Com mais de 100 anos de história, o samba é um dos gêneros musicais mais populares entre os brasileiros.
Não à toa, o país rico em diversidade cultural é conhecido internacionalmente pelo som dos pandeiros, cuícas e tamborim, que se destacam nas baterias de escolas de samba durante o carnaval e nas rodas de samba.
A partir de 2024, os instrumentos musicais passam a ser declarados como parte das manifestações culturais do país. Na lista estão ainda o surdo, o rebolo, a frigideira, a timba e o repique de mão. A lei que concede o título foi sancionada em setembro.
O reconhecimento da relevância do samba no Brasil não para por aí. O gênero e todas as suas variações tem até uma data especial no calendário. O Dia Nacional do Samba é celebrado nesta segunda-feira, 2 de dezembro.
Além da relevância cultural, o samba representa para muitas famílias renda no fim do mês. As escolas de samba do Carnaval de Vitória, por exemplo, geraram para a folia de 2024 cerca de seis mil vagas de emprego diretos ou indiretos.
6 MIL EMPREGOS
Os desfiles movimentaram cerca de R$ 30 milhões na economia capixaba. No país, foram cerca de R$ 9 bilhões, segundo estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O reflexo maior esteve no setor de turismo e hotelaria.
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Fora do período da folia, as agremiações aquecem diversos setores ao longo do ano, seja na compra de tecidos para fantasias, ferragens e equipamentos para construção de carros alegóricos ou outros.
“A escola de samba tem um papel importantíssimo em fomentar a economia local. Os restaurantes da região que fornecem as marmitas, o material de construção e armarinho que trazem os materiais crescem quando a gente cresce”, destacou o presidente da Independente de Boa Vista e vice-presidente da Liga das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesge), Emerson Xumbrega.
Além das agremiações, bares, restaurantes, quiosques das orlas das cidades capixabas e casas de show também geram renda com atrações musicais de samba nos estabelecimentos.
QUANDO SURGE E COMO O SAMBA CHEGA AO ES?
Estilo musical cheio de gingado e melodia, o samba encanta os brasileiros há mais de um século. Não há, no entanto, um consenso sobre quem seja o criador e quando tenha sido efetivamente feita a primeira melodia.
Historiadores têm como marco para a criação do samba a gravação realizada em 1916 da música “Pelo Telefone“, de Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga. A canção é considerada o primeiro samba brasileiro, por substituir o maxixe.
Aos poucos, o gênero ligado ao povo negro passou por um processo de embranquecimento e se tornou uma expressão urbana e moderna.
O samba começou a ser tocado nas rádios e se espalhou pelos bairros da zona sul carioca. Mais tarde, em meados do século XX, Dorival Caymmi e João Gilberto deram uma nuance sofisticada para o samba.
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O estilo desembarcou no Espírito Santo ainda na primeira metade do século XX com a chegada de retirantes, mas ganhou força mais adiante na linha cronológica, a partir da década de 1950. Foi nesse período que ocorreu a criação das primeiras escolas de samba no Estado. Antes, a folia do carnaval ocorria com os grupos de congo e de batucadas.
“Nós tínhamos as batucadas. Elas não tocavam samba, era uma coisa mais voltada para as marchinhas. Ocorreu uma desavença política na época e o Rominho da Fonte Grande, uma pessoa importante na região que tinha servido o Exército no Rio de Janeiro e teve contato com as escolas de samba lá, traz para cá uma nova instituição de carnaval, que inicialmente vai ser chamada apenas ‘escola de samba'”, explicou o historiador Marcus Vinicius Sant’Ana.
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Futuramente, ela foi batizada de Unidos da Piedade. A agremiação, que possui o maior número de títulos no Carnaval de Vitória — 14, ao todo —, completa 70 anos em janeiro. A região onde está a escola é considerada até hoje o palco central da boemia capixaba. É lá que está, por exemplo, o Bar da Zilda, um dos mais tradicionais do Estado quando se fala em samba.
“Dentro das comunidades, as escolas de samba e todo o movimento gerado pelo samba são de extrema importância. Muitas vezes, esses movimentos fazem parte das poucas oportunidades de entretenimento, sociabilidade e de salvaguarda da memória daquele território a que essas pessoas têm acesso”, frisou o presidente da Unidos da Piedade, Jocelino Júnior.
O modo popular se alastrou e foram surgindo outras agremiações. Hoje, as escolas de samba exercem um papel na formação cultural e social de suas comunidades.
Do mesmo modo, o samba cresceu. Atualmente, mais de dez subgêneros são reconhecidos por músicos e pesquisadores da área. Conheça abaixo alguns deles:
CONHEÇA AS VARIAÇÕES DO SAMBASAMBA-DE-PARTIDO-ALTO: É um samba de origem pobre, que tenta demonstrar a realidade de regiões carentes. Seus principais compositores são Moreira da Silva, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila. SAMBA-PAGODE: Um dos ritmos dentro do samba que mais fazem sucesso, surgiu no Rio de Janeiro nos anos 1970, com letras românticas e ritmo repetitivo, tem como principais representantes grupos como: Fundo de Quintal, Raça Negra, Só Pra Contrariar, entre outros. SAMBA-CANÇÃO: Com origem na década de 1920 tem característica de ritmo lento e letras românticas. SAMBA-CARNAVALESCO: São as famosas marchinhas que embalavam os carnavais antigos e bailes típicos. SAMBA-EXALTAÇÃO: Esse tipo de samba trazia um saudosismo com letras que mostravam as maravilhas brasileiras, com acompanhamento de orquestra. SAMBA-DE-BREQUE: Tipo de samba que tem interrupções para comentários no meio da música, com temáticas críticas ou humorísticas. SAMBA DE GAFIEIRA: Com origem nos anos 1940, tem ritmo rápido e forte com acompanhamento, muito comum em danças de salão. SAMBALANÇO OU SAMBA ROCK: Com influência do jazz, os ritmos surgiram entre as décadas de 1950 e 1960 e embalaram boates em São Paulo e Rio de Janeiro. Têm como principais representantes Jorge Ben Jor, Wilson Simonal e mais recentemente Seu Jorge. SAMBA PRAIANO: A Academia de Samba Praiana foi criada em 10 de março de 1960, por um grupo de rapazes, oriundos das cidades de Pelotas, Rio Grande e também Porto Alegre. SAMBA-DE-MORRO: É um sub-gênero musical do samba, criado e difundido na década de 1930, na cidade do Rio de Janeiro, por compositores que frequentavam as rodas de samba da Turma do Estácio. De ritmo vivo, o samba de morro é um estilo autenticamente popular, que costuma ser acompanhado por um pandeiro, um tamborim, uma cuíca e um surdo. Suas letras em geral tratam de temas diversos como malandragem, mulheres e o cotidiano nos morros e favelas cariocas. |
A CULTURA DO SAMBA PRECISA DE VISIBILIDADE
Quem convive diariamente com o samba e os seus desafios afirma que apesar do reconhecimento feito até aqui, ainda faltam oportunidades e apoio.
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Vinicius Vasconcelos, jornalista dedicado à cobertura do Carnaval de Vitória, lembra que boa parte da sociedade e da mídia não conhecem e, consequentemente, não valorizam os sambistas capixabas e a cultura do samba.
“Precisamos enxergar a cultura como ela é e a potência que o samba tem para as comunidades. Para as escolas de samba e para o sambista, não existe carnaval só em fevereiro e março. O desfile é o ápice, é o momento mais importante do ciclo, mas conhecer todo o processo cultural também é importante. Nós, como jornalistas e meios de levar a informação à população, precisamos evidenciar esse rico processo cultural e deixar de buscar entender apenas na beira da passarela, em janeiro ou fevereiro”, pontuou.
A garantia de espaços nos veículos de comunicação e o reconhecimento desse grupo social é, na opinião de especialistas, uma forma de manter viva a memória e a identidade da cultura do samba e do povo capixaba.
“O sambista não é sambista só quando ouve samba ou quando está ensaiando. O samba dita o modo como as pessoas se vestem, com quem convivem, o que elas comem e como elas se interpretam no mundo. Quando a gente pensa em comunidades periféricas, pertencer a algo como uma escola de samba ou movimento cultural é ter uma oportunidade que a sociedade e o Estado por muitas vezes não dá”
Marcus Vinicius Sant’Ana, historiador
FOLHA VITÓRIA AMPLIA COBERTURA DE CARNAVAL PARA 2025
Fiel ao compromisso de fazer um jornalismo plural, em colaborar com o desenvolvimento social do Espírito Santo e em levar entretenimento aos capixabas, o Folha Vitória amplia a cobertura do Carnaval de Vitória.
Além dos ensaios técnicos das agremiações dos grupos de acesso e especial, da prestação de serviço e da cobertura dos desfiles das escolas de samba que já são realizadas, a partir de agora o jornal online da Rede Vitória traz também os bastidores da folia.
Você que não conhece como é o trabalho dos sambistas capixabas para levar um desfile para o Sambão do Povo, em Vitória, poderá acompanhar já a partir desta terça-feira, 3 de dezembro, o que acontece nas quadras e barracões das agremiações capixabas, enquanto elas preparam o que irão apresentar em 21, 22 e 23 de fevereiro.
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Nesta semana, os leitores e seguidores do jornal vão conhecer os mestres que comandam as baterias das escolas e conferir um “spoiler” do que as sete agremiações do grupo especial têm preparado para o Carnaval de Vitória 2025.
A ampliação da cobertura realizada pelo Folha Vitória, no entanto, começou bem antes. Desde abril, a equipe do jornal tem publicado reportagens sobre o trabalho das escolas.
Na página especial de Carnaval, você já pode conferir conteúdos sobre os enredos, sambas-enredos definidos em concursos ou criados por encomenda, o calendário das feijoadas, novidades para o próximo ano e muito mais.
Para a chefe de redação do Folha Vitória, Daniella Zanotti, o espaço aberto é uma forma de valorizar a manifestação cultural, a diversidade e a criatividade dos sambistas do Espírito Santo, que desempenham uma atividade de suma relevância para a sociedade, para a cultura, para o turismo e para a geração de emprego e renda a milhares de famílias.
“Até os desfiles, o Folha Vitória trará os principais destaques sobre os preparativos das 19 agremiações do Carnaval de Vitória. Além disso, em janeiro, será apresentada ao público uma série de reportagens especiais sobre a relevância social, cultural e econômica que o trabalho das escolas de samba tem na vida das pessoas que vivem do carnaval”, detalhou.
Na série, os depoimentos de Emerson Xumbrega, Jocelino Júnior, Marcus Vinicius Sant’Ana e Vinícius Vasconcelos aqui citados poderão ser vistos em vídeo, assim como os demais protagonistas do Carnaval de Vitória ouvidos pelo jornalismo da Rede Vitória.