A urgência da comunicação dialógica na Educação

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Ivana Esteves

Depois que a pandemia nos mostrou que é possível subsistir dentro de casa, a sociedade passou a desfrutar de uma existência, cada vez, mais entre paredes e entre telas. A vida ficou partida – acontece de forma híbrida – no ambiente off-line e on-line.

O mundo está na palma da mão, já que o celular é o contexto em que tudo acontece! A sobreposição do ambiente virtual ao mundo real, tem na Inteligência Artificial (IA) o estímulo para uma vida on-line, avassaladora!

Mas, e quando tivermos o anseio de contemplar os encantos de um lugar, ao vivo e em cores?! Quando desejarmos escutar as histórias dos lugares in loco?! Saberemos o caminho de volta?! Me recordo de minhas aulas de Comunicação Comunitária, que ministrei por 15 anos na universidade, em que pedia aos alunos que sentassem em pares, com colegas, com os quais não tinham o hábito de convivência, para uma conversa espontânea!

O silêncio e o desconforto logo apareciam. Ficavam uns bons 10 minutos perdidos em risos cheios de falta de graça…até que iniciavam um intercâmbio insosso e, no diálogo, por fim se afinavam. Ao final da aula, muitos se mostravam surpresos por descobrirem novas possibilidades de enlace e sintonia em seres, até então distanciados, embora convivendo por alguns semestres, no mesmo ambiente comunitário – a sala de aula!

Então me lembrei de uma fala do professor e filósofo Rubem Alves acerca do hábito e do quanto nos afasta do prazer da novidade. De conhecer novas pessoas, olhar dentro de seus olhos, e desvelar-lhes as suas histórias de vida. A escola era o local de encontro, do desenvolvimento dos processos de socialização. Da comunicação, enfim! Mas e agora? Como acontece a relação humana no ambiente escolar?

A escola hoje está focada em se adequar com urgência ao contexto virtual, com ferramentas de Inovação Tecnológica! Mas há uma urgência de outras metodologias bem mais ativas e necessárias!!! As quais se iniciam com uma boa conversa.

Fala-se de diversidade, mas as singularidades não são perscrutadas. Cada indivíduo é único! Mas será que as suas peculiaridades estão sendo valorizadas, ou tratadas como excentricidade, ou, até mesmo problema?! Quando as máquinas são a referência, a padronização advém como modelo.

Estive essa semana participando do “Seminário Internacional de Educação Inclusiva, e tive o enorme prazer de estar presente à palestra do professor David Rodrigues, especialista em educação especial, Conselheiro Nacional de Educação em Portugal e integrante da Universidade de Lisboa. Em sua fala o professor falou que “estar juntos” é um grande desafio para nós, sobretudo na atualidade”, e ressaltou a necessidade de convivência e de relação.

Foi quando me lembrei da fala do sociólogo francês, especialista em Ciências da Comunicação, Dominique Wolton, cujo propósito em suas pesquisas é o de conduzir uma comunicação interdisciplinar, buscando a retomada das relações entre os indivíduos, técnicas, culturas e sociedades. Para ele, o grande desafio da atualidade é a relação e a convivência. O título de seu mais recente livro é: Comunicar é negociar.

Importante que a escola retome seu processo de incentivo à socialização. Os jovens estão cada vez mais imersos na internet e não convivem. O ser é delineado no espelhamento, nas trocas. Sempre foi assim! E não se faz necessário viajar para locais distantes, a fim de estabelecer relacionamento, ou conhecer o diferente, o inusitado!

Certa vez um aluno me indagou: – professora, esse trabalho seu de visita às comunidades não nos dará chance de o realizarmos pela internet e nem de dividirmos as funções, não é mesmo?! E eu sorri de volta, um sorriso muito feliz, mesmo! Pois ele havia percebido a intencionalidade principal da tarefa, ou seja, estimular a comunicação interpessoal e o conhecimento de algo novo, no caso, o contato com pessoas, com as quais ele nunca imaginara se comunicar.

Em meus estudos de Educomunicação, percebo o valor do Turismo Pedagógico. Eis um caminho que a escola pode e deve lançar mão, mas não para incentivar longas e caras viagens, e sim, para promover pequenos passeios em comunidades próximas, os quais possam permitir aos estudantes o contato com a sua cultura e o conhecimento de pessoas que tem práticas cotidianas e saberes diversos. Esse é um dos meios de se ensinar diversidade!

Os estudos de Neurociência afirmam que existe uma musculatura se atrofiando no cérebro humano, como resultado do individualismo, do ensimesmamento e da ausência de interesse pelo outro. A comunicação dialógica precisa ser estimulada na comunidade escolar, o quanto antes!

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Ivana Esteves

Graduada em Comunicação – Jornalismo / Ufes (1990), licenciada em Pedagogia Ipemig/ MG (2022), Pós-Graduação em Marketing, Faesa (2000), Mestrado em Letras pela Ufes (2004), e é Doutora em Letras pela Ufes (2015), Pós- doutora em Educação na Unesp/PP/SP (2017). Licencianda em Letras (Ifes) e cursando complementação pedagógica na Estácio. Atua em Educação para a Mídia (Educomunicação), e na formação de professores da rede pública e privada.