Saúde

Novidade preserva fertilidade de mulheres com câncer

Congelamento de tecido ovariano permite adiar a gestação

Foto: Divulgação

O câncer pode ser um pesadelo para mulheres que desejam ter filhos. Isso porque o tratamento da doença compromete a fertilidade feminina. A ida regular ao ginecologista ajuda no diagnóstico inicial da doença e, assim, garante que a fertilidade não seja tão afetada. 

Em casos mais graves, a retirada de parte ou de toda a estrutura reprodutiva pode ser necessária para preservar a saúde da paciente. No entanto, existem alternativas para preservar a fertilidade antes de um tratamento oncológico. Uma novidade na medicina reprodutiva é o congelamento do tecido ovariano.

A criopreservação de tecido ovariano consiste na retirada de fragmentos de tecido do ovário, normalmente por laparoscopia. Após o processo, eles são encaminhados ao laboratório para serem congelados. Existem duas maneiras de realizar a técnica, como explica a embriologista Rafaela Aguiar. 

"Temos o congelamento lento e o por meio de vitrificação. O primeiro é o mais utilizado e o tecido ovariano é submetido a um crioprotetor, substância que vai proteger o tecido durante o congelamento. Como o próprio nome diz, durante o processo, a temperatura vai caindo lentamente até alcançar o padrão necessário.

Já na vitrificação o tecido ovariano é submetido a uma maior concentração de crioprotetor e a queda de temperatura é muito rápida. Em ambas as técnicas o tecido ovariano é armazenado em nitrogênio líquido, com temperaturas abaixo de -186ºC. O tecido fica nesta situação até que a mulher decida que está pronta para ter filhos, quando é descongelado e reimplantado novamente", explica.

Em quais casos este procedimento é indicado? 

Embriologista: A criopreservação do tecido ovariano é indicada, principalmente, para pacientes que precisam começar um tratamento quimioterápico com urgência e não podem esperar a indução da ovulação para o congelamento de óvulos. O período de internação para realizar o congelamento do tecido ovariano é mais curto. Além disso, meninas antes da puberdade que têm um alto risco de falha ovariana precoce e pacientes que não podem ser estimuladas com hormônios também podem fazer o procedimento.

Existe alguma diferença entre os resultados de gravidez após o congelamento por meio de vitrificação e de congelamento lento?

Embriologista: Hoje em dia, apesar da gente não ter um consenso mundial sobre qual é a melhor técnica para tecido ovariano, a maioria dos centros optam por realizar o congelamento lento porque é o procedimento que reportou mais nascidos vivos até o momento. São 130 nascidos por essa técnica e apenas 2 por meio de vitrificação.

Já existem casos de crianças que nasceram depois da mãe preservar tecido ovariano quando jovem?

Embriologista: Sim, existe. Foi publicado um estudo em 2017 de uma criança de 9 anos que preservou o tecido ovariano. 14 anos após a criopreservação ela fez o reimplante e engravidou por meio de uma Fertilização in Vitro (FIV). É importante destacar que a criopreservação do tecido ovariano permite que a paciente engravide após o transplante de maneira natural. 50% das pacientes que têm uma gestação após o transplante engravidam naturalmente e as outras 50% precisam do auxílio da FIV.

Qual é a relação da técnica com a postergação da menopausa?

Embriologista: O médico pode propor para pacientes jovens, entre 20 e 30 anos, que retirem 1/3 de um dos ovários e congelem esse tecido. Futuramente, quando atingirem a menopausa, elas podem reimplantar o que foi retirado para que a produção hormonal seja restabelecida e volte a ovular após a menopausa. No entanto, a técnica ainda é considerada experimental e precisa de uma validação científica.

Em quanto tempo o ovário volta a funcionar após reimplantar o tecido?

Embriologista: Quando a gente faz um implante é preciso voltar a perceber a função hormonal da paciente. Geralmente, após quatro ou cinco meses o ovário volta a produzir hormônios. Isso é observado com a queda do hormônio FSH, verificando que a função ovariana está restabelecida. Ela geralmente se mantém em torno de cinco a seis anos. Isso depende também do período em que o ovário foi criopreservado. 95% das pacientes que fizeram o transplante no mundo tiveram a parte hormonal restabelecida.

Por quanto tempo o tecido ovariano pode ficar congelado?

Embriologista: Os óvulos e tecidos ovarianos podem ficar congelados por tempo indeterminado. Temos relatos de óvulos que ficaram mais de 20 anos congelados e foram descongelados sem nenhum problema.

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