Saúde mental: veja o que fazer após seu filho receber o diagnóstico

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Prof. Dra. Kathy Marcondes

Nós lutamos muito para chegar ao DIAGNÓSTICO. E, às vezes, o problema não termina quando ele finalmente chega. Em saúde mental ou em questões do desenvolvimento infantil, um diagnóstico mais “aponta” do que “define”, mais apresenta “opções” de tratamento do que “fecha” numa certeza definitiva.

Nenhum diagnóstico repara ou abole completamente o pesadelo anterior de “não saber”; isso porque nenhum diagnóstico por si, só, decreta tudo o que se pode fazer a respeito.

Diagnóstico não é o fim, mas o começo

Após o diagnóstico “sabemos”. Ok. Mas, sabemos “o quê” e “para quê” mesmo? O diagnóstico não pode ser a “entrega de alguém” com quem nos importamos nas mãos de quem quer que seja.

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Nenhum tratamento é o único e exclusivo cuidado que requer aquele que padece de qualquer “diagnóstico”. Uma criança e/ou uma pessoa são mais, vão muito além de seus “diagnósticos”.

Os rótulos pertencem a categoria de conhecimento dos quais os profissionais precisam para balizar sua transferência de informação.

Diagnosticar significa usar uma linguagem padrão para falar com outro parceiro, usando a mesma “língua” ou até dialeto: a do diagnóstico.

Aquele sobre quem fala o diagnóstico, ou seja, à pessoa humana, este requer mais e outros cuidados que o diagnóstico nunca pode obscurecer.

Diagnóstico: um caminho para o tratamento

Chegou o diagnóstico? Que bom! Contudo, não há nisso uma supra inteligência a definir peremptoriamente tudo o que se faz, como se faz, como se alcança o “tratar” e como se maneja o cotidiano daquela pessoa viva, amada, aberta à Vida e ao mundo.  

A melhor coisa de um diagnóstico é, às vezes, saber o que não era aquilo que temíamos conhecer. E, em não sendo isso ou aquilo… lá vamos nós atrás do que pode ser feito com o diagnóstico dado.

Importância de compreender o diagnóstico

Ler sobre as palavras de um diagnóstico no Dr. Google não significa compreendê-lo melhor. Nem traduzi-lo bem. Quem emite um diagnóstico o assina, o que a IA não faz.

Discutindo e aprofundando com quem emitiu o diagnóstico podemos aprender a fazer mais e mais perguntas esclarecedoras. Continuaremos a aprender sempre e sempre mais sobre o que fazer.

Porque “o que fazer” é mais do que compreender o diagnóstico em si. É ultrapassar o desconhecimento e a ingenuidade anterior de quem padece e “não sabe” e passar a saber o nome do diagnóstico de que se padece.

Um bom diagnóstico (que já implica em ter ouvido profissionais diferentes, capacitados e experientes) é apenas uma etapa do caminho. Só isso. E isso não é pouco. Isso é uma ajuda, uma contribuição. Não é uma sentença.

Diagnóstico e Ciência: a busca contínua por respostas

Enquanto sentirmos que algo não “bate” podemos, e devemos, discuti-lo com todos que possam nos fazer entender. Estaria incompleto, mal formulado?

Desacompanhado de alternativas de tratamento ou minoração das perdas inevitáveis? Foi revisado com calma, atenção e senso crítico? Há outros pontos de vista e formas de enquadrar o conjunto de sintomas?

Nenhuma pessoa ou família precisa se sentir desconfortável ou indevida por querer “compreender melhor” os desdobramentos do que se quer dizer com “um diagnóstico”.

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A Ciência tem o mais democrático fundamento que conhecemos. Claro que ela depende de financiamento para evoluir e ética para ser aplicada, o que compromete demais a forma como é vista. Contudo, nem dinheiro ou ética a fazem desistir de sua provisoriedade. Este é seu fundamento.

Todo postulado científico é provisório, se sabe relativo, se sabe em movimento, pois outras provas, um melhor entendimento ou uma teoria mais completa sempre pode vir a colaborar e revisar o que era tomado por certo!

O pensamento científico é permanentemente aberto para o reexame. A razão humana não teme a contestação.

Discute com ela e sai enriquecida sempre! A Ciência se constrói refutando ou reafirmando o já posto. Alguém sempre pode ir além de seu antecessor. E alguém, um dia, irá. 

Singularidade humana além do diagnóstico

O diagnóstico de uma enfermidade qualquer para ser verdadeiro não precisa, portanto, ser inacessível.

Quem diagnostica jamais precisará ofender as possibilidades abertas pela prece de uma mãe, pelas esperanças dos jovens, pelo paliativo, criativo, inventivo, pelo extraordinário e, principalmente, pela SINGULARIDADE da pessoa do “diagnosticado”!

Nenhum diagnóstico substitui a singularidade humana. 

O que vem depois do diagnóstico?

O bem-sucedido HGP (Human Genome Project), concluído em 2003, envolveu toda a comunidade científica na esperança de que o completo mapeamento da genética humana trouxesse respostas para a causa das doenças humanas.

O orçamento de bilhões de dólares e a cooperação de mais de 5000 cientistas do mundo todo trouxeram, de fato, muitas respostas. Doenças raras e comuns puderam ser associadas a alguma parte da complexa sequência do genoma humano. 

Porém, as respostas não acabaram com todas as perguntas. Ao contrário. Nossas incertezas se reconfiguraram e a palavra probabilidade passou a ter que ser considerada muito seriamente.

O que descobrimos é que uma muito ampla gama de fatores se soma aos genéticos e hereditários para determinar o surgimento de uma doença e a resposta ao seu possível tratamento. Alguns destes fatores são imponderáveis, inclusive. 

Se até o gene revelou-se muito pouco “certo” e muito mais uma “rede” de interações, possibilidades e desdobramentos… porque um diagnóstico também não seria a mesma trilha, uma possibilidade, um caminho de entendimento do fenômeno? 

Diagnóstico como um Caminho, não uma sentença

Um diagnóstico não é, repetimos, uma sentença. Surpreendidos por ele e nocauteados pela impotência logo ao descobri-lo… devemos esperar o tempo do assentamento. Sobrevirá o discernimento.

É necessário que venha. ainda há importantes decisões a tomar após o diagnóstico. As mais importantes serão: como prosseguir, o que fazer, onde se alicerçar. 

Após o diagnóstico inicia-se a peculiaridade e a especificidade de um caminho pessoal de todos os envolvidos. Ainda há muito chão a se trilhar… Melhor juntos. Melhor calmos. Melhor seguros.

Calma e segurança requerem tempo e experiência. Um brinde à mais bela carta na manga: a temperança!

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Prof. Dra. Kathy Marcondes

Psicóloga Clínica, psicoterapeuta na abordagem junguiana; foi Prof. Titular de Psicologia da UFES; Pós-doutora em Educação, Mestre e Especialista em Psicologia Analítica; Especialista em Mitologia, Arte e Literatura; formações em Hipnoterapia, Biblioterapia e Arteterapia. Autora de livros e palestrante. kathymarcondes.com.br tem alguns outros textos seus.