Como anda a Saúde Bucal dos brasileiros?
Essa é a pergunta que o mais recente estudo sobre as condições de saúde bucal da população brasileira com realização pactuada para 2020, mas que teve a execução estendida para 2022 em decorrência da emergência sanitária do coronavírus, busca responder. O 5º levantamento proposto pelo Ministério da Saúde (2021-2022) acontece por meio de parceria com universidades federais e conta com mais de 50 mil pessoas avaliadas em várias regiões do país, incluindo o Espírito Santo. O estudo visa identificar doenças mais prevalentes, como cárie dentária, doenças periodontais, necessidade de próteses dentárias, condições de oclusão, traumatismo dentário e o impacto dessas doenças na qualidade de vida, entre outros aspectos.
No Brasil, a utilização da epidemiologia em saúde bucal tem tido, historicamente, uma atuação pouco expressiva. Enquanto alguns países como a Inglaterra e os países de primeiro mundo detêm bases de dados de prevalência da cárie dentária desde as primeiras décadas do século XX, no Brasil o primeiro levantamento de saúde bucal de base nacional só foi realizado em 1986, pelo Ministério da Saúde. Posteriormente, ocorreram mais três experiências em nível nacional: o levantamento conduzido pelo Ministério da Saúde em associação com entidades da categoria odontológica envolvendo as capitais dos estados brasileiros em 1996, e os Projetos Sorria Brasil (SB) 2003 e 2010, todos seguindo diretrizes padronizadas pela OMS, considerando o índice CPO-D – dentes cariados, perdidos e obturados.
Seus resultados demonstram que o percentual de indivíduos aos 12 anos livres de cárie (CPO-D = 0) era de menos de 5% em 1986, passando para mais de 25% em 1996, chegando a mais de 30% em 2003 e a 43,5% em 2010. Esse declínio no índice CPO-D brasileiro observado ao longo dos anos é atribuído à fluoretação da água de abastecimento público e dos dentifrícios, além de uma extensa reforma no sistema de saúde, que propiciou a promoção de iniciativas de educação em saúde bucal e a provisão de tratamentos preventivos e de restauração dentária para crianças.
A redução da cárie entretanto não se demonstrou uniforme nem homogênea pelo território brasileiro, permanecendo entre os principais agravos que acometem a saúde bucal e que têm sido objeto de estudos epidemiológicos em virtude de sua prevalência e gravidade. Apesar de passível de prevenção, a cárie continua sendo a mais prevalente doença bucal na infância. Seus principais fatores de risco são fatores culturais e socioeconômicos; falta de acesso ao flúor; higiene bucal deficiente e consumo excessivo e frequente de açúcar. Será que tais desigualdades diminuíram ou aumentaram com o tempo? Aguardaremos os resultados do Projeto SB Brasil 2020 na esperança de que os mesmos proporcionem ao Ministério da Saúde e às instituições do SUS informações para o planejamento de políticas e programas de promoção, prevenção e assistência em saúde bucal, nas esferas nacional, estaduais e municipais mais equânimes.