Banana pregada na parede: obra de Cattelan é avaliada em US$ 1 milhão
Notícias recentes informam que a obra “Comedian”, de Maurizio Cattelan, será leiloada em novembro pela casa de leilão Sotheby’s. A casa leiloeira espera alcançar um valor que gira em torno de US$ 1 milhão de dólares, que corresponde a R$ 5,7 milhões de reais, aproximadamente.
A obra foi exposta pela primeira vez na Art Basel Miami Beach em 2019, numa edição com três unidades. Na ocasião gerou polêmica quando duas delas foram vendidas por US$ 120.000 cada uma. A terceira alcançou o valor de US$ 150.000 ao ser adquirida por um comprador anônimo que resolveu doá-la ao Museu Guggenheim.
Se tais expectativas se confirmarem, transcorridos cinco anos do surgimento da Banana Cattelana, a “valorização” terá superado em sete vezes o preço inicial, quase uma vez e meia por ano. Acredito que sim, que a obra superará o valor estimado para o leilão mesmo que isto seja difícil de conceber ou justificar.
Se tiver interesse em refletir a respeito de como as Obras de Arte são valorizadas, sugiro a leitura do texto, publicado recentemente nesta coluna: Como é definido o preço de uma obra de arte?.
O mercado contemporâneo de arte é altamente especulativo e os valores parecem ser resultado de fantasias megalômanas: atingem cifras tão altas que só pequena parte da elite financeira mundial tem condições de adquirir tais obras. Elas são extremamente valorizadas e passam a funcionar quase que como títulos ao portador.
Quem os possui os vendem por preços cada vez maiores. Este mercado tende a ser mais rentável do que o de ações ou qualquer outro tipo de investimento financeiro ou material. O curioso é que boa parte das obras de arte que chegam a estes valores passam a fazer parte de coleções privadas e, muitas delas, confinadas em armazéns altamente especializados e protegidas de tal modo que só saem para participar de novos leilões e, em seguida, voltam ao confinamento.
Bem, é necessário esclarecer que a obra de arte de Maurizio Cattelan, pasmem, não é a Banana. Embora a manifestação visível da obra consista na instalação de uma banana numa parede branca afixada com fita adesiva, este é apenas o meio para dar existência física ao conceito, à ideia, que propôs a fixação da banana na parede.
A obra em si é um documento que, além de ser um certificado de autenticidade, dá ao proprietário o direito de reproduzir a instalação. Conforme o que tem sido divulgado, no caso da Obra Comedian, o documento consta de 14 páginas com as instruções de instalação, inclusive definindo a posição e altura de fixação da banana a 175 cm. do solo, além disso, indica que a banana deve ser substituída num período entre de sete e dez dias.
Este tipo de comportamento passou a fazer parte da Arte Visual a partir do momento em que as obras se tornaram transitórias como, por exemplo, as Instalações e Intervenções ambientais. As demandas materiais, logísticas e propositivas requeridas para a realização de muitas delas são complexas e não se comparam às demais manifestações artísticas usuais.
Quanto se trata de poéticas com as quais as pessoas e instituições estão habituadas, como pinturas ou esculturas, por exemplo, vê-las fixadas paredes ou em suportes é bastante comum, no entanto, isto não acontece numa Instalação ou mesmo Intervenção ambiental que, por suas condicionantes materiais, requerem outras estratégias e recursos espaciais.
Além disso, depois de realizadas e cumpridos os períodos de mostra, são desmontadas e muitas delas descartadas ou desarticuladas pelo fato de que nem todos artistas possuem meios para armazená-las e nem todas as instituições tem condições para mantê-las em exposição, tampouco em acervos ou ainda porquê algumas são perecíveis como uma banana.
Neste caso muitos artistas passaram a trabalhar a partir de Conceitos e ideias cujos processos realizatórios implicam em descrições de procedimentos expositivos gerando documentos que se tornam verdadeiros manuais de orientação.
Portanto, é fácil entender como uma banana, um abacaxi, uma jaca ou uma ideia, conceito ou proposição pode se tornar uma Obra de Arte e atingir a cifra de um milhão de dólares, basta transforma-las em produto financeiro que o mercado econômico as converterão em valores virtuais altíssimos.