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Coluna ESG

por Felipe Mello

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Por Cintia Dias

Sustentabilidade não é capa de proteção

A pesquisa Panorama ESG, realizada pela Amcham Brasil, em parceria com a Humanizadas, em sua edição 2024, traz alguns dados relevantes sobre a evolução do tema entre as empresas. A partir do mapeamento com mais de 680 executivos de todo o país sobre os desafios e oportunidades da agenda ESG, é possível perceber a maturidade do tema no ambiente organizacional.

Uma excelente notícia foi o avanço da pauta nas empresas, uma vez que 71% dos respondentes afirmam adotar práticas sustentáveis, percentual 24 pontos acima em relação ao ano anterior. Também é positiva a participação dos CEOs como protagonistas deste processo nas organizações, com 77% das empresas apontando a importância de sua liderança.

Um ponto que chama a atenção é a motivação para a adoção das práticas sustentáveis, que revela quase um empate técnico: para 78% dos entrevistados, busca-se impactar positivamente questões ambientais e sociais, seguidos de 77% que procuram fortalecer a reputação corporativa. Em terceiro lugar, afirmam objetivar fortalecer a relação com stakeholders (63%).

Reputação é consequência, não objetivo

Obviamente, não há nada de errado em registrar ganhos de imagem ao adotar a agenda ESG, sendo essa uma consequência reconhecida em um mundo em que as pessoas mais bem informadas, acompanham o desempenho empresarial e prestigiam organizações mais engajadas em pautas relevantes em suas relações de consumo e de trabalho. O que não deve acontecer é a inversão da lógica: adotar práticas sustentáveis para aumentar a reputação, ao invés de obter esse ganho como consequência de sua implantação.

Cabe lembrar que sustentabilidade não é capa de proteção para as empresas. Sustentabilidade diz respeito a reconhecer as necessidades sociais e ambientais dos seres humanos e do planeta e a responsabilidade de pessoas físicas e jurídicas por garantir que seu atendimento leve à perenidade da vida na Terra, efetuado por meio de um robusto sistema de governança.

Sustentabilidade é impulsionada pelo senso de propósito

Mas se os resultados de buscar ganhos reputacionais forem avanços nesta pauta? Ainda assim seria negativo? Teoricamente, não. Mas quando algo não é impulsionado por um forte senso de propósito, duas consequências podem ocorrer: a primeira é a inconstância nas ações. Uma vez que a empresa busca ganho de imagens, se não obtiver o que procura, tende a abandonar o conjunto de ações e partir para outro mecanismo disponível no mercado. É conhecido que sustentabilidade não é algo que se implanta rápido nem que gera resultados imediatos. Por isso, é tão importante que seja alavancada pelo propósito, pela firme crença de que é o certo a ser feito.

Em segundo lugar, há o risco de greenwashing, ou seja, a famosa maquiagem verde, de tentar parecer algo que não é. Empresas que buscam incremento de imagem podem não atuar profundamente na pauta, adotando ações isoladas que geram visibilidade em seus segmentos; ações rasas, com resultados tímidos, cujo esforço de divulgação é maior do que seus efeitos.

Mensuração é o maior desafio

A prática é facilitada por outro dado que aparece na pesquisa: mensurar indicadores ESG é eleito, por 40% dos respondentes, como o maior desafio dessa agenda. Sem números claros e transparentes, torna-se difícil efetivamente separar aqueles que atuam, de forma consistente, para adotar práticas sustentáveis, daqueles que fazem de ações isoladas seu trampolim para aferir ganhos de imagem.

Sustentabilidade não é uma campanha de marketing com briefing, mensagem-chave e plano de veiculação. É um conjunto de ações planejadas, a partir de uma matriz de materialidade construída junto com os stakeholders, com objetivos e indicadores de desempenho claros. Divulgar seus resultados é válido, até como prestação de contas à sociedade, assim como ser reconhecida como empresa sustentável é bem-vindo, mas não deve ser esta a meta final de quaisquer iniciativas neste campo.

Cintia Dias

Jornalista, publicitária, mestre em administração, especialista em comunicação, sustentabilidade e marketing e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do IBEF-ES.