Homenagem

Travesti capixaba vai ser destaque no Carnaval do Rio: "Será apoteótico"

Deborah Sabará atravessa a avenida com a Paraíso do Tuiuti. O enredo fará uma homenagem à primeira travesti não indígena do Brasil

Deborah Sabará vai desfilar em um dos carros alegóricos da Paraíso do Tuiuti (Foto: Acervo pessoal)
Deborah Sabará vai desfilar em um dos carros alegóricos da Paraíso do Tuiuti (Foto: Acervo pessoal)

Deborah Sabará vai atravessar a Sapucaí pela primeira vez! A ativista capixaba foi convidada para ser destaque na escola Paraíso do Tuiuti, cujo enredo deste ano é “Quem tem medo de Xica Manicongo?”, em homenagem à considerada primeira travesti não indígena do Brasil.

O convite veio da presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), onde Deborah é secretária de Direitos Humanos. A capixaba estará em um dos carros alegóricos da escola e não esconde a alegria em participar do carnaval carioca.

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“São tantas pessoas importantes na nossa história de luta das travestis que eu jamais imaginava ser convidada. Nunca desfilei no Rio, só assisti ao desfile uma vez na arquibancada. Agora, ver tudo de dentro, participar e estar em cima do carro alegórico com tantas outras figuras importantes, é incrível”, afirmou.

História de Deborah Sabará com o Carnaval

O carnaval corre nas veias de Deborah! Já nasceu no reduto da Verde e Rosa, Andaraí, no bairro Santa Martha, em Vitória, mas foi na Serra, na escola Rosas de Ouro, onde começou sua história com a folia, há 30 anos.

Deu os primeiros passos como auxiliar de barracão, limpando o espaço, virou coreógrafa de comissão de frente, teve ateliê de fantasias, foi carnavalesca e, segundo o próprio conhecimento, a primeira porta-bandeira travesti do Brasil.

Também foi a primeira travesti a desfilar como baiana depois que liberaram a entrada de pessoas trans nessa ala.

Deborah já foi porta-bandeira da Imperatriz do Forte (Foto: Acervo pessoal)

“As únicas coisas que ainda não fiz em uma escola de samba foram integrar a Velha Guarda e a bateria. No mais, já fui empurradora de carro, harmonia… Tudo isso faz parte da minha história”, contou.

Relação com a Paraíso do Tuiuti

A capixaba conhecia um pouco da história da escola do Rio antes do convite. Segundo ela, a Paraíso do Tuiuti tem se destacado pela coragem de trazer à tona temas tão relevantes, como a luta do povo preto e, agora, cantando a história de Xica Manicongo.

Xica foi trazida do Congo para Salvador para ser escravizada, no século XVI. Na época, ela não aceitava se vestir com roupas voltadas para homens, foi acusada de feitiçaria, condenada à morte e queimada em praça pública.

“A Tuiuti, corajosamente, traz para a avenida uma história e lava a alma das travestis. Precisávamos disso! Precisávamos que alguém jogasse para a sociedade brasileira tudo aquilo que é escondido”, começa Deborah, sobre a escolha de Xica como enredo da escola carioca.

Somos a população mais assassinada. Carecemos de escolarização, saúde, educação, emprego e do afeto das pessoas, que deveria começar pela família. Quando a Tuiuti traz esse enredo e o leva ao maior espetáculo a céu aberto do planeta, que é o desfile das escolas de samba do Brasil, ela mostra para o mundo um olhar diferente: olhem para as travestis! Elas merecem respeito! Precisamos disso. Precisamos parar de ser mortas e começar a ser vitoriosas!, disse.

E a expectativa de Deborah não poderia ser diferente:

“Por que não sonhar com esse título para a Tuiuti? O enredo é forte, rico, potente, de luta e sofrimento, mas levará nossa história para dentro das casas das pessoas. Não tenho palavras para descrever esse momento – será apoteótico!”.

Primeiro ensaio com a escola carioca

Deborah ainda não sabe muito sobre a fantasia, como será o carro que vai desfilar e demais detalhes sobre o desfile, mas chega neste sábado (1) à capital carioca para um encontro com o carnavalesco e para participar do ensaio técnico.

Importância do Carnaval

História de Deborah com o carnaval já dura 30 anos (Foto: Acervo pessoal)

A folia não acaba quando termina e Deborah fez questão de salientar outros aspectos do Carnaval. Para ela, as escolas de samba são instrumentos fundamentais para o aquilombamento das pessoas.

“As escolas de samba precisam ter essa consciência: há a ala das crianças, dos adolescentes, das baianas, da velha guarda… Há espaço para quem gosta de organizar, cantar, tocar um instrumento. Podemos ensinar uma atividade cultural às pessoas durante seis meses do ano. Isso é algo importantíssimo para a vida cultural de qualquer pessoa”, pontuou.

E nem é preciso desfilar para apoiar a escola e a comunidade. “Para quem ainda não teve essa experiência com uma escola de samba, não deixe de ir e de ajudar! Pode ser oferecendo um bolo, uma água gelada, um material que seria descartado… Basta perguntar se a escola precisa!”, finalizou.

Maeli Rhayra, editora de entretenimento do Folha Vitória
Maeli Radis Editora de Entretenimento e Cultura
Editora de Entretenimento e Cultura
Editora de Entretenimento e Cultura do Folha Vitória. Formada em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).