Como o calor pode afetar o seu sistema nervoso?

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Dra. Camila Resende

Estamos na estação mais quente do ano, e você já deve ter sentido os efeitos das altas temperaturas no corpo: cansaço, irritação, sede constante. Mas você sabia que o calor pode impactar diretamente o seu sistema nervoso? Sim, o órgão que comanda tudo no seu corpo, o cérebro, sofre bastante com essas condições extremas.

O cérebro precisa que a temperatura do corpo fique estável para funcionar bem. Quando está muito quente, o corpo começa a suar e dilatar os vasos sanguíneos para tentar dispersar o calor. Até aí, tudo bem. Mas se o calor for muito intenso e esses mecanismos não derem conta, sua temperatura corporal pode subir, e é aí que os problemas começam. Já percebeu que, em dias quentes, é mais difícil se concentrar ou você se sente mais cansado?

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Isso acontece porque o calor pode causar confusão mental, deixando o cérebro “desacelerado” para economizar energia. Além disso, a desidratação e a perda de eletrólitos, que são essenciais para a comunicação entre os nervos, podem provocar fraqueza e câimbras. Em casos graves, o calor pode causar inchaço no cérebro, o que gera tontura, náuseas e até desmaios.

Se você vive com alguma condição neurológica, o calor pode piorar os sintomas. Por exemplo, na esclerose múltipla, as altas temperaturas intensificam sintomas como fraqueza muscular e dificuldade de visão, o que é conhecido como sinal de Uhthoff.

Para quem sofre de enxaqueca, o calor é um gatilho poderoso para crises, especialmente quando combinado com a desidratação. Pessoas com epilepsia também podem enfrentar um maior risco de crises convulsivas devido à falta de hidratação e ao cansaço. Já o calor extremo pode desestabilizar a circulação e aumentar o risco de acidente vascular cerebral (AVC), especialmente em idosos e pessoas com hipertensão.

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A boa notícia é que, com alguns cuidados simples, você pode evitar esses problemas e proteger o seu sistema nervoso. Beber bastante água, mesmo sem sentir sede, é essencial para manter o corpo hidratado ao longo do dia. Evitar sair nos horários mais quentes, entre 10h e 16h, também ajuda a reduzir a exposição ao calor excessivo. Usar roupas leves, feitas de tecidos claros e soltos, contribui para a regulação da temperatura corporal.

Além disso, fique atento aos sinais do corpo, especialmente se você ou alguém próximo tem uma condição neurológica. Cansaço extremo, tontura ou confusão mental são alertas importantes de que é hora de procurar ajuda.

E aí, como você está se protegendo neste verão? O calor não afeta apenas o conforto do dia a dia, mas também coloca à prova o funcionamento do seu cérebro. Manter-se hidratado, evitar exposição exagerada ao sol e prestar atenção aos sinais do seu corpo são atitudes simples que podem fazer toda a diferença. Lembre-se: cuidar do cérebro é cuidar de você. Ele é o comandante das suas decisões, emoções e bem-estar – e merece toda a sua atenção, mesmo (e principalmente) nos dias mais quentes.

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Dra. Camila Resende

Médica. Neurologista e Neurofisiologista (Residência médica USP - RP). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica (SBNC). @dracamilaresende