministrou", lembrou.
Caso aprovado, a comenda seria concedida à personalidades que tenham se destacado na defesa da dignidade e emancipação do povo negro e da juventude negra.
Contra X favor
Oito parlamentares votaram a favor, três contra e um se absteve de votar. O vereador Denninho Silva (Cidadania) estava de licença e Aloísio Varejão (PSB) não se posicionou.
O presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), só vota em caso de empate. No entanto, defendeu a posição de Gilvan, alegando que "um tweet é emissão de opinião", gerando "oportunidade de um vereador dizer que discorda e que Lula Rocha não é referência para a cidade".
Votaram a favor: Anderson Goggi (PTB), Armandinho Fontoura (Podemos), Camila Valadão, (PSOL), Leandro Piquet (Republicanos), Duda Brasil (PSL), Karla Coser (PT), Luiz Paulo Amorim (PV) e Luiz Emanuel (Cidadania).
Votaram contra: Gilvan da Federal (Patriota), Maurício Leite (Cidadania), Dalto Neves (PDT).
Absteve: André Brandino (PSC).
Alteração na forma de votação
Em um post nas redes sociais, a autora do projeto de resolução escreveu que após um entendimento da Mesa Diretora, a aprovação do projeto precisava de quórum qualificado, ou seja, 3/5 dos votos (9 votos do total de 15 parlamentares) e não maioria simples como constava na pauta.
Ainda segundo Camila, a Procuradoria da Casa de Leis foi questionada a respeito da decisão.
O Jornal Online Folha Vitória questionou a Câmara de Vereadores de Vitória sobre a alteração no momento da votação, conforme dito pela vereadora. De acordo com o legislativo municipal houve um erro no material da secretaria da Mesa ao elaborar a pauta.
A orientação da Poder Legislativo é que Camila Valadão apresente novamente a o projeto de resolução com oito assinaturas e que peça urgência.
Família se manifestou
Nas redes sociais de Lula Rocha, a família publicou um vídeo em que destacou as frentes em que o ativista atuou e reforçou o apoio dele na capacitação de jovens policiais.
"Lembramos que logo após a greve da PM, Lula se colocou na defesa dos policias. Ao mesmo tempo acolheu as famílias das mais de 200 vítimas da greve", lembrou a irmã de Lula, Ana Paula Rocha.
"Um vereador que não reconhece o legado de Lula Rocha e ataca uma família enlutada, não reconhece os princípios e valores da família que ele tanto diz defender. Não reconhece a Casa de Leis como espaço de democracia, mas como palanque de ódio e desprezo pela luta e conquista e direitos tão caros", disse Isaías Santana, pai de Lula.
Quem foi Lula Rocha
O militante dos movimentos Negro e dos Direitos Humanos do Estado Luiz Inácio Silva Rocha, o Lula Rocha, morreu no dia 11 de fevereiro, no Hospital Dório Silva, na Serra. Ele tinha 36 anos e lutava contra problemas renais.
Lula Rocha foi militante da Pastoral Operária. Em 2019, sua atuação foi essencial para a estruturação do Vicariato para Ação Social Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória. Quando faleceu, coordenava o Fórum Igrejas e Sociedade em Ação, além de atuar na Pastoral do Povo de Rua.
Lula era um dos mais ativos militantes domovimentos negro e de direitos humanos no Estado. Foi presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, líder do Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes), coordenador-geral do Centro de Apoio aos Direitos Humanos e um dos fundadores do Círculo Palmarino, organização nacional do movimento negro.
Na época, o governador Renato Casagrande se pronunciou em sua rede social.