As redes sociais e o Transtorno de Personalidade Narcisista: existe relação?
Espelho, espelho meu, existe no mundo alguém mais bonito do que eu?
Estávamos de férias quando ouvi em uma aula de neurociências que os seres humanos tendem a se acharem bonitos e que uma pesquisa feita nos EUA sobre isso revelou que 70% das pessoas se dão uma nota maior que 7 em uma escala de 0 a 10 quando perguntadas o quão são belas.
Na mesma hora perguntei a todos ao meu redor (estava entre familiares) qual era a nota que eles se davam no quesito “beldade”: “9,5”, logo falou uma das princesas, enquanto a caçula pensava baixinho, “9,2” definiu o primogênito e assim foram as notas sendo reveladas. Rimos ao constatar que a pesquisa estava certíssima! Mas não só a pesquisa.
Brincadeiras à parte, pois esse sentimento é totalmente natural e saudável, existe um transtorno que vem ganhando notoriedade e crescendo nas pessoas fomentadas pelas redes sociais, chamado o Transtorno de Personalidade Narcisista e Histriônica.
Tal transtorno não é tão notório quanto o Transtorno de Personalidade Antissocial, os conhecidos como psicopatas ou o Transtorno de Bipolaridade ou mesmo o Transtorno Depressivo e o Transtorno de Personalidade Obsessivo Compulsivo, mas é igualmente prejudicial e perigoso para a mente doente de quem o sustenta.
Quem são esses narcisistas histriônicos? São os que acham belos, mas estão no autoengano? Lógico que não.
Você conhece alguém que quer em todos os momentos sustentar uma aparecia social irreal porque os benefícios superam os custos? Compram jóias, carros ou viagens sem poder, mas que uma vez compartilhada essa informação e sendo reconhecidas dessa forma já se sentem felizes, mesmo que isso possa trazer algum tipo de sofrimento para a própria família?
Pois é. Para algumas dessas pessoas, o reconhecimento do status é mais importante que qualquer outra coisa. Elas costumam não ter consciência ou responsabilidade nos atos que o levaram àquela situação. Geralmente são arrogantes que blefam apenas para aparentar o que julgam ser interessante e o que mais lhe importa é “parecer ser” ou “parecer ter”.
Esse transtorno ocorre não necessariamente em quem não é ou não tem, mas em quem acha mais importante mostrar e ser reconhecido por aquilo do que exatamente curtir o real sentido de ser ou ter.
Qual é a etiologia dessas pessoas? Para o psicólogo e professor da Universidade PUC – RS, Eduardo Reuwsaat Guimarães, a origem desse transtorno é a solidão.
O professor explica que essas pessoas em algum momento da sua vida se sentiram abandonadas ou sozinhas e como ficaram solitárias aprenderam um modo de terem um reforço social.
Portanto, precisam da aparição, do reconhecimento, da aprovação para se sentirem felizes e isso se torna um ciclo vicioso e perigoso, pois quanto mais manipulam para um reconhecimento de status, mais não são verdadeiros consigo mesmos e mais geram solidão, pois abrem mão de empregos reais, pessoas reais em prol de relacionamentos e trabalhos de fachada.
Mas por que isso? Porque para eles nada mais importa. Pela solidão que aprenderam a sentir, perderam contato com a intimidade como um reforçador.
Geralmente esses indivíduos têm pavor de vulnerabilidade, porque o tempo todo precisam mostrar ser superiores às pessoas que não estão no mesmo grupo. Essas pessoas, do mesmo jeito, podem ter crescido em ambientes familiares opressores, que não podiam errar ou falar.
Essas pessoas colocadas nas redes sociais são bombas atômicas e só vão piorar a competição interna que sentem, chegando a total depressão ao longo prazo.
O Livro The Coddling of the American Mind, de Greg Lukianoff e Jonathan Haidt, relata o quanto pessoas das novas gerações que cresceram fazendo parte das redes sociais, que tem tal transtorno, não mais competem mostrando dinheiro (o que é até mesmo considerado feio), mas competem mostrando valores morais e quem engaja mais comportamento social de uma forma mais diferente e inusitada possível.
Estamos totalmente perdidos? Não. Existe muita ajuda para pessoas que reconhecem tal transtorno e desejam mudar. E uma pitada de amor e muita compaixão podem ser os ingredientes iniciais para adoçar esse amargor.
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