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O abismo de cada um: análise sobre o filme "No coração do mundo"
O filme revela que chegar ao coração do mundo é abissal. Alcançar o abismo do coração, o ponto exato de tremor diante da existência e da diferença
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O filme revela que chegar ao coração do mundo é abissal. Alcançar o abismo do coração, o ponto exato de tremor diante da existência e da diferença
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Revelando muito da loucura e devastação constitutivas da maternidade e, também, da ambiguidade da relação entre mulheres que acontece pela via da identificação, “Instinto Materno” descortina uma grande complexidade de assuntos, fazendo lembrar Elisabeth Badinter, filósofa francesa que ensina sobre o mito do amor materno
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Não se trata de um filme dilacerante e nem se vale de apelos catárticos. “Dias perfeitos” é enxuto, cheio de interditos e entrecortado por pequenas belezas cotidianas, que traz o fino diálogo entre cinema e psicanálise, e mostra uma maneira outra de se movimentar no mundo, uma espécie de contenção que deposita em cada gesto um sentido próximo ao sublime, uma forma de capturar o silêncio das coisas a partir de filigranas. Essa pura alteridade, um jeito de fazer-se sujeito de sua história, o abismo geracional, dentre outras sutilezas, parecem render homenagem ao cinema de Yasujiro Ozu.
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Em “Anatomia de uma queda”, de Justine Triet, somos confrontados com uma atordoante história de amor. O filme nos inquieta por ser excessivamente real, sem pirotecnias ou excessos. O que impacta é justamente a presença de algo fundante em qualquer relação de amor: o ressentimento. Há a marca de uma história que atravessa os anos com suas dores, alegrias e traições. E há amor – com tudo que o amor abriga de horror. O filme descortina essa dimensão terrivel que se infiltra no cotidiano de forma subreptícia, revelando que em toda parceria amorosa e sintomática há sempre algo também daquilo que Jacques Lacan chamou de “amódio”. Parte do filme acontece em um tribunal, mas não se trata de grandes mistérios e reviravoltas: o grande enigma é mesmo a escrita de uma vida. Ali, como acontece na vida, não há separação estanque e fixa do que usualmente se nomeia realidade ou ficção. Há camadas diversas de questões: a maternidade, a paternidade, a queda como abalo imaginário da paixão frente ao insuportável do cotidiano, as ambiguidades que estão em jogo no amor, a raiva. Não há propriamente vítima e algoz e o que há de mais preciso no filme encontra-se encarnado na opacidade da deficiência visual do filho, com seus olhos turvos e sua sensibilidade. Mais do que revelar um crime, ”Anatomia de uma queda” é um filme que não oferece concessões ao que se escreve de uma história. A queda é também a surpresa que revira qualquer certeza e nos lembra de que, quando estamos imantados por aquilo que nomeamos “amor”, guardamos aí também algo de nossos delírios e fantasias fundamentais.