Para Skaf, 'governo não cortou na carne, apenas postergou problema'
São Paulo - O governo federal não cortou nada "na carne", apenas postergou o problema e transferiu fontes de recursos, avaliou nesta segunda-feira, 14, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (PMDB), ao comentar o pacote de medidas de austeridade fiscal, de cerca de R$ 65 bilhões, anunciado pela equipe econômica. O executivo prometeu reagir "fortemente" no Congresso para tentar derrubar as propostas.
"O governo não fez sua parte, não cortou nada na carne. Na realidade, postergou o problema e transferiu fonte de recursos: o que era do Tesouro passou para o Fundo de Garantia e o que era do Tesouro foi para emendas", avaliou. Skaf, que também é presidente do Sebrae-SP, criticou em especial a proposta do governo de pegar 30% do valor recolhido pelo Sistema "S". Para ele, o Executivo quer "abocanhar um pedaço do sistema 'S'". "Significa pegar aquilo que funciona com eficiência e colocar na mão do governo, que é ineficiente", disse.
Skaf também disparou duras críticas à postura do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que fez o anúncio das medidas ao lado do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, em Brasília. Na avaliação do executivo, Levy foi irônico e fez comparações "infelizes". "Ele desrespeitou a sociedade em vários momentos, quando, por exemplo, se referia aos aumentos de impostos como algo pequeno. Ele não tem esse direito", afirmou. Segundo o executivo, "ministro para aumentar imposto o Brasil não precisa".
"O ministro que o Brasil está precisando é aquele que combata desperdícios, melhore a gestão publica, combata com rigor a corrupção, que reduza os gastos e tamanho do Estado, que é o que cria esse problema", defendeu. Para Skaf, nada do que foi anunciado hoje vai ao encontro dos interesses dos brasileiros. "Se aumentar imposto resolvesse o problema do Brasil, o País não teria problemas", disse. "A ironia do ministro, cabe à presidente da República decidir. Agora as medidas de criação de impostos vamos combater fortemente no Congresso", prometeu.
Abimaq
O anúncio do corte de despesas do governo federal em R$ 26 bilhões para o próximo ano foi uma boa decisão se comparada com a falta de ação que vinha dominando o Executivo, avaliou hoje o diretor do Departamento de Competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mário Bernardini. "Eu diria que foi a melhor decisão se comparada com o imobilismo em que estava no Executivo", afirmou.
Contudo, Bernardini disse desconfiar de que os cortes anunciados sejam apenas para justificar a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). "Temo que estes cortes nem sejam feitos", disse o diretor da Abimaq.
"A CPMF é uma tragédia para a competitividade e exportações da indústria", disse Bernardini, acrescentando que seria melhor se o governo fizesse incidir sobre o setor de serviços as mesmas taxas incidentes sobre a atividade industrial. Ele acha que seria correto também se o governo passasse a taxar as grandes fortunas de pessoas físicas. "Não quero que taxem os lucros dos bancos porque depois eles repassam tudo para o cliente", disse.