Carta da Virtude Paciência: reflexões para um Ano Novo transformador
Naquele certo ano, difícil por sua natureza, numa Assembleia de todas as Virtudes, cada uma delas decidiu mandar a quem as procurasse uma Carta Direta ao coração. Precisavam educar para as Virtudes… para o que o Ano seguinte fosse, mesmo, um Ano Novo!
CARTA DA VIRTUDE PACIÊNCIA
Espírito Santo, 2024
Prezado Ser, abençoada seja tua Luz interior! Ponho-me aqui a escrever-te uma carta, como fazem os que querem dizer alguma coisa importante… relembrar algo através de palavras.
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Sou a Virtude Paciência e me buscas, geralmente, após me “perderes”… Ficas então com a impressão errônea de que sou difícil de manter. Venho dizer-te, ao contrário, que talvez me “percas” justo por pensares assim. Isso pode ser mudado!
Não sou “difícil”. Enquanto Virtude sou, pois, natural, amiga das coisas sábias.
Uma mãe espera um filho, uma árvore produz um fruto, um rio chega ao mar e as estações do ano se transformam… todas pacientemente. Há, pois, creias nisso, algo muito natural na Paciência! Em ti há algo que reconhece, preserva e opera em Paciência naturalmente. Essa tua faculdade tem a força da natureza e isso não é pouco! Atenta a isso!
Enganavas-te ao pensar que eu era difícil ou excêntrica! Sou e estou em ti mesmo, acessível e simples. Estou próxima quando conheces teu propósito neste vasto mundo de tantos enredos!
O que achas “difícil” na Paciência não se relaciona com o que sou nem com falta de Paciência. Examina com honestidade e compreenderás.
Quando desejas ardentemente conquistar, impedir, favorecer, apressar, esbravejar, discordar, fazer ou refazer, enfim… quando te atiras obstinadamente ao encontro da realização de tua exclusiva vontade e tentas regrar com tua regra, produzir isso ou eliminar aquilo conforme julgues conveniente ou apropriado… é aí – quando tuas obstinações não se cumprem – que então dizes: “perdi a paciência”.
De imediato estás “destituído” do poder de alcançar o que querias e dizes, ao invés, que perdeste a Virtude da Paciência! Falso! Digo eu: isso é falso!
Quando te faltam predicados… dizes que falta Paciência! Quando te atrapalham ou interditam as tuas satisfações, então, dizes que perdeste a Paciência. Apenas dizes o que crês. Não é a mim que perdeste, só ao que querias.
Revê essa tua crença e alcançarás temperança, calma, paz e determinação em extensa medida! Tuas crenças são tudo! As reveja e verás onde está tua Paciência contigo mesmo e com o resto do mundo. Paciência encontra-se entre a Apatia e a Intolerância e não foi entre estes dois extremos que perdeste a possibilidade de te posicionares.
Escuta: se o transporte atrasa, se o que compras quebra, se alguém te atrapalha os planos, se a fila não anda, se te exigem além, se crianças fazem pirraça, se velhos não escutam bem, se o remédio goteja, se a preleção está chata, se a hora não passa, se o balconista é lento, se te dizem impropérios… se… se… se… observa como te atiras primeiro a auto piedade considerando que tais situações não deveriam ser como são! Transbordas então irritação e/ou ignorância.
Isso não é perder uma Virtude. Isso é exercer algumas de tuas formas próprias de reclamar e de desistires de ser atento e firme, calmo e lúcido, educado e resiliente frente a realidade das coisas – realidade essa regida por undecilhão de fatores imponderáveis por ti ou por qualquer vivente.
Sim, a Vida é complexa! Paciência!!
Se o trabalho demora para terminar, se suportar a lentidão alheia lhe prejudica interesses e deveres teus, se a educação e o comprometimento da outra pessoa é aquém da esperada ou devida, se a labuta árdua te atingiu a ponto de esgotar-te, se por muito tempo suportaste algo que era injusto… se… se… se… observa como tua agressividade contida ou incontida acaba por encontrar na tua antecipação mental, ansiosa ou insolente, um jeito de evitares o enfrentamento mais duro: aquele que te diz que a vida exige teu autoaperfeiçoamento justamente frente as dificuldades que ainda ignoras como superar.
Aquilo que dominas nem entraria em tua lista do que faria perder a tua Paciência. Os momentos de tua suposta falta de paciência são, na verdade, momentos em que descobres onde tens de avançar na tua compreensão da Vida.
Sim, a Vida é imperfeita… e perfectível! Paciência!!
Em todas as situações em que crês que perdeste a Paciência de fato nada de teu foi perdido. Algo de teu foi exercido, diferente de Paciência. Inclusive exercido com altíssimos custos para tua saúde corporal e paz interior.
O Universo não “conspira contra” minha criança divina! Aprende! O Universo conspira a favor de que possas descobrir tudo que podes, tudo que é teu. A Paciência não se “perde”. Em outro momento de vida podes passar pelo mesmo onde “perdias” a Paciência e – como não a perdeste de fato – podes então escolher exercitá-la enquadrando os fatos diferentemente… apreendendo, da vida, o fluxo interminável de transformação e ritmos.
Tua vida oferece-te justo a oportunidade de observar esse fluxo incessante – inclusive o teu!
Tua consciência cresceu de dentro para fora… observando e sentindo as coisas “lá” onde estavam, e as foi estocando e classificando “aí” dentro, onde pensas estar. Aprendeste a nomear muitas coisas. Sobretudo aprendeste a desejar. E queres chegar, comprar, alcançar, acelerar, entregar, correr, vencer… Ficas enfeitiçado com esse teu “estar” num tempo onde saltas de um desejo a outro, de uma expectativa de mundo a outra… vais assim, às vezes, minando a tua autoconsciência, confundindo-te com teus próprios desejos de coisas e controle sobre coisas.
Não és, contudo, teus desejos de ter e controlar. És a experiência de ser humano: desejar e desprezar, plantar e colher, aprender e passar… cada coisa em um tempo próprio.
Nunca perdeste ou perderás tua Paciência!! Sempre que focares no mundo interior e profundo eu aparecerei ao alcance de uma respiração consciente!! Basta uma!! Se for consciente! Basta uma respiração e eu te mostrarei como vivo enraizada no teu sorriso calmo, no teu olhar encantado, cheio de espanto pela grandeza e pela beleza a tua volta!
A Vida é linda. E isto não é um clichê! É como as Virtudes escondem dos arrogantes as verdades simples. Calma! Admira! Contempla! Respira! Vive!
Há na tua natureza profunda, digo-te isso segura, Paciência imorredoura, paz infinita. Tua natureza última não quebra, não verga, não cansa, não enferruja, não treme nem de raiva nem de medo… É de lá que te escrevo agora!
Renova tuas forças, contempla o Ano Novo… faze dele teu aliado e redescubra-me em tua essência. Estou lá. Sempre estive e lá reside tua substância e eflúvio.
Assino essa carta para ti, eu-Paciência, a Virtude tua.