Saúde

Entenda o que é o IFA, insumo utilizado para fabricação de vacinas

O ingrediente farmacêutico ativo (IFA) contém a informação que faz com que o organismo comece a preparar suas defesas contra um micro-organismo invasor

Bianca Santana Vailant

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/ Estadão

Nesta quinta-feira, o secretário estadual de saúde, Nésio Fernandes, em entrevista ao Espírito Santo no Ar, da TV Vitória/Record TV, afirmou que todas as vacinas em atraso serão regularizadas até a primeira quinzena de junho.

Com a falta de insumos para produzir a Coronavac, muitos capixabas estão com a segunda dose do imunizante atrasada. Nésio reforçou que os atrasos na aplicação do imunizante aconteceram por falta do IFA, que é o insumo utilizado para produzir a vacina.

"Houve uma frustração da produção da Butantan, que depende do insumo vindo da China. Ontem (quarta-feira) o Butantan recebeu o IFA e deve regularizar a Coronavac em junho. A causa principal do atraso foi a distribuição e a falta de produção do Butantan", disse. 

Diariamente vemos informações e notícias sobre a chegada, atraso e produção do ingrediente farmacêutico ativo, o IFA. Mas afinal, o que é esse elemento, considerado o mais importante na produção de uma vacina?

Veja abaixo a explicação do assessor científico sênior de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Akira Homma, e do gerente de Garantia da Qualidade do Instituto Butantan, Arthur Nunes.

O que é o IFA?

- O caso da CoronaVac:

O ingrediente farmacêutico ativo (IFA) é fundamental na formulação de um fármaco porque está nele a substância capaz de produzir o efeito desejado. Nas vacinas, é o IFA que tem a informação que faz com que o organismo comece a preparar suas defesas contra um micro-organismo invasor.

No caso de imunizantes como a CoronaVac, chamados vacinas de vírus inativado, o IFA é o ingrediente que contém o corpo do micro-organismo "morto", incapaz de se replicar e provocar uma infecção. 

Ao receber a vacina, o corpo da pessoa vacinada passa a conhecer a estrutura do coronavírus e produz defesas específicas contra suas formas de ataque.

No caso da CoronaVac, o IFA é produzido no laboratório chinês Sinovac, desenvolvedor da vacina e parceiro do Instituto Butantan. 

- Como funciona nas outras vacinas:

Outras vacinas usam plataformas tecnológicas diferentes, como as vacinas genéticas da Pfizer/Biontech e da Moderna, que usam o RNA mensageiro do coronavírus para que o corpo humano conheça a proteína S, chamada de spike. Nesse caso, o IFA contém tal RNA, que é produzido sinteticamente.

Já vacinas como a Oxford/AstraZeneca e Sputnik V têm a tecnologia de vetor viral, em que um vírus inofensivo é modificado para transportar informações do coronavírus. 

A vacina de Oxford usa adenovírus de chimpanzé como vetor de informações da proteína spike, que é inserida dentro do antígeno. O IFA, então, é um concentrado viral que contém esses vírus modificados geneticamente.

Apesar de a AstraZeneca e a Universidade de Oxford serem instituições europeias, o IFA da vacina de Oxford também é produzido na China, pelo laboratório Wuxi Biologics, contratado pela AstraZeneca

Como é produzido o IFA?

Para produzir o IFA, é preciso que uma cepa selecionada do coronavírus (no caso da CoronaVac) ou do adenovírus de chimpanzé (no caso da vacina de Oxford) se multiplique em laboratório até que haja uma quantidade grande o suficiente para a produção de um lote de vacinas. Os vírus precisam de células vivas para infectar e se multiplicar, e esse processo ocorre em ambiente controlado, em biorreatores.

"Essa massa de vírus é purificada, e é feito um concentrado viral. É esse concentrado viral que nós chamamos de IFA", descreve Akira Homma, de Bio-Manguinhos, que explica que a purificação é necessária para retirar todos os detritos de células que foram destruídas no processo de multiplicação dos vírus em laboratório.

Arthur Nunes, do Butantan, acrescenta que a produção do IFA da CoronaVac inclui o processo de inativação, em que substâncias destroem a capacidade do vírus de se replicar: "inativar, basicamente, é matar esse vírus, porém, sem perder a capacidade dele de promover a produção de anticorpos".

Com o concentrado viral produzido, é preciso transportá-lo em condições adequadas para que não sofra nenhuma alteração antes de a formulação da vacina ser concluída. 

O IFA da vacina de Oxford precisa viajar refrigerado a -55 graus Celsius, enquanto o da CoronaVac pode ser transportado na temperatura de uma geladeira comum.

O IFA chegou, e agora?

Por serem importados, esses lotes precisam passar por trâmites burocráticos tanto no país que os exportou quanto no Brasil. O IFA da vacina de Oxford, por exemplo, estava pronto para embarque no mês passado, mas só recebeu a licença de exportação de autoridades da China nesta semana. 

Ao chegar ao Brasil, é preciso comprovar que as condições de armazenamento foram adequadas e que o produto está dentro dos parâmetros para que se inicie a formulação. É nesse momento que Bio-Manguinhos e Butantan assumem a produção. 

Os processos de formulação e envase (separação em frascos) ocorrem no Brasil e também envolvem estruturas industriais complexas e de alta tecnologia, que precisam garantir precisão e evitar qualquer tipo de contaminação do IFA ao ser misturado a outros ingredientes e transferido para os vidros de onde as seringas retirarão as doses. 

"Há no mundo, hoje, uma grande dificuldade para os laboratórios formularem, envasarem e desenvolverem as etapas finais de produção", diz Akira Homma, que explica que o próprio laboratório que produziu o IFA da vacina de Oxford não teria condições de concluir o processo e fabricar a vacina a partir dele.

Na formulação, o concentrado viral da vacina de Oxford é misturado a outras substâncias que têm funções como garantir sua estabilização em temperaturas compatíveis com a rede de frio dos postos de vacinação, de 2 a 8 graus. 

A maior parte dos outros componentes da vacina de Oxford também é importada, segundo Homma, devido aos elevados padrões de qualidade exigidos. Já o IFA da CoronaVac não tem a adição de outros insumos e passa por um processo de homogeneização para que seja preparado para a distribuição nos frascos.

Apesar da complexidade de todo esse processo, a maior parte do tempo que os laboratórios demoram para produzir as vacinas a partir do IFA é gasta com controle de qualidade. Nunes explica que, no Butantan, a formulação e o envase demoram apenas um dia, mas os testes necessários para garantir a segurança e a eficácia da vacina levam mais de duas semanas.

"Isso faz parte da cadeia de produção. Sem os testes, a gente não consegue fazer a liberação dessa vacina", afirma ele, que destaca que o teste de esterilidade é o mais demorado, exigindo uma metodologia que demora mais de 14 dias para ser concluída. "Para qualquer medicamento injetável, uma das características que ele tem que ter é ser comprovadamente estéril, sem nenhuma carga microbiana".

*Com informações da Agência Brasil