“Antifragilidade”: o que escolas e famílias podem fazer

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Cristiano Carvalho

Quando minha filha era criança, eu frequentemente me divertia ao observá-la caminhar. Na verdade, muitas vezes eu a via mais saltando do que caminhando. Se havia uma poça d’água, então, o salto sobre ela era quase certo!

Quantas vezes nós, pais e educadores, presenciamos nossos filhos “fazendo arte” e nos perguntamos: “Por que gostam tanto de correr riscos?” Parte da resposta pode estar no fato de as crianças serem antifrágeis por natureza.

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O termo “antifrágil”, criado pelo estudioso Nassim Nicholas Taleb, refere-se a “sistemas, organizações ou indivíduos que não apenas resistem ao caos e à incerteza, mas que se beneficiam e crescem com eles.”

Neste texto, vamos focar nos indivíduos e refletir sobre como escolas e famílias podem ajudar a desenvolver a antifragilidade em crianças e adolescentes.

Pais de crianças que estão começando a vida escolar sabem que o ingresso em uma creche ou escola tende a trazer algumas “ites”: otite, faringite, rinite, gastroenterite, entre outras.

Isso é o sistema antifrágil das crianças em ação (apesar de todas as vacinas que tenham). Além disso, passamos a lidar com mordidas de outras crianças, arranhões e machucados de quedas, por exemplo.

O que podemos fazer para evitar essas situações? Na verdade, o aprendizado, para crianças e adultos, está em como lidamos com esse caos e incerteza, ao invés de simplesmente tentar evitá-los. Afinal, nenhuma família considera deixar o filho fora da escola para evitar as “ites” e os arranhões.

O autor Jonathan Haidt, em seu best-seller A Geração Ansiosa, explica: “As crianças são antifrágeis e se beneficiam do brincar com risco e de uma base segura, que as ajuda a reativar o modo descoberta. E uma infância baseada no brincar tem muito mais chances de oferecer isso que uma infância baseada no celular.”

Como escolas e famílias podem ajudar as crianças a desenvolver a antifragilidade? Aqui estão algumas dicas, baseadas no trabalho de Haidt, no projeto Let Grow (Deixe Crescer) – disponível em [letgrow.org](https://letgrow.org/) – e em minhas observações cotidianas como educador.

As escolas podem:

Fornecer uma base segura, impondo menos regras e confiando mais: as crianças precisam de um ponto de referência seguro, um adulto a quem podem recorrer em caso de dificuldades. Haidt afirma que “a função da base segura é ser o ponto de partida para aventuras longe dela, onde ocorre o aprendizado mais valioso.” O excesso de controle impede que as crianças criem suas próprias regras e relações com os colegas e aprendam a explorar o ambiente.

Proibir smartphones durante o dia: essa medida permite que as crianças brinquem e socializem mais presencialmente, expondo-se a riscos a partir de uma base segura e vivenciando conflitos próprios de cada faixa etária.

Rever as estruturas dos parquinhos nas escolas: parquinhos com estruturas fixas oferecem poucas possibilidades de exploração e entretêm por um tempo limitado. Disponibilizar peças soltas para que as crianças possam construir seus próprios objetos não apenas incentiva a criatividade, mas também as habilidades de negociação e trabalho em equipe, essenciais para lidar com o caos concreto do mundo físico e o abstrato das relações.

Criar clubes propostos pelos alunos: fomentar a criação de clubes a partir dos interesses dos alunos, como ocorre em muitas escolas americanas, abre espaço para protagonismo de fato e tomada de riscos. Para os mais novos, pode-se oferecer o “clube do brincar”, em que os alunos podem permanecer no ambiente escolar brincando livremente com outras crianças sob supervisão de um adulto, que intervém apenas em emergências.

Engajar as famílias na educação coletiva para desenvolver a autonomia das crianças: a promoção de cursos e palestras para pais sobre temas relacionados ao desenvolvimento dos alunos deve ser uma constante. Quando toda uma comunidade compartilha valores e objetivos claros, a missão de educar se torna mais fácil e eficaz.

Os pais podem:

– (0 a 5 anos) Garantir um ambiente com boa nutrição e uma base segura: o desenvolvimento da criança nessa idade depende de necessidades básicas de alimentação e interação, tanto com adultos da base segura quanto com outras crianças.

Deixar espaço para o brincar livre: é importante distinguir cuidado de controle. As crianças precisam de liberdade para criar suas próprias brincadeiras, sozinhas ou em grupo.

Monitorar o tempo de tela: a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Organização Mundial da Saúde oferecem recomendações específicas para cada faixa etária. Consulte esses órgãos.

Atribuir responsabilidades: quando recebem confiança para executar tarefas, as crianças tornam-se mais autoconfiantes e menos propensas a sentimentos de inutilidade. As responsabilidades devem ser adequadas a cada faixa etária.

Oferecer ferramentas em vez de soluções para resolução de problemas: quando a criança reclama de um colega, a tentação de ir à escola para resolver o problema é grande. No entanto, é importante lembrar que não estaremos sempre presentes – nem devemos estar. Capacitar nossos filhos a resolver problemas é reconhecer e estimular a antifragilidade que já faz parte de sua essência.

Há alguns anos, conheci o termo “helicopter parents” (pais helicópteros), usado para descrever pais superprotetores e controladores, em casa e fora dela. Recentemente, aprendi sobre os “lighthouse parents” (pais faróis), aqueles que oferecem um norte, uma luz no oceano que é a vida de uma criança ou jovem.

No desenvolvimento da antifragilidade, seja em casa ou na escola, precisamos ser educadores faróis para que nossas crianças prosperem em um mundo caótico e cheio de incertezas.

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Cristiano Carvalho

CEO da Escola Americana de Vitória. Educador há mais de 30 anos, professor de Inglês com especialização em linguística aplicada. Coordenou projetos bilíngues e de educação internacional em escolas de educação básica, construindo e gerindo currículos e equipes docentes.