Saúde

Mais de 600 mil brasileiros poderão sofrer do Mal de Parkinson em 2030

Avançar da idade da população é um dos principais motivos para o aumento da prevalência da doença

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Doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, atrás apenas da doença de Alzheimer.

O perfil demográfico do Brasil e do mundo está se modificando. A expectativa de vida está aumentando e, provavelmente, continuará em ascensão nas próximas décadas, o que significa dizer que a população está envelhecendo e com ela uma maior incidência e prevalência de doenças crônicas, como a Doença de Parkinson.

Estudos epidemiológicos confirmam que, com o avançar da idade, há um aumento da prevalência da doença de Parkinson, aumentando progressivamente em até dez vezes por volta dos 50-80 anos. Dados nacionais estimam que a expectativa de vida no Brasil, em 2030, será de 78,6 anos e, em 2060, de 81,2 anos. O que significa dizer que teremos um maior número de idosos e, portanto, de Doença de Parkinson.

Para a médica neurologista do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, Bruna Villela, não existem estatísticas oficiais brasileiras, mas estudos internacionais estimam que o número de pacientes com doença de parkinson no Brasil dobrará até 2030. Dados publicados através de pesquisa realizada em uma cidade brasileira, estimou que o número de pessoas com Doença de Parkinson representaria cerca de 3% da população com 60 anos ou mais. Levando em consideração que a população brasileira nessa faixa etária seria de 21 milhões de pessoas, chegamos a um número provável de 630 mil brasileiros com Parkinson. 

"Esses números são alarmantes, pois considerando-se que a doença pode atingir pessoas em idade economicamente ativa, em idade produtiva e o fato de tratar-se de doença crônica, significa que os dados impactam os setores econômico, previdenciário, social e de saúde pública e privada", alertou Bruna.

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Segunda a neurologista esses pacientes consumirão mais os sistemas de saúde, necessitarão do uso de medicamentos por toda a vida, aumentando as chances da necessidade de internação hospitalar, além de necessidade de acompanhamento multidisciplinar (neurologia, fisioterapia, fonoaudiologia, psiquiatria, psicologia, nutrição, neurocirurgia) para o pleno tratamento, o que significa uma demanda maior de atendimento e gastos com a saúde pública.

A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, perdendo apenas para a doença de Alzheimer. Trata-se de uma doença progressiva, incurável, e que demanda cuidados por toda a vida. Pode se desenvolver em uma faixa etária muito variável, porém o pico de incidência da doença ocorre a partir dos 60 anos. O substrato fisiopatológico principal da doença reside na deficiência da dopamina, responsável pela maioria dos sintomas, mas não o único. Muitos outros sistemas são afetados, como o serotoninérgico, adrenérgico, áreas cerebrais colinérgicas entre outras, fazendo com que a doença provoque uma ampla gama de sinais e sintomas.

A doença 

Atualmente, sabe-se que a doença envolve múltiplos sistemas, englobando aspectos motores e não motores. É de conhecimento mais amplo da população os sintomas motores típicos da doença, como o tremor dos membros, além da lentidão dos movimentos, rigidez muscular e a instabilidade postural que os pacientes apresentam, porém, outros aspectos, os chamados não motores, muitas vezes são negligenciados.

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Os sintomas não motores são importantes em diferentes estágios da doença, primeiramente em estágios que chamamos de fase pré-motora ou de sintomas prodrômicos, ou seja, são sintomas que aparecem antes do tremor e da rigidez muscular, na maioria das vezes, muitos anos antes que se faça o diagnóstico da Doença de Parkinson e que o próprio paciente ou o médico desconfiem desse diagnóstico. Alguns desses sintomas estão altamente associados ao risco de desenvolver a doença, são eles os déficits olfatórios, os distúrbios do sono e os distúrbios do humor, como a depressão. Outros sintomas não-motores manifestam-se como constipação intestinal, disfunção erétil e urinária, alterações cognitivas, dor, perda de peso e distúrbios do humor, que podem se apresentar como ansiedade, depressão ou ambos.

Outros sintomas 

Os déficits olfatórios ocorrem em mais de 90% dos pacientes, na maioria das vezes apresentando-se com diminuição da sensação de olfato. Os distúrbios do sono são variáveis, porém o que mais se relaciona com o risco de desenvolver a doença é o chamado distúrbio comportamental do sono REM (do inglês, movimentos rápidos dos olhos), caracterizado pela presença de tônus muscular aumentado nesta fase do sono, resultando em movimentações bruscas como socos, chutes e vocalizações. Outros distúrbios do sono comuns em diferentes estágios da doença são a sonolência excessiva diurna e a insônia.

Os aspectos neuropsiquiátricos na doença de Parkinson são extremamente relevantes, pois podem acontecer em qualquer estágio da doença e podem afetar muito a qualidade de vida dos pacientes, da mesma forma que os sintomas motores. Os transtornos de ansiedade estão presentes em até 60% dos casos, e podem se manifestar como transtorno de ansiedade generalizada, ataques de pânico e fobia social. E comumente, mas não sempre, estão acompanhadas de depressão.

As pesquisas relacionadas aos aspectos não motores da doença de Parkinson fornecem subsídios sobre a grande diversidade de sintomas, morbidade e necessidades dos pacientes portadores da doença, colocando-os como determinantes na qualidade de vida desses pacientes e impactando diretamente nos custos, preparação, organização e consequente capacidade dos sistemas de saúde fornecerem medicamentos e atendimento multidisciplinar e adequado a essas demandas, uma vez que com o envelhecimento da população estima-se um aumento dramático da prevalência da Doença de Parkinson nas próximas décadas.

Fonte: Bruna Villela, médica neurologista do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IEC), no Rio de Janeiro, gerenciado pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar.