Vai fazer o Enem? Veja 5 passos para fazer uma redação melhor

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Marli Siqueira Leite

Nosso tempo tem sido tomado, muitas vezes, pela oferta de receitas mágicas: fórmulas para emagrecimento em 30 dias; conselhos infalíveis para o combate à procrastinação; material impecável para tornar suas apresentações mais atrativas em um minuto.

Os apelos são inumeráveis. Basta consultar uma rede social e executar a primeira busca e os algoritmos se encarregam de lhe oferecer de tudo.

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As propostas, entretanto, não se limitam às redes. Há cursos presenciais, por exemplo, que garantem a aprovação no concurso dos sonhos sem grandes esforços ou no vestibular esperado, em salas de aula com 60, 80, 100 alunos por turma.

Realidade por trás de um texto bem-escrito

A área específica da escrita se inclui aí. Alguns garantem ao estudante um modelo fixo que se encaixa em qualquer proposta de produção de texto. Não é incrível?!

Os cursos de redação pululam na internet e em modelos presenciais. “Faça uma redação modelo Enem em 20 minutos”; “Utilize esses articuladores para arrasar na redação”; “Com os nossos modelos fixos de redação, você vai chegar à tão sonhada nota mil no Enem”. 

Sabe-se, no entanto, que a escrita de um bom texto – com originalidade, informatividade, clareza e força argumentativa – decorre de várias condições preliminares.

É preciso:

  1. estar bem-informado sobre diferentes assuntos importantes da atualidade, caso o tema já não seja da sua especialidade;
  2. ser capaz de problematizar o tema;
  3. saber formular um ponto de vista sobre ele;
  4. ter a capacidade de organizar os pensamentos com critérios lógicos;
  5. dominar a língua escrita e estar aquecido para o exercício (ninguém passa a escrever bem de uma hora para outra, sem prática, embora se venda isso por aí);
  6.  ter a capacidade de rever, crítica e humildemente, o texto escrito.

Escrever não é, portanto, uma tarefa automática e advinda de uma inspiração cósmica. Trata-se de um processo. Mais suor, menos inspiração. 

Leitura e escrita: a conexão não tão automática

Há aqueles que dizem que quem lê muito, escreve bem. Parece-me mais um clichê, pois a passagem da leitura (e depende muito da qualidade da leitura) para a escrita também não é automática. Conheço grandes leitores “travados” no momento da produção do texto.

É certo, entretanto, que quem lê, com observação atenta, perspicácia e sensibilidade, tem, sim, mais repertório, conteúdo e poder criativo.

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É impensável desenvolvermos qualquer habilidade sem modelos, parâmetros, referências. Essa via, contudo, não é direta e linear. Não basta ser leitor para escrever. Neste caso, é preciso se lançar com vontade, coragem e algumas técnicas também.

Cinco passos para escrever textos dissertativos

Considerando todas essas ressalvas, que me protegem, de alguma maneira, de uma possível contradição em relação ao título deste artigo, passo a sugerir, eu diria, cinco passos para iniciar o processo de elaboração de texto, em especial os dissertativo-argumentativos – redações escolares, artigos de opinião, crônica argumentativa -, incluindo aí as redações do tão pretendido Enem, voltando-me, aqui, aos estudantes de ensino médio.

  1. Tenha clareza sobre o tema proposto (por você ou pelo exame a ser realizado), e pesquise sobre ele ou, no caso das provas de redação escolar, faça uma leitura atenta dos textos motivadores, se possível, com fichamento (destaque da ideia principal de cada um). Esses pontos poderão nortear o seu planejamento.
  2. Planeje seu texto: a) introdução (a apresentação do tema, a problematização, o ponto de vista e os tópicos principais do desenvolvimento); b) desenvolvimento (argumento 1, argumento 2… e contra-argumento, caso seja possível); c) conclusão (retome a tese para se aprofundar ainda mais sobre o tema, amplie a perspectiva sobre ele e, no caso específico do Enem, procure conhecer os cinco pontos da proposta de intervenção).
  3. Rascunho.
  4. Revisão: a) retome a proposta ou o objetivo do exercício e cheque se o cumpriu satisfatoriamente; b) confira se as ideias estão claras e bem-organizadas, seguindo um critério lógico (do particular para o geral ou vice-versa / do concreto para o abstrato ou vice-versa); c) reveja, com atenção, os aspectos linguísticos básicos (adequação do vocabulário, ortografia, acentuação, pontuação, concordância, regência etc.), reveja, ainda, as questões de coesão ou articulação (observe se repetiu palavras, se articulou adequadamente as frases, os períodos e os parágrafos, se apresentou enumerações ou contraposições respeitando o paralelismo).  
  5. Reescrita.

Escrita é processo, não magia

Creio que essas sejam dicas importantes para se desenvolver uma competência tão valiosa e desafiadora – a da escrita de textos dissertativo-argumentativos  -, deixando claro que esse processo não ocorre mágica e rapidamente.

A não ser, com um certo apoio da Inteligência Artificial! Bom, já temos aí um tema para a próxima coluna…

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Marli Siqueira Leite

Professora há mais de 30 anos, formada em Letras pela PUC-SP com especialização em Educação pelo Espaço Pedagógico-SP. Após Mestrado em Letras na Ufes, foi professora na própria universidade, no Centro de Educação. Sua dissertação sobre o poeta Ronaldo Azeredo rendeu um livro e a curadoria de uma exposição na Casa das Rosas-SP e no Museu de Arte do Espírito Santo (MAES). Fez Doutorado em Educação na FEUSP e hoje atua como professora na Escola Americana de Vitória. [email protected]