Os eventos climáticos extremos, decorrentes do aquecimento global, já são sentidos ao redor do mundo. Tempestades, secas intensas, escassez de água, ondas de calor frequentes e incêndios severos são algumas das consequências das mudanças climáticas. E o estado do Espírito Santo já enfrenta os efeitos do clima mais quente.
Diante deste cenário, o que vem sendo feito para proteger as cidades, especialmente na Grande Vitória, de eventuais desastres climáticos? Para entender melhor o assunto, o Folha Vitoria conversou com especialistas e com representantes do poder público.
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Desastres climáticos: mortes em Mimoso do Sul
No Espírito Santo, fortes chuvas deixaram um rastro de destruição no mês de janeiro de 2024. Dezoito pessoas morreram com a força da chuva em Mimoso do Sul e mais de 10 mil pessoas ficaram desalojadas ou desabrigadas.
Durante as chuvas que caíram na Grande Vitória em dezembro de 2024 e janeiro de 2025, ruas e avenidas de Vila Velha, Vitória e Cariacica ficaram completamente inundadas.
Dentre as principais medidas que estão sendo implementadas na Grande Vitória estão a construção de estações de bombeamento, parques lineares e sistemas de drenagem pluvial. Além disso, também são feitos mapeamentos de áreas afetadas por possíveis deslizamentos e inundações.
Cidades mais quentes e vulneráveis ao clima
Reportagem especial do Folha Vitória mostrou algumas soluções apontadas por especialistas para enfrentar o calor e tornar as cidades menos vulneráveis aos efeitos do clima.
Dentre os exemplos estão a criação de parques, espaços verdes e áreas-esponja. Além disso, a recuperação e preservação de rios e áreas de várzea, ao invés de sua canalização e ocupação desordenada, são fundamentais para a prevenção de enchentes e deslizamentos.
Para o arquiteto e urbanista, ex-presidente e conselheiro vitalício do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/ES), Tito Carvalho, uma das propostas mais categóricas para enfrentar o aquecimento urbano é buscar soluções na própria natureza.
Cidades do mundo todo estão implementando soluções baseadas em princípios ecológicos, como a criação de parques lineares e cidades-esponja, capazes de absorver a água das chuvas e liberar lentamente para o sistema de drenagem.
O que o governo do Espírito Santo tem feito
A Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb) informou que medidas estratégicas estão sendo adotadas para minimizar os impactos de alagamentos, enchentes e deslizamentos de terra.
“Com um investimento de R$ 724 milhões, o Estado tem avançado na macrodrenagem urbana, entregando e executando obras em municípios como Vila Velha, Cariacica, Viana, Colatina e Cachoeiro de Itapemirim.”
As ações, de acordo com o governo do Estado, incluem a construção de estações de bombeamento, comportas de maré, parques lineares e sistemas de drenagem pluvial, reduzindo alagamentos e promovendo maior segurança hídrica.
Além disso, são soluções sustentáveis vêm sendo adotadas, como a preservação de áreas verdes e a criação de parques lineares, que ajudam na absorção da água da chuva e contribuem para a resiliência urbana.
O que as prefeituras da Grande Vitória estão fazendo
Vitória
Segundo a Prefeitura de Vitória, ações e obras para mitigar os deslizamentos de terra e alagamentos recebem investimentos em caráter permanente.
Alem disso, são implementadas redes de drenagem e manutenção das atuais, contenção de encostas e ações para retirada de pessoas em áreas de risco de alagamentos e deslizamentos de terra, com a oferta de imóveis em áreas geologicamente seguras.
“Somente na atual gestão (2021/2028), serão R$ 618,7 milhões em investimentos – sendo R$ 364 milhões com recursos próprios e R$ 254,7 milhões com recursos federais –, assim distribuídos: R$ 470,1 milhões de investimentos em obras de macrodrenagem, R$ 84 milhões em contenção de encostas e R$ 64,6 milhões habitação.”
A prefeitura informou que as grandes intervenções a seguir representam R$ 470,1 milhões em investimentos na macrodrenagem.
“Está em andamento o maior investimento em macrodrenagem da história da capital em um único contrato: é a macrodrenagem da Grande Santo Antônio (R$ 139,6 milhões), que beneficia os bairros Mário Cypreste, Santo Antônio, Inhanguetá, Estrelinha, Grande Vitória e Universitário.”
O segundo contrato em vigor é a requalificação das cinco estações de bombeamento de águas pluviais (R$ 93.872.061,58). Elas controlam o nível das águas das chuvas nas galerias de macrodrenagem da cidade, evitando ainda que a maré alta entre nas galerias, provocando alagamentos em períodos secos.
De acordo com a Prefeitura de Vitória, as obras foram construídas há mais dez anos e apesar das manutenções constantes, possuem equipamentos obsoletos que estão no limite operacional na prevenção de alagamentos.
Os contratos integram o Programa Águas de Vitória, que prevê ainda obras de macrodrenagem nos bairros Ilha de Santa Maria, Cruzamento, Monte Belo, Jucutuquara e Fradinhos, cujo orçamento é de R$ 236,7 milhões para construção de galerias e reservatórios de contenção.
Essa terceira intervenção foi selecionada – e o pedido está sob análise – pelo Ministério das Cidades na modalidade Eixo Cidades Sustentáveis e Resilientes, Subeixo Prevenção a Desastres – Drenagem Urbana, no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento – Novo PAC, para receber financiamento do total orçado.
As obras de contenções de encostas que estão no âmbito do programa NOVO PAC contemplam três áreas no município de Vitória-ES, as quais estão inseridas nos bairros Caratoíra, Conquista e São Benedito/Consolação, em regiões de classificação de risco R3 e R4.
“Já foram concluídas 57 obras de contenção e 27 intervenções estão em andamento, com investimentos de R$ 66 milhões. No último dia 15 de janeiro, a administração municipal assinou ordem de serviço para mais 15 obras, que serão iniciadas até o final do mês.“
Vila Velha
De acordo com a Prefeitura de Vila Velha, estão sendo investidos R$ 1 bilhão na construção de nove estações de bombeamento de águas pluviais, além de investimento em construção de galerias; no programa de desassoreamento dos canais; na construção de comportas para a água do mar não entrar na cidade; e na limpeza e manutenção programada dos canais e da microdrenagem, evitando a retenção de água.
“Mais de 60% das obras de macrodrenagem estão concluídas e o acionamento das bombas é feito em tempo real.”
As seis novas Estações de Bombeamento de Águas Pluviais (Ebaps) são Cobilândia, Marilândia, Foz do Costa, Laranja, Aribiri e Rio Marinho. Outras três Ebaps estão em construção, Bigossi, Parque das Gaivotas e Pontal das Garças.
A Secretaria de Obras da Prefeitura Vila Velha está realizando obras de macrodrenagem do Canal do Congo que vão beneficiar 13 bairros da Região 5, uma vez que a água da chuva é direcionada naturalmente para esse canal.
Foram realizadas visitas domiciliares para informar a respeito das obras e os moradores foram comunicados da natureza dos serviços, inclusive durante reuniões na comunidade.
Também é destacado que Vila Velha possui o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), que identificou 102 setores de risco geológico, sendo 3 setores com risco Muito Alto (R4), 72 com risco Alto (R3) e 27 com risco Médio (R2) em 24 bairros com risco de movimentos gravitacionais de massa e processos geodinâmicos correlatos.
Serra
A Prefeitura da Serra afirmou que possui, desde o ano de 2016, o próprio Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), que realiza o mapeamento das áreas com potencial de erosões, deslizamentos, inundações e outros tipos de desastres.
“Atualmente o PMRR tem sido atualizado através de estudo feito em parceria com os Ministérios das Cidades e do Desenvolvimento Regional.“
Segundo o coordenador da Defesa Civil da Serra, tenente-coronel Fábio Maurício, o município já obteve resultados significativos nos últimos anos.
Temos um plano de 2016 que foi implementado e mostrou que após o trabalho de investimento houve uma redução de 50% nas situações de risco mapeadas na época. Com esse novo estudo, teremos números ainda melhores e poderemos implementar medidas mais eficientes na melhoria da qualidade de vida.
A Serra foi o único município capixaba selecionado para participar do projeto, que conta com recursos federais e cuja coordenação dos trabalhos está sob responsabilidade da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), por meio do Laboratório de Geomorfologia e Gestão de Redução de Risco de Desastres (LabGR2D).
Além disso, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) informa que para prevenir enchentes e alagamentos, é realizada a manutenção constante de todos os canais existentes do município.
Além disso, a equipe da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) realiza fiscalização efetiva de ocupações irregulares de pessoas em aterro de áreas ilegais, para que a população não ocupe áreas que estão sujeitas a alagamentos.
Já para enfrentar os problemas das mudanças climáticas, o município conta com sete unidades de conservação e possui ações para realizar a economia de energia, como as placas de energia solar em todas as escolas do município.
Cariacica
A Prefeitura de Cariacica informou que desde 2021 já foram investidos mais de R$ 61 milhões em obras de contenção e prevenção contra desastres naturais em diversas regiões.
Além das obras, foram criados o Plano Municipal de Redução de Risco, o Plano Diretor de Águas Pluviais da Bacia do Rio Itanguá e o Plano Municipal de Contingência. Esses planos são essenciais para mitigar riscos de enchentes e deslizamentos e facilitar o acesso a recursos para medidas emergenciais e preventivas.
“O Plano Municipal de Redução de Risco identifica e analisa as condicionantes geológico-geotécnicos e ocupacionais que determinam se pode haver deslizamentos de encostas que afetem a segurança de moradias. Já o Plano Municipal de Contingência tem por objetivo integrar as ações de agentes externos e das secretarias municipais às ações de proteção e Defesa Civil em benefício da população.”
Além disso, a Secretaria de Obras realiza intervenções pontuais para prevenir alagamentos, como em obras de pavimentação e drenagem, a fim de melhorar o escoamento de águas pluviais.
Um exemplo disso são as intervenções no entorno da Praça de Bela Aurora, que está sendo preparada para receber as obras, além das ações de limpeza diária, limpeza de canais e redes de drenagem (mecanizada e manual), bocas de lobo e vias públicas em todas as regiões da cidade.
Viana
O município de Viana detalhou que estão sendo realizadas obras para a prevenção de desastres naturais e a mitigação dos efeitos extremos associados a esses eventos.
Entre os investimentos estão obras de macrodrenagem, microdrenagem, drenagem e pavimentação e construção de muros de contenção.
O município realizou um estudo hidrológico abrangente das áreas de risco identificadas. Este estudo envolveu uma análise detalhada das características hidrográficas locais, incluindo padrões de precipitação, escoamento superficial, capacidade de drenagem e topografia, a fim de identificar áreas suscetíveis a alagamentos e deslizamentos.
“Um dos projetos de maior impacto para mitigar efeitos de enchentes no município vai solucionar os alagamentos recorrentes no km 298 da BR-101, próximo à entrada do bairro Marcílio de Noronha.”
O projeto, desenvolvido pela Prefeitura de Viana, vai viabilizar a construção de um “tunnel liner”, método não destrutível para execução de Bacia de Amortecimento no Bairro Canaã com sistema de comporta, visando mitigar os riscos de desastres naturais e reduzir o volume de água nas regiões.