Como aprender a ler e a escrever? Veja 10 pontos sobre o letramento
Escrever sempre foi um processo trabalhoso e, às vezes, até doloroso. Trata-se de uma via de mão dupla entre o pensar e o converter as ideias em palavras. Elas são limitadas e exigem arte nas escolhas, combinações, no encadeamento, para que se aproximem do pensado.
Em contrapartida, o exercício rico dessa tarefa também desafia o nosso pensar, tornando-o mais complexo e consciente. O texto verbal é o nosso espelho e, quando o resultado não traduz exatamente o nosso desejo, a nossa imagem nos parece distorcida.
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Com os avanços da tecnologia, esse desafio se tornou ainda maior, justamente porque as pessoas estão escrevendo mais, em menos tempo e os leitores são incalculáveis. O objetivo deste artigo é propor alguns caminhos para cumprir essa missão do escrever hoje.
- A escola, o tempo e o poder das telas
Para ensinar a ler e a escrever, nesta era da supremacia da informação e da tecnologia, a escola precisa reinventar-se, não só veiculando conteúdos, mas também selecionando-os, analisando-os, processando-os, recriando-os.
Para isso, a escrita escolar implica, paradoxalmente, resgatar elementos perdidos: o silêncio, a calma, a concentração, em busca de uma visão mais holística do mundo e das linguagens.
- Ler e escrever em tempos digitais
Com o fácil acesso à tecnologia, ler e escrever mudaram, mas continuam sendo práticas sociais coletivas. A tecnologia sozinha não garante avanços; o professor desempenha papel fundamental na coordenação e no planejamento de todo o processo.
Além disso, é ele o primeiro leitor do texto do aluno e é quem vai dar uma devolutiva de sua escrita. É o primeiro espelho do autor que pretende formar.
- A escola e suas “derrapagens” no ensino da leitura e escrita
A escola brasileira enfrenta inúmeros desafios para ensinar a ler e a escrever. Falta de recursos, distanciamento entre teoria e prática, desvalorização do professor e pouco investimento na sua formação continuada.
Falta, em um espectro menor, um objetivo claro para a escrita, o respeito às variantes linguísticas, mas, também, foco no domínio da linguagem padrão, em tempos de tanto relaxamento nas formas do escrever.
- Um novo professor para novos alunos
Há tempos, mesmo antes de os computadores se popularizarem, Jean Piaget propunha novos olhares sobre o aprendizado, valorizando a atuação ativa do aluno e a mediação social no processo de ensino-aprendizagem (da escrita).
A necessidade dessa interação só aumentou e o papel do professor se modificou radicalmente, mas não se desvalorizou. Tornou-se outro.
- A escrita: um aprendizado para a vida
A produção textual é um processo marcado pelo dialogismo e exige participação ativa e reflexiva. Não se escreve para ninguém. A conceituação de alfabetização e letramento, por exemplo, varia entre estudiosos, mas é consenso que escrever deve ser objeto de ensino significativo, não reduzido a códigos estáticos, que não dizem nada para ninguém.
- O papel da escola na formação de leitores e autores
A escola tem o papel fundamental de formar sujeitos interlocutores, criativos e críticos, tanto quanto leitores e autores. Para isso, é necessária uma abordagem dinâmica, em um mundo marcado pela pluralidade, variabilidade e complexidade.
- O texto para além do que “o autor quis dizer” e do que “eu tenho de escrever”
O leitor é parte do “jogo” da leitura, em um diálogo constante com o texto. Este espera um outro que reconheça suas pistas, levante hipóteses, possibilitadas por aquele conjunto verbal acabado, definitivo e compartilhado.
O texto, sobretudo os literários, estão abertos a leituras. Ele nunca será o mesmo, porque o tempo, a cultura, os aspectos subjetivos o fazem se transformar sob os olhos do leitor, sempre mutantes.
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Na sala de aula, não cabe “o que o texto quis dizer”, mas “o que eu, leitor, posso interpretar a partir dele”, desde que haja uma boa argumentação para defender a interpretação apresentada. Em relação à escrita, é preciso que se ofereçam situações significativas para o aluno: um interlocutor definido, um motivo, uma temática que lhe diga respeito.
- A produção de texto como um “mutirão de todos”.
Em relação especificamente à língua escrita, pode-se dizer que todo seu processo está calcado numa relação dialógica entre um autor e um leitor, desencadeada pelo texto.
Vive-se em um mundo de múltiplas vozes, marcado por identidades e diferenças, aproximações e conflitos, e as manifestações linguísticas em torno do que se vive são constituídas dessa polifonia.
Viver é, enfim, estar mergulhado nesse “grande simpósio universal” (Mikhail Bakhtin) e escrever é um ato alimentado por esse viver.
- Alfabetização e letramento: conceituações múltiplas sobre o ler e o escrever
Muitos teóricos divergem entre os conceitos de alfabetização e letramento. É necessário, no entanto, garantir que a escrita seja, de fato, objeto de ensino, em vez da língua estática e seus códigos.
Muito distante de uma metalinguagem (ou uma “gramática pela gramática”), sem algum significado.
- O ler e o escrever em sala de aula
Ler é fruto da construção de sentidos. Escrever, semelhantemente, é um processo que envolve não só o domínio de um código, mas implica uma dimensão simbólica, contextual, lúdica.
Escrever é dar “forma ao conteúdo de nossas experiências” (Lev Vygotsky) vividas com o outro.
A formação do sujeito/professor em relação aos processos de leitura e escrita são experiências (e não vivências), porque envolvem um pensar, um sentir, um significar, individual e único, por cada sujeito, em diálogo com o outro.
Em tempos de fragmentação, descontinuidade, efemeridade – de muita oferta e pouca articulação – , é necessário um esforço gigantesco do leitor e produtor de textos – do aluno, do professor, da escola – para essa costura tão necessária.
Ler e escrever demandam tempo de mergulho e de entrega. (Re)ler, (re)escrever: ações que requerem dedicação, diálogo, troca, tempo para si e para o outro.