Do sonho à realidade: veja como ajudar seu filho a escolher uma carreira

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Cristiano Carvalho

Quando decidi que seria professor? Certamente não foi aos 14 anos, quando escolhi fazer o exame de seleção para a antiga Escola Técnica Federal do Espírito Santo e tentar uma vaga no curso de Eletrotécnica. Naquele ano, na antiga 8ª série (equivalente ao 9º ano do Ensino Fundamental), fiz essa escolha sem nenhuma orientação.

Era apenas um adolescente com boas notas, especialmente em Matemática e Física, que pensava em seguir Engenharia, inspirado pelos amigos do meu pai, que trabalhou por mais de 20 anos na ESCELSA (Espírito Santo Centrais Elétricas SA).

Passei no exame, cursei “Eletro”, mas a vida felizmente me levou por outros caminhos mais conectados à minha essência. Hoje, como educador em constante contato com jovens e suas famílias, vejo que os desafios na escolha de carreira no século XXI são muito mais complexos do que aqueles que enfrentei. E a pergunta que surge é: como ajudar meu filho na escolha de carreira?

Antes de oferecer dicas, é importante definir dois conceitos: profissão e carreira. Profissão refere-se a uma atividade realizada por um especialista com conhecimento específico. Um engenheiro, por exemplo, estudou Engenharia e está capacitado para atuar em sua área. Já a carreira diz respeito ao caminho profissional percorrido ao longo da vida. Um engenheiro pode, ao longo de sua carreira, tornar-se CEO de uma empresa ou secretário de obras de um governo.

Com mais de três décadas de experiência com crianças e adolescentes, uma das primeiras dicas que ofereço é: estimule a exploração de possibilidades. As profissões e carreiras do século XXI vão muito além das tradicionais, como Direito, Engenharia, Administração ou Medicina. E mesmo dentro dessas áreas, as opções podem se mesclar e sobrepor ao longo da vida profissional.

Incentive seu filho a conhecer diferentes profissões, começando pela nossa própria experiência e buscando diálogos com profissionais de diversas áreas. Isso ajuda a desmistificar estereótipos, validar ou descartar opções.

Outra sugestão eficaz é incluir visitas a universidades em roteiros de viagem em família, seja em sua cidade, em outros estados ou até no exterior. Lembro-me de uma visita que fizemos à UCLA (University of California, Los Angeles), onde minha filha, hoje estudante de Medicina, participou de um tour guiado por uma aluna de Medicina.

Existem também programas como os Summer Camps, em que estudantes de Ensino Médio passam temporadas em universidades estrangeiras, frequentando aulas e vivenciando o ambiente acadêmico. Para os jovens, essas experiências oferecem uma excelente oportunidade de vivenciar, de forma prática, suas opções de carreira.

Uma frase que gosto muito diz: “A palavra convence, mas o exemplo arrasta”. A forma como nós, pais, nos relacionamos com nossas próprias profissões influencia diretamente os valores que nossos filhos atribuirão à escolha de carreira.

Um adolescente cujos pais constantemente reclamam de suas profissões tende a evitá-las, enquanto filhos de pais que demonstram paixão pelo trabalho muitas vezes seguem a mesma carreira. Dinheiro, propósito, reconhecimento—essas nuances não só estão em nossos discursos, mas, sobretudo, em nossas atitudes.

Conversar com um adolescente sobre carreira significa, muitas vezes, lidar com a palavra medo. Recentemente, um aluno de 14 anos (sim, somente 14) me confidenciou que temia errar ao fazer sua escolha. Disse a ele que é natural sentir-se inseguro aos 17 anos, idade em que muitos ingressam na universidade.

Reorientei-o, explicando que mudanças de rota podem acontecer, e que as habilidades adquiridas no caminho considerado errado serão úteis na nova trajetória. Só devemos temer a escolha de uma profissão que não nos realize e permanecer nela. O medo acompanha as escolhas. Vá com ele. Estimule seu filho a fazer o mesmo.

O papel da escola na orientação para a escolha de carreira também é crucial. Antigamente, essa orientação era baseada em um simples critério: melhores notas em Matemática te colocavam nas Exatas; boas notas em Geografia, História ou Português, nas Humanas; e bom desempenho em Química e Biologia indicavam as Biomédicas.

Essa abordagem simplista ignora a complexidade do ser humano. As escolas devem fornecer orientação individualizada, expor os alunos a contextos profissionais diversos e manter diálogo constante com o mercado de trabalho.

Recentemente acompanhei um grupo de alunos em uma experiência profissional em que puderam, durante as férias, estar em ambientes corporativos nas áreas do direito, medicina e marketing, vivenciando o dia a dia dos profissionais dessas áreas e ainda apresentando propostas de melhoria para as instituições que os receberam. Todos saíram com uma visão mais clara sobre suas escolhas.  

Pelo segundo ano consecutivo também acompanhei alunos que participaram de hackathon, apresentando soluções para questões ambientais em nossa cidade. Trabalharam em equipe, tiveram mentores, validaram propostas e apresentaram seus projetos para uma banca de profissionais do mercado (sim, profissionais reais) que escolheram os melhores projetos e deram feedback autêntico a eles.

Alguns desses jovens, em conversas com os professores, falaram: acho que posso criar uma startup. Uma aluna me disse: eu pensava que queria ser médica, mas eu quero é oferecer soluções para a saúde. Pretendo cursar administração na faculdade.

Por último, mas não menos importante: a escolha final é do seu filho. Enquanto alguns jovens enfrentam limitações financeiras que restringem suas opções, outros são pressionados a seguir a carreira da família. Confrontar seu filho com perguntas sobre propósito e estilo de vida é essencial.

Ouça, direcione e caminhe junto. E, se necessário, lembrem-se: vocês não estão sozinhos. Nós, adultos em colaboração, temos a experiência necessária para ajudar a orientar esse processo.

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Cristiano Carvalho

CEO da Escola Americana de Vitória. Educador há mais de 30 anos, professor de Inglês com especialização em linguística aplicada. Coordenou projetos bilíngues e de educação internacional em escolas de educação básica, construindo e gerindo currículos e equipes docentes.