Leitura ressignifica emoções e relações escolares

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Ivana Esteves

Há muito tempo, deixamos de ser apenas leitores passivos, para nos tornarmos, também, produtores e reprodutores de conteúdo em nossos usos das redes sociais.

Nas escolas, os jovens estudam a história de outrora, de protagonistas diversos, que os antecederam, e também de cientistas, em seus processos de pesquisa e conquistas.

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Tudo isso tem propiciado aos jovens do século XXI o ímpeto por colocar a mão na massa e se expressarem.

De leitores passivos a produtores de conteúdo

O educador de hoje tem o papel de dar asas à imaginação e à criatividade de seus alunos, dar-lhes incentivo para serem protagonistas e criadores de possibilidades nobres.

De serem facilitadores e articuladores de processos educomunicativos no ambiente escolar, de maneira a permitir que a aprendizagem possa se efetivar na prática.

Projeto Escritores Adolescentes da Matemática

Um exemplo de uso de ferramentas educamunicativas é o projeto Escritores Adolescentes da Matemática: uma inclusão dos Ressignificados”, apresentado pela Faculdades Integradas de Aracruz – FAACZ, para concorrer ao Prêmio SINEPE/ES em Ação, em 2024.

O projeto envolveu 61 alunos dos segundos anos – 1 e 3 do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti.

Primo Bitti foi um dos estabelecimentos escolares invadido por um atirador – um jovem de 16 anos, ex-aluno da escola.

Foi no dia 25 de novembro de 2022, em Coqueiral de Aracruz, na cidade de Aracruz, no Norte do Espírito Santo que o estudante, armado, atacou a escola estadual na hora do recreio, matando três professoras e deixando feridos alunos; seguindo então para o Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), onde matou ainda uma aluna de 12 anos.

O ato de violência deixou marcas traumáticas no corpo docente e discente, em todo o município. E claro, impactou emocionalmente a todos.

Dificuldades em Matemática

O próximo ano letivo iniciou com um certo ar de desalento, e os educadores estavam cientes de que a exposição midiática do caso havia deixado traumas profundos na educação em Aracruz.

Os alunos dos segundos anos, por exemplo, estavam tendo muitas dificuldades na disciplina de Matemática, e estavam resistentes em terem que rever o conteúdo do ensino fundamental, para prosseguirem no ensino médio.

Foi então que o professor decidiu implementar um modelo de sala de aula invertida e com metodologias ativas, em que o estudante foi protagonista na construção do seu conhecimento.

Metodologias ativas e sala de aula invertida

Os jovens foram convocados a desenvolverem uma pesquisa centrada na reconstrução de atividades de matemática do ensino fundamental, na premissa de que pudessem compreender o quanto revisar o conteúdo aprendido no fundamental é relevante, como suporte básico, para a caminhada dos estudantes do ensino médio.

A proposição foi a construção de um livro para o resgate de fragilidades do passado e no intuito de oportunizar a tessitura do conhecimento no tempo presente.

Como protagonistas, os estudantes foram realizar pesquisa bibliográfica na biblioteca, se aliaram aos professores na escrita e, construíram pontes com outras instituições de ensino, como a Faculdades Integradas de Aracruz – FAACZ, que se entrelaçou ao projeto, propiciando a sua materialização como uma publicação, oportunizando o registro bibliográfico.

A força transformadora dos livros

É incrível o poder de um livro. Há ocasiões em que ele, o livro, é capaz de salvar muitas vidas. Pois como nos faz refletir o escritor e educador Rubem Alves, as narrativas tem o poder de transfigurar o cotidiano e nos guiar para o futuro.

Nas histórias, os medos são até mesmo amansados. O livro “Resgatando Atividades do Ensino Fundamental no Ensino Médio: Escritores Adolescentes da Primo Bitti na Matemática”, é o resultado de uma aliança entre docentes e discentes, em torno de um propósito criativo e inovador. 

O projeto permitiu que a Matemática fosse acessada de forma mais prazerosa e compartilhada – os alunos foram divididos em grupos de pesquisa e convocados a buscarem o conteúdo em livros de diversos autores da teoria matemática.

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Depois participaram de rodas de conversa e, alunos e professores colocaram em curso a tessitura do conteúdo do livro.

Esse modo de processar a aprendizagem, suscitando o saber do aluno, e valendo-se dos processos comunicacionais dialógicos e de cooperação e participação coletiva, são operados no campo da Educomunicação.

Integração de tecnologias e processos educomunicativos

A evidência das atividades educomunicativas ficam perceptíveis na utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC´s), não só para a ampliação do processo de pesquisa, bem como para a organização das atividades selecionadas na composição do livro.

Houve a digitação do conteúdo, implementado o procedimento de diagramação, a constituição da produção gráfica, contemplando aspectos estéticos; a busca por uma gráfica, e de meios de registro.

Também foi implementada a captação de recursos para a impressão de uma tiragem de 100 livros impressos, bem como a organização de um evento de lançamento e autógrafos dos jovens escritores, que uniu a comunidade de Aracruz – sobretudo o contexto educacional – em torno de um motivo feliz.

O potencial criativo e as habilidades empreendedoras dos educandos foram valorizadas e ressaltadas. A comunidade se uniu em torno de um fato positivo e um feito memorável. Eis um exemplo de como as TIC´s podem ser utilizadas no ambiente educacional, para formar e construir conhecimento.

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Ivana Esteves

Graduada em Comunicação – Jornalismo / Ufes (1990), licenciada em Pedagogia Ipemig/ MG (2022), Pós-Graduação em Marketing, Faesa (2000), Mestrado em Letras pela Ufes (2004), e é Doutora em Letras pela Ufes (2015), Pós- doutora em Educação na Unesp/PP/SP (2017). Licencianda em Letras (Ifes) e cursando complementação pedagógica na Estácio. Atua em Educação para a Mídia (Educomunicação), e na formação de professores da rede pública e privada.