As doenças da velha infância: você se lembra?
Nos anos 2000, o Brasil conheceu o grupo Tribalistas, formado por Carlinhos Brown, Marisa Monte e Arnaldo Antunes. Como sou um amante inveterado da música popular brasileira, muitas das canções do álbum Tribalistas (2002) marcaram aquele momento, sendo presença constante em festas e reuniões acadêmicas.
Enquanto ouvia ‘Velha infância’ em uma playlist até então esquecida, em um desses dias soltos, como tantos outros no nosso calendário, a palavra ‘infância’, entoada graciosamente por Marisa Monte, me fez parar por um instante e lembrar de uma aula recente de ciências com meus alunos. Durante essa aula, discutíamos um documentário de Dráuzio Varella — médico, escritor e grande comunicador da saúde — sobre doenças que, no passado, faziam parte do universo infantil, como sarampo, varíola, caxumba, poliomielite e varicela.”
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As doenças que, antigamente, chamávamos de “doenças da infância” agora parecem pertencer a uma época muito distante. No passado, eram vistas como inevitáveis, ainda que não menos trágicas. Segundo o documentário, eram comuns histórias de familiares que haviam perdido filhos para essas doenças. Para essas famílias, o que hoje nos parece distante e controlável era, na época, uma realidade triste e constante.
A varíola, por exemplo, foi uma doença fatal que assolou a humanidade durante séculos, deixando um rastro de dor e perda, em uma época em que não havia acesso a vacinas ou a tratamentos eficazes. As crianças, que muitas vezes não resistiam, eram os filhos, os sonhos e as esperanças das famílias, que se viam impotentes diante dessa fatalidade.
Entre as décadas de 1940 e 1960, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a cada dia cerca de mil novas crianças no mundo eram acometidas pela poliomielite, uma tragédia global em um período em que a vacinação contra a doença ainda não existia de modo efetivo e constante. Em 1980, o Brasil iniciou sua campanha nacional de vacinação contra a poliomielite, culminando na erradicação da doença em 1989 — um marco importante para a saúde pública no país. A vacinação em massa foi uma revolução, e até hoje celebramos essa vitória que salvou milhões de vidas.
Hoje, graças às vacinas e aos tratamentos modernos, doenças que antes eram comuns e perigosas, como varíola e poliomielite, foram controladas e, em alguns casos, erradicadas. Essa evolução na medicina não só representa um grande avanço, mas também a chance de milhares de crianças viverem sem o temor de doenças que, até poucos anos atrás, eram uma constante nas famílias.
Como pai, penso não só no aspecto físico, mas também no emocional das crianças, preparando-as para os muitos desafios da vida. Hoje, ao celebrarmos o avanço da medicina e o fim de algumas dessas tragédias, podemos olhar para os primeiros anos de vida com esperança, buscando um mundo com mais equilíbrio para os pequenos crescerem e se desenvolverem com muito aprendizado e, acima de tudo, felicidade. Como sociedade, devemos equilibrar o cuidado com a saúde física com o apoio ao desenvolvimento emocional e psicológico das novas gerações.
A voz de Marisa Monte nos transporta para outros lugares, evocando a velha infância, assim como a de Belchior nos apresenta a velha roupa colorida. A infância, com sua leveza e beleza inquietantes, é uma fase que nos chama ao descanso da mente e à descoberta do mundo. A história, com suas cores e dores, suas canções e tragédias, seus choros e gargalhadas, nos legou resiliência, força e luz, para que possamos guiar as crianças e as infâncias rumo a um mundo mais justo e equilibrado.