Novembro azul: como o exame do PSA pode contribuir para avaliar a saúde da próstata

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Dr. Pedro Serrão Morales

O mês de novembro marca o período do ano utilizado – por órgãos públicos, privados e sociedade civil organizada – para a conscientização, prevenção e combate ao câncer de próstata, que é a segunda maior causa de neoplasias entre os homens (a primeira é o câncer de pulmão) e a quinta na população geral.

O PSA

Nesse contexto, um exame laboratorial é sempre lembrado: o antígeno prostático específico, do inglês Prostate-Specific Antigen ou, popular e simplesmente, PSA. Ele é uma substância produzida quase que exclusivamente pela próstata, mas na prática aceita-se como sendo de síntese prostática privativa (órgão-específica).

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Sua principal função biológica é a de tornar o sêmen mais fluído, favorecendo assim a fecundação (encontro do espermatozoide com o óvulo), dando início à formação do embrião e, por conseguinte, facilitando a reprodução humana.

O PSA é considerado um marcador tumoral (conceitualmente uma substância que, quando encontrada em elevados níveis, pode estar correlacionada a algum processo neoplásico), utilizado no contexto do adenocarcinoma de próstata, sempre de maneira complementar aos dados clínicos, toque retal e exames de imagem.

Ele talvez seja o biomarcador oncológico mais emblemático, largamente difundido e de grande sucesso, sendo amplamente utilizado na avaliação do câncer de próstata, desde a década de 90, à nível mundial. Nessa circunstância, ele pode auxiliar no:

• Rastreio/triagem;
• Diagnóstico diferencial;
• Monitoramento do tratamento (clínico/cirúrgico);
• Prognóstico;
• Avaliação de recidiva.

LIMITAÇÕES

Todavia, seu uso possui algumas limitações importantes e que devem ser destacadas. Seus níveis podem ser influenciados de acordo com a idade, volume prostático e raça do paciente.

O PSA também possui uma baixa especificidade (capacidade em detectar os verdadeiros não doentes entre os não doentes) em concentrações intermediárias de PSA total, condicionando o sobrediagnóstico e a um número excessivo (e muitas vezes desnecessário) de biópsias.

Ele também pode se elevar, transitoriamente, em outras condições não neoplásicas (prostáticas e não prostáticas) como, por exemplo: infecção do trato urinário (ITU), prática de ciclismo/hipismo/motociclismo, trauma perineal, retenção urinária aguda, relação sexual, prostatite, toque retal, biópsia prostática, ressecção transuretral da próstata (RTU).

RELAÇÃO PSA LIVRE/TOTAL

A fim de mitigar algumas dessas limitações, existem certas estratégias, relacionadas à dinâmica da apresentação do PSA no sangue, que podem ser usadas na prática.

A principal e mais corriqueira é a utilização da relação PSA Livre/PSA Total (PSAL/T), que confere mais especificidade no diagnóstico de câncer de próstata, auxiliando na sua diferenciação com a hiperplasia prostática benigna (HPB).

A maior parte do PSA circula ligado a proteínas plasmáticas, sendo chamado de PSA conjugado. Apenas em uma pequena fração do PSA é encontrada no sangue em sua forma livre (não conjugada), o PSA Livre. O resultado da soma do PSA conjugado com o PSA Livre é o que chamamos de PSA Total.

De maneira geral, na hiperplasia prostática benigna (HPB) ocorre um aumento de maior proporção da fração livre (a próstata hiperplásica tende a liberar mais a fração livre na corrente sanguínea), elevando a razão PSAL/T.

Por outro lado, em pacientes com adenocarcinoma de próstata, a proporção do PSA Total é maior (a produção do PSA Livre é menor em comparação com a do PSA Total no câncer), diminuindo assim a relação PSAL/T e, dessa forma, auxiliando no diagnóstico diferencial entre essas patologias.

MENSAGEM FINAL

Assim como em todo processo neoplásico, no adenocarcinoma de próstata um diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais para um bom desfecho clínico e chance de cura, reduzindo substancialmente a morbimortalidade dos pacientes.

Nesse sentido, a determinação laboratorial do PSA, quando bem indicada e interpretada, pode ser uma grande aliada na avaliação e diagnóstico diferencial de indivíduos com suspeita de câncer de próstata, em conjunto e de maneira complementar à história clínica, toque retal e resultado de outros exames.

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Dr. Pedro Serrão Morales

Médico Patologista Clínico; ​ Residência Médica em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial pela Universidade Federal Fluminense (UFF);​ Membro titular da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML); ​ Responsável Técnico do Laboratório Morales (Grupo Tommasi); ​ Médico Patologista Clínico do Laboratório Central do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/UFF); ​ Editor de Medicina Laboratorial da Afya (Afya Whitebook/Portal Afya); ​ Médico do corpo clínico do Instituto Estadual de Doenças Tórax Ary Parreiras (IETAP SES-RJ).