“Sair da caixinha” do pensamento – Parte 1
Em geral, quando dizemos “eu estava pensando dentro da caixinha”, o fazemos após um rompimento. Estamos ali admitindo que, antes, estávamos mentalmente produzindo a partir de um limite ou enquadre específico. A “caixinha” entra na frase como sinônimo de reto, imprensado ou rígido.
Quem diz que “saiu” revela apreço por libertar-se de uma “tradição” ou “método” que o aprisionava. Deixar de pensar “na caixinha” seria, portanto, um sinônimo de pensar solto, desenquadrado, de forma criativa e sem limites pré-estabelecidos. Após rompermos com as obrigações e crenças de formato “caixa”, então, ela vira “caixinha”.
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Aquele antigo jeito de ser e pensar que tínhamos por anos… e aquela forma rígida e pré-estabelecida de a tudo enfrentar, aquela lógica do pensamento e suas consequências no nosso comportamento humano, ou seja, nossa “caixa” é, em geral, violentamente depreciada depois que conseguimos dela nos libertar.
Descobrimos aborrecidos que não era “verdade” nem “fato” e, sim, um condicionamento no erro, que servia para nos desatualizar de nossa capacidade de pensar e julgar livremente.
Quando saímos da “caixa” passamos a perceber o quanto nos custou de vida, de amigos ou de novas oportunidades o fato de termos ficado presos a convenção de nossa “caixinha”. Muitas vezes confiávamos profundamente em quem nos colocou na “caixinha” do pensamento… e descobrir a limitação a que nossa confiança nos levou pode ter um gosto extremamente amargo.
Nos preferimos sempre livres, ou seja, “desencaixados”. Preferimos a liberdade de pensar e de fazer.
A Psicologia humana já preconiza que, em algum momento, a tendência natural da pessoa humana à autossuperação e ao desenvolvimento a levará a confrontar algumas de suas “caixas” anteriores. Estes momentos de ruptura são extremamente importantes porque só depois deles podemos começar a aventura de encontrarmos a nós mesmos, verdadeiramente, como somos.
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“Sair da caixinha” do pensamento que substituía a experiência (de ver, julgar e depois agir) pelo pré-conceito pode ser, contudo, doloroso. Perdemos convicções que pautavam comportamentos rígidos e agora temos de nos desculpar, às vezes, com quem magoamos ou julgamos injustamente.
É possível também que fiquemos um tempo sem ter certeza de quase nada sobre aquele assunto e teremos de pesquisar e conhecer por nós mesmos. Conhecer requer tempo e dedicação. Profundidade para avaliar requer imparcialidade e abertura. Por isso dói.
Todo pré-conceito pula todas essas etapas e pune ou exclui o que – verdadeiramente -nem conhece! Pensar e dizer: “não sei e tenho raiva de quem sabe” dói menos do que dizer: “não sei, não conheço, vou me esforçar para poder me inteirar”.
Haja humildade! Desprezada virtude dos tempos atuais!
Ao sair de nossas “caixinhas” devemos, porém, nos dedicar a outra virtude comportamental: a brandura. Sair alardeando a raiva a quem nos enganou e culpabilizar outros “encaixotados” ou até a nós mesmos de antes (a versão dentro da caixinha que fomos) em nada refaz o bom caminho da abertura e do aprendizado constante necessário a vida humana de qualidade.
Pensar não requer alardes. Liberdade se faz na prática e não no discurso. O exercício da liberdade não exclui a compaixão com os equívocos alheios e nossos. Nem a compaixão exclui a necessidade de superação de posturas mais intransigentes para mais sustentáveis.
Sim, progredir intelectual e socialmente pode vir acompanhado de elegante temperança. Podemos ser criativos, sem precisar de remorso ou rancor.
Sem as antigas “caixas” podemos decidir a partir de novas considerações. Novas decisões requerem, primeiro, informações. E agora não servirão quaisquer informações. Vamos aprender a importância e amplitude de nos informar a partir de várias e diferentes fontes válidas de conhecimento.
Nossa triagem a partir da liberdade de pensar fora da “caixinha” nos mostrará que cada universo de coisas (saúde, educação, filosofia, economia, política, religião, etc…) informa a partir de seu próprio ângulo das coisas, que – para aquele universo ou para aquele grupo de especialistas – é visto como o ângulo “universal”.
Depois de informados, agora temos de nos reposicionar. E haverá mais prós e contras em absolutamente todas as coisas tidas como “universalmente” aceitas por cada informante nosso. Fora da caixa são muitos os diferentes mundos, variados e complexos!
Não será incomum, portanto, nos sentirmos levemente “perdidos”, um tanto quanto atordoados, perante tantas novas liberdades de pensar e escolher.
Será preciso aprender a ter paciência com nossas reconstruções constantes e aprimorar o discernimento sobre os benefícios e custos de estar “fora das caixinhas” mais famosas – aquelas que nos dão certezas prontas e fixas.
A Vida, todas as ideias filosóficas, as artes e as civilizações prosperaram fora das “caixinhas” dogmáticas e minguaram quando tiveram hábeis encaixotadores. Por que não teríamos a mesma prosperidade fora das nossas? Avante!