A sensibilidade ao ruído e os impactos da exposição a sons altos

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Dr. Giulliano Luchi

A sensibilidade ao ruído e os impactos da exposição a sons altos são situações muitas vezes pouco discutidas em nossa sociedade barulhenta.

Desde o trânsito caótico das grandes cidades até os altos volumes das músicas em festas e shows, ou no fone de ouvido, a caminha do trabalho ou nas atividades de lazer, o ruído excessivo tem se tornado uma constante no cotidiano de muitas pessoas.

Essa situação, embora muitas vezes tratada como um mero desconforto, pode ter sérias implicações para a saúde física e mental.

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O ouvido humano é uma estrutura delicada, composta por três partes principais: a orelha externa, orelha média e a orelha interna. Sons altos podem causar danos principalmente nas células ciliadas da orelha interna, responsáveis pela transdução do som em gradientes elétricos, que se propagam pelos neurônios da via auditiva e chegam ao cérebro, onde são interpretados como sensação auditiva. Essas células são particularmente vulneráveis e, uma vez danificadas, não se regeneram.

A exposição prolongada a níveis elevados de som pode levar a uma condição conhecida como perda auditiva induzida por ruído (PAIR). Esta condição é cumulativa, ou seja, os efeitos danosos se acumulam ao longo do tempo, levando a uma diminuição gradual da audição.

Além da perda auditiva, a exposição a sons altos pode provocar zumbidos no ouvido, que pode ser extremamente debilitante.

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Além dos danos auditivos, a exposição a sons altos tem sido associada a uma série de outros problemas de saúde. O ruído excessivo pode aumentar os níveis de estresse, elevando a produção de cortisol, o hormônio do estresse, no corpo. Este aumento no estresse pode, por sua vez, levar a problemas cardiovasculares, como hipertensão e aumento do risco de ataques cardíacos e derrames.

Do ponto de vista psicológico, o ruído constante pode interferir no sono, levando à insônia ou a um sono de má qualidade, prejudicando a qualidade de vida do indivíduo, as relações interpessoais, capacidade de aprendizado e rendimento no trabalho e até o humor.

A falta de um sono reparador também pode levar a várias repercussões na saúde mental, contribuindo para o desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão. Estudos têm mostrado que indivíduos que vivem em áreas com altos níveis de poluição sonora apresentam maiores índices de transtornos de humor e uma menor qualidade de vida geral.

O ruído ambiental, frequentemente causado pelo trânsito, construções, e atividades industriais, é uma das principais fontes de incômodo para muitas pessoas. Em áreas urbanas densamente povoadas, o som do tráfego pode ultrapassar facilmente os 85 decibéis, limiar acima do qual a exposição prolongada pode causar danos auditivos permanentes.

Além dos impactos diretos na saúde, o ruído ambiental afeta a qualidade de vida ao interferir nas atividades diárias. Conversas, tanto em ambientes domésticos quanto em locais de trabalho, podem ser prejudicadas, levando a mal-entendidos e aumentando a frustração. O ruído também pode interferir no desempenho escolar das crianças, dificultando a concentração e a compreensão durante as aulas.

É essencial adotar estratégias para mitigar os efeitos do ruído em ambientes urbanos. Uma alternativa é a implementação de políticas públicas que regulamentem os níveis de ruído em áreas residenciais e próximas a escolas e hospitais. Isso pode incluir a criação de zonas de silêncio, a instalação de barreiras acústicas e a promoção do uso de materiais de construção que absorvam som.

No nível individual, algumas medidas podem ser tomadas para proteger a audição. O uso de protetores auriculares em ambientes barulhentos, como shows ou locais de trabalho ruidosos, é uma forma eficaz de reduzir a exposição ao som. Nas atividades de lazer, o volume do som nos fones de ouvido devem ser de baixa intensidade e com intervalos de uso.

Além disso, é importante promover a conscientização sobre os riscos do ruído. Campanhas educativas podem informar a população sobre os níveis seguros de exposição ao som e orientar situações que protejam a audição, como baixar o volume de dispositivos de áudio e fazer pausas regulares em ambientes ruidosos.

A discussão dos efeitos do ruído é crucial não apenas para a proteção individual, mas também para a ação coletiva. Uma sociedade consciente dos perigos do som excessivo é mais propensa a apoiar políticas que promovam um ambiente sonoro mais saudável.

Isso inclui o planejamento urbano que considere a acústica, a promoção de meios de transporte menos ruidosos, como bicicletas e veículos elétricos, e a preservação de espaços verdes, que podem atuar como barreiras naturais ao som.

Somente através de uma abordagem multisetorial será possível mitigar os impactos negativos do ruído e promover um ambiente auditivo saudável para todos. A audição é um sentido vital, e proteger nossa capacidade de ouvir é essencial para manter a qualidade de vida e o bem-estar geral da população.

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Dr. Giulliano Luchi

Médico. Mestre e Doutor em Otorrinolaringologia. Professor de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Título de especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Membro internacional da Academia Americana de Otorrinolaringologia. MBA em gestão de negócios em Saúde. Formação em Mentoring, Coaching e Advice. @otoclinica_giulliano_luchi