Neurologia no dia a dia: descubra alguns sinais que não devem ser ignorados

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Dra. Camila Resende

Você já parou para pensar como o sistema nervoso comanda praticamente tudo no nosso corpo? Ele é como um maestro, orquestrando movimentos, sensações, memória, equilíbrio… E quando algo começa a sair do ritmo, os sinais aparecem.

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Alguns são sutis, outros nem tanto, mas todos podem ser um alerta de que algo não vai bem. Vamos conversar sobre isso?

Como neurologista, estou acostumada a ouvir relatos que começam assim: “Doutora, minha mão ficou fraca do nada” ou “Minha perna está formigando, achei que fosse má circulação”. Muitas vezes, esses pequenos sinais escondem problemas neurológicos importantes. Por isso, quero compartilhar alguns exemplos de sintomas que podem fazer a diferença no diagnóstico precoce.

1. Força muscular: está tudo igual?

Já tentou levantar os dois braços ao mesmo tempo e percebeu que um deles fica mais fraco ou cai mais rápido? Esse movimento simples pode ser um sinal precoce de AVC (acidente vascular cerebral). No AVC, a fraqueza costuma aparecer de forma súbita e afetar apenas um lado do corpo. Mas também pode estar relacionado a doenças musculares, como miopatias, ou até compressão nervosa, como na hérnia de disco.

2. Falar, entender, se expressar

Dificuldade para encontrar palavras, falar de forma enrolada ou entender o que as pessoas dizem pode ser um sinal neurológico sério. No caso do AVC, a área da fala (geralmente no lado esquerdo do cérebro) pode ser afetada. Outras condições, como crises epilépticas focais ou até tumores cerebrais, também podem causar alterações na fala. Não subestime esses sinais, especialmente se surgirem de forma repentina.

3. Pupilas: o que os olhos mostram sobre o cérebro

Sabia que as pupilas podem dar pistas valiosas sobre a saúde do cérebro? Uma maior do que a outra, ou que reage de forma anormal à luz, pode indicar problemas como aneurismas cerebrais, traumatismos cranianos ou lesões compressivas no nervo óptico. Não é preciso equipamento sofisticado para notar: observar mudanças no tamanho das pupilas ao olhar no espelho já pode ajudar.

4. Equilíbrio e tropeços: descuido ou sinal de alerta?

Dificuldade para andar em linha reta, tropeços frequentes ou quedas inexplicáveis podem ser sinais de doenças cerebelares, que afetam o equilíbrio e a coordenação, como a ataxia. Neuropatias periféricas, comuns em pessoas com diabetes, também podem causar instabilidade ao caminhar. Uma dica simples é tentar caminhar com um pé na frente do outro, como em uma corda bamba. Se for difícil, algo pode estar errado.

5. Dormências e formigamentos: o que você sente?

Dormências e formigamentos, principalmente se persistentes ou progressivos, podem estar relacionados a neuropatias, como as causadas por diabetes ou deficiência de vitaminas. Compressão de nervos, como na síndrome do túnel do carpo, também é uma causa comum. Em casos mais graves, esses sintomas podem indicar esclerose múltipla ou lesões na medula espinhal.

6. Tremores e movimentos involuntários: o que eles escondem?

Tremores que aparecem em repouso podem ser um sinal precoce de doença de Parkinson. Já os movimentos involuntários, como espasmos musculares ou tiques, podem estar associados a distúrbios do movimento, como coreia ou distonia. É importante observar em que situação esses movimentos ocorrem e se há outros sintomas associados.

E AGORA, O QUE FAZER?

Percebeu alguma dessas alterações? Não é hora de esperar para ver se melhora sozinho. Algumas doenças neurológicas, como o AVC, precisam de atendimento imediato para evitar sequelas. Outras, como neuropatias ou esclerose múltipla, se beneficiam muito de um diagnóstico precoce.

O corpo dá sinais, e prestar atenção a eles pode fazer toda a diferença. Se algo parece fora do normal, confie na sua intuição e procure um especialista. Afinal, cuidar do sistema nervoso é garantir que o maestro continue regendo bem essa grande orquestra chamada vida!

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Dra. Camila Resende

Médica. Neurologista e Neurofisiologista (Residência médica USP - RP). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica (SBNC). @dracamilaresende