Educação e limites para os filhos: veja o que você precisa saber
“Este menino não tem limites!” Quantas vezes ouvimos ou dizemos essa frase? De tão comum, acabou adquirindo um contexto limitado, quase sempre relacionado a crianças e jovens considerados mal-educados, levados ou desrespeitosos.
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No entanto, do ponto de vista educacional, o conceito de limites é bem mais amplo. Sendo assim, abordarei o tema em três artigos distintos embasados na obra Limite: Três Dimensões Educacionais, do psicólogo e professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Yves de La Taille.
Primeira dimensão: a transposição de limites
A primeira dimensão de limites abordada por Yves em sua obra é o da transposição. Se nós, seres humanos, estamos hoje aqui, lendo este artigo em um computador, celular, ou tablet, é porque rompemos limites de conhecimento pessoal e coletivo.
Se isso é verdade, por que, no âmbito pessoal, facilitamos tanto a vida de nossos filhos? Essa é uma pergunta constante que devemos fazer nas decisões aparentemente mais simples que tomamos.
“Qué papá?” é bem fofinho, mas mantém a criança onde está e a impõe um limite inadequado independentemente da faixa etária.
Obviamente não diríamos que o jantar está servido, mas poderíamos dizer: “Vamos comer essa sopinha, filha?” O carinho permanece presente, mas a criança é levada a ampliar seus horizontes.
Aplicação prática: limites em casa e na escola
Na adolescência, quantos são os jovens que se mantêm em uma bolha, não sabendo resolver questões simples do seu dia a dia. Chegam em casa e se não encontram o iogurte preferido na geladeira, queixam-se com os pais.
Mas eles vão ao supermercado? Contribuem com a lista? Comparam preço antes de comprar? Ajudam a guardar as compras quando chegam em casa? Felizmente algumas famílias respondem sim para (quase) todas essas perguntas, mas o não ainda é muito frequente.
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O que vem à reboque? Frustrações nas etapas seguintes da vida. Segundo Yves, “ o prazer imediato é primitivo; a busca pelo prazer, pelo esforço, é que tem valor e é própria do adulto.”
Portanto, pais e mães, antes de dar, de facilitar, pergunte-se se seu filho já é capaz de realizar, ainda que acompanhado, a atividade proposta.
Assim, estaremos (coloco-me aqui como pai também) contribuindo para que a criança ou jovem transponha um limite que contribuirá para seu desenvolvimento e realização como adulto.
Dois opostos na escola
Na escola, lidamos com dois opostos que frequentemente inibem a transposição de limites. Um deles pode ser ilustrado pela frase de Rubem Alves em que ele se refere a “pássaros engaiolados, que por mais que expliquem a teoria do voo, só ensinarão gaiolas.”
São aqueles professores ou currículos engessados, hiper focados na informação, na resposta certa e negligentes das perguntas vindas dos alunos.
Precisamos ensinar os alunos a voar, e para que eles voem, nós educadores precisamos experimentar o voo como prática constante. Para isso, necessitamos de ferramentas, mapas que contemplem o que já se sabe e também o desconhecido.
Informação é básico, mas é a criticidade que ajudará o aluno a decidir o que é relevante do que não é, o que é verdadeiro do que é falso.
Importância do pensamento crítico
A ferramenta do pensamento crítico é vital para a navegação em um mundo com informação em excesso e de fontes muitas vezes duvidosas.
Ainda na escola, o que dizer da motivação? É inegável que aprendemos mais quando estamos motivados. O segundo fator inibidor de transposição de limites, oposto ao primeiro que mencionei aqui, é a motivação pela sedução.
É aquela atividade “legal”, mas sem propósito. É um resumo desnecessário. É uma dinâmica prazerosa que não leva a lugar algum.
Um bom educador sabe muito bem que a curiosidade é a fome do aluno. Ela o tira do estado de repouso (intelectual) e o leva a atravessar as fronteiras do conhecimento.
Aprendizagem com desafios move o aprendiz
Uma aprendizagem baseada em desafios, problematização, projetos, move o aprendiz. Yves considera que “o bom professor (também vale para os pais) leva seus alunos para além de seus desejos momentâneos e de seus conhecimentos ainda lacunares.”
Observem que a palavra “leva” está na frase. Vamos juntos com eles e depois eles seguem por si só.
Em suma, um jovem desinteressado talvez esteja com limites demais. Nós, como adultos, ensinamos a andar. Não andamos pelas crianças e nem devemos engatinhar.
Ao nos observar andando, a criança sonha em um dia transpor um limite que é inevitável: crescer.
Portanto, ao dizer “este menino não tem limites!”, podemos muito bem estar falando de um jovem empreendedor, cientista ou atleta. Neste caso, a melhor coisa é não ter limites mesmo.