Como usar a Arte para promover bem-estar e reflexão
No âmbito do fazer artístico, existe o conceito de arteterapia, um campo estruturado com técnicas e métodos específicos que buscam, sobretudo, proporcionar bem-estar e desenvolvimento pessoal por meio da expressão artística.
No entanto, não é sobre esse aspecto terapêutico que nos propomos a refletir, mas sobre uma abordagem mais empírica e espontânea do ato de fazer arte: a prática artística como um gesto despretensioso, despojado de grandes pretensões formais ou resultados previamente definidos.
Esse fazer não implica a ausência de orientação ou estrutura. Pelo contrário, trata-se de um momento compartilhado, um espaço em que as pessoas se reúnem para trocar ideias, explorar possibilidades e experimentar percepções.
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A prática artística, nesse contexto, é mediada por exercícios em pintura ou desenho que convidam à reflexão e à interação. Esse ambiente é representado pela sala de aula, seja em um curso livre de desenho ou em uma disciplina de graduação em artes visuais.
Nesse espaço, a arte torna-se um veículo para o encontro humano, um meio para explorar não apenas técnicas e materiais, mas também subjetividades e sensibilidades.
A troca entre os participantes e o orientador cria um campo fértil para o aprendizado, onde as experiências individuais convergem para gerar novos olhares sobre o fazer artístico e, muitas vezes, sobre o próprio sentido da coletividade. Assim, a sala de aula vai além de um espaço de transmissão de conhecimento técnico, transformando-se em um ambiente de construção compartilhada de significados e experiências.
Atualmente, tenho a honra e o prazer de ensinar pintura em meu ateliê, um espaço que se transforma em um ponto de encontro para explorar o fazer artístico de forma prática e sensível.
Nesse ambiente, conduzo aqueles que desejam se aproximar da arte, ajudando-os a desenvolver uma maior intimidade com o processo criativo e os elementos fundamentais da pintura, como o suporte, a tinta e o pincel.
Mais do que ensinar técnicas, busco criar um espaço acolhedor onde cada participante possa descobrir sua própria voz artística.
Aqui, o aprendizado vai além das habilidades manuais: é também uma oportunidade para experimentar diferentes formas de expressão, compreender a linguagem visual e desenvolver uma relação mais profunda com os materiais e o processo criativo.
Essa prática de ensino não apenas promove o crescimento artístico dos alunos, mas também alimenta minha própria jornada como artista e professora, pois cada interação traz novas perspectivas, desafios e aprendizados.
Meu ateliê torna-se, assim, um laboratório vivo, onde a arte é compartilhada, discutida e construída de forma colaborativa, refletindo a riqueza e a diversidade das experiências humanas que convergem nesse espaço.
Uma de minhas alunas, que convive com a depressão há anos, compartilhou com o grupo de pintura um testemunho profundamente tocante. Ela contou que ingressar no curso foi a melhor decisão que tomou em 2024.
Essa experiência não foi significativa apenas pelo aprendizado técnico ou pela descoberta de algo novo, mas especialmente pela oportunidade de mergulhar em um ambiente que a afastou das preocupações e distrações cotidianas, como as notícias trágicas e o excesso de estímulos das redes sociais.
Essa vivência reflete o poder transformador da arte, que vai além da estética e da criação. O ato de pintar proporciona um espaço de introspecção, um momento de pausa no caos do dia a dia.
É uma atividade que, em sua essência, é quase meditativa, permitindo um diálogo silencioso e profundo consigo mesmo. Cada pincelada, cada escolha de cor ou textura, torna-se uma forma de se conectar com as emoções, os pensamentos e a própria existência de maneira única e autêntica.
Além disso, a experiência coletiva em um curso de pintura amplia esse impacto. A troca de ideias, o apoio mútuo e o sentimento de pertencimento ao grupo criam um ambiente que acolhe, estimula e fortalece.
Para minha aluna, e para muitos outros, a arte se torna um refúgio, um espaço seguro onde é possível encontrar alívio, expressão e até mesmo pequenos momentos de felicidade em meio às dificuldades da vida. Essa é, talvez, uma das maiores riquezas do fazer artístico: seu poder de cura, de ressignificação e de transformação.