Feiras de arte visual: iniciativas vieram para ficar
Uma feira, em geral, é um evento em espaço público em que as pessoas expõem produtos para venda. As Feiras de Arte Visual são, atualmente, grandes eventos dedicados ao comércio de obras de arte.
Os salões franceses, exposições organizadas pela Academia Real de Pintura e Escultura de Paris que começaram em 1667, podem ser considerados as primeiras “feiras” em 2024 aconteceu sua nonagésima edição, portanto, desde o século XVII exposições de Arte como a dos Salões de Paris e outros eventos similares foram organizados por governos, grupos ou instituições no intuito de promover o trabalho de artistas, informar e estimular o público para frequentar estes eventos.
Atualmente as Feiras de Arte são essencialmente comerciais. São realizadas em grandes ambientes divididos em pequenos stands alugados para galerias exporem obras dos artistas que representam ou que fazem parte de seu acervo.
Os ambientes nos quais são realizadas as Feiras são preparados para receber muitas pessoas, neles há preocupação com a recepção e atendimento aos clientes, oferta de serviços de alimentação etc.
Nas últimas décadas se tornaram empreendimentos de grande porte que movimentam o turismo, a cultura e, principalmente, a economia.
Elas surgiram como uma alternativa para as galerias ampliarem seu alcance junto ao público num mercado cada vez mais restrito e competitivo.
A primeira feira surgiu na Basileia, Suíça: a Art Basel. Foi fundada pelos galeristas Ernst Beyeler, Trudl Bruckner e Balz Hilt em 1970, sua primeira edição contou com 90 galerias e 20 editoras de 10 países: Áustria, França, Alemanha, Itália, Holanda, Noruega, Espanha, Suíça, Reino Unido, EUA. Teve 110 expositores e mais de 16.000 visitantes.
Primeira edição: fatos e números
Hoje em dia, a Art Basel se tornou um empreendimento global e é realizada em várias cidades do mundo como Hong Kong e Miami. Sua edição de 2023 em Basel, contou com 82.000 visitantes que percorreram 284 stands de galerias.
Além dela, outras feiras surgiram no mundo todo, no Brasil podem ser citadas a ArtRio, realizada no Rio de Janeiro, é uma das Feiras de Arte Visual mais concorridas no país. A SP-Arte, em São Paulo, elas são similares às grandes feiras mundiais como a FIAC, International Art Fair, em Paris, uma das mais concorridas no mundo ou ao Armory Show, em NY, que reedita o nome de uma das primeiras mostras de Arte Moderna nos EEUU atualizando seu perfil e investindo pesado no mercado de Arte.
As feiras se tornaram um fenômeno mundial. Nas décadas de 80/90 não chegavam a 50 no mundo todo, hoje em dia passam de 300. Assim surgiu um novo circuito: o das Feiras de Arte Visual.
Embora as galerias continuem mantendo seus negócios originais em espaços locais, num dado período do ano, deslocam parte de seu acervo e pessoal especializado para atender à demanda das Feiras.
Atualmente há um calendário intenso de feiras no mundo todo, sobram feiras e faltam meses…
Embora as feiras sejam eminentemente comerciais são também eventos culturais, pois ao reunirem artistas, obras, marchands e especialistas do mundo todo, possibilitam uma visão sobre o que se está sendo produzido e circulando no momento.
Elas contribuem para consolidação e diversificação tanto da produção quanto do mercado na medida em que fazem um recorte de tudo isto, embora tendam a ser apenas mercantis e não representarem o contexto da Arte Visual como um todo se consolidaram como uma eficiente estratégia de gestão no mercado de Arte Visual.
Contudo não se deve ignorar que o sistema capitalista é hábil em transformar cultura em mercadoria, a Indústria cultural não deixa dúvidas disso. Se o Sistema de Arte encontrou um modo eficiente para promover e comercializar Obras de Arte, não há como negar nem fugir disso.
O aporte econômico que as Feiras de Arte proporcionam atualmente é relevante não só em relação à produção e visibilidade artística, mas também na contribuição que trazem ao turismo, ao segmento logístico de transporte, hotelaria e serviços de alimentação e infraestrutura em geral.
Embora sazonais, já delimitaram um calendário anual que faz parte da agenda de vários nichos socioculturais: estudiosos, críticos, apreciadores e, especialmente, de marchands e investidores. Não há como evitar que o capitalismo interfira na Arte, o Sistema de Arte mostra isto. Resta então estuda-lo e analisa-lo para entende-lo.
Olhando para o passado, não se pode dizer que os Salões Franceses fossem menos contaminados pelo sistema econômico do que são hoje as Feiras de Arte Visual, tudo é questão de perspectiva histórica.
É óbvio que as críticas tecidas atualmente contra o capitalismo ou o liberalismo econômico predador são relevantes, mas não se pode fugir da história.
Se as Feiras de Arte Visual serão ou não consideradas um “mal do século”, não é possível prever, no entanto, é possível perceber que atuam e determinam como o fluxo da produção artística é tratado ou manipulado neste momento histórico.
A enorme quantidade de feiras que ocupam os muitos espaços na Europa, na Ásia, na África, nas Américas e em todos os rincões do mundo dão uma ideia do poder que este mercado vem assumindo nos últimos anos, isto é facilmente constatado pela velocidade e intensidade com que vem se “alastrando”.
Não se pode negar ou desprezar um fenômeno apenas por não gostar, não simpatizar ou não acreditar nele, mas sim observá-lo, analisa-lo e avalia-lo dentro das condicionantes que o geraram e assim constituir um conjunto de olhares e pareceres que possam auxiliar os estudos a respeito dele e sobre a época, como surgiu e se desenvolveu, esta é a missão dos estudiosos.
É também missão dos estudiosos, mediar o conhecimento sobre o campo da Arte Visual, pois só se constrói uma visão crítica a partir de informação.
Não é possível criticar, avaliar algo se não houver uma coleta e análise de dados, sem isto o que se obtém é achismo opinativo e não conhecimento. As pessoas só poderão olhar, apreciar, entender e estudar o Fenômeno Artístico como um fato sociocultural relevante ao se preparar para isto.
Embora pareça utópico não se pode considerar que o conhecimento sobre e em Arte seja inútil, não convém admitir a derrota no início da contenda, mas lutar até o fim. Num dado momento de sua vida Marcel Duchamp disse que a Arte é o único lugar em que o ser humano pode ser ele mesmo, talvez seja exatamente aqui que resida grande parte da necessidade de criação artística: a busca da individualidade, da originalidade e essência humana.
Não há dúvida que é importante refletir sobre as condições que a Arte Visual vem enfrentando no século XXI, isto faz parte do processo de desenvolvimento e de consolidação pelo qual ela passa ao longo do tempo, este parece ser mais um dos fenômenos pelos quais ela passa à exemplo de tantos outros pelos quais passou.
Independentemente de paixões é preciso avaliar este fenômeno com vagar e tentar inferir dele os caminhos que estão pavimentando o futuro da Arte na contemporaneidade.
Não se deve deixar para trás nada do que é possível observar hoje para entender o amanhã e não se pode ignorar que as feiras fazem parte da dinâmica do fluxo da arte no tempo e no espaço.