10 anos sem Rubem Alves: educadores homenageiam escritor em Vitória
Rubem Alves nasceu no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, Minas Gerais. Filho de Carmem Silvia de Azevedo, pianista e apaixonada pela música clássica, e de Herodiano Alves do Espírito Santo, um homem arrojado e moldado pelo espírito empreendedor.
Embora a família de Rubem tenha experimentado a fartura financeira, antes mesmo de seu nascimento, a crise norte-americana de 1929 já havia cuidado de torrar os negócios de exportação de café conduzidos por seu pai. O menino, então, nasce na simplicidade absoluta, vive intensamente a natureza do interior das Gerais e desenvolve seu apreço especial pelas árvores.
No mês de julho, educadores do Estado irão homenagear o escritor e educador. Veja no fim do artigo.
Quando Rubem somava 11 anos, Herodiano passou a trabalhar como representante comercial e o labor exigiu a mudança da família para o Rio de Janeiro.
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O recomeço foi especialmente doloroso para Rubem que – sendo um sabiá solitário – não se adaptou com facilidade à nova escola e nem aos adolescentes que por lá pairavam como maritacas em bando (sugiro ao leitor a crônica de Alves “Sobre as aves e os adolescentes”, para aprofundar a compreensão da metáfora).
Além da música, cujo gosto foi herdado da mãe, Rubem também se ocupava do estudo da religião e foi pastor presbiteriano por alguns anos. Tornou-se Doutor em Filosofia, estudou e lecionou fora do Brasil, tendo uma exitosa carreira acadêmica.
Entretanto, com o nascimento de sua terceira filha, Raquel, em 10 de novembro de 1975, a vida de Rubem Alves se transforma, cresce em significado, em poesia e em urgência. A bebê nasceu com Fissura Labiopalatina e precisou enfrentar delicadas cirurgias para sobreviver.
Junto com Raquel, nasceu em Rubem o senso de urgência: não havia tempo a perder, nada mais justificava que ele seguisse empregando tempo na escrita de seletos artigos acadêmicos. Viver era urgente, enxergar a poesia do cotidiano era urgente, ressignificar os sofrimentos da filha… isso, sim, era urgente!
Rubem Alves, então, entrega-se a um estilo de escrita fluida, precisa, produzindo suas consagradas crônicas cortantes, mas reconfortantes. Recalcula a rota profissional, desvincula-se da Faculdade de Filosofia e passa a se dedicar à Educação.
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Inaugura, também, a escrita de livros infantis produzindo, em homenagem à pequena Raquel, “A menina e o pássaro encantado”, “A operação de Lili”, “Como nasceu a alegria” e tantas outras histórias para lidar com a saudade, o medo, as diferenças.
Raquel se tornou arquiteta e paisagista. A estreita ligação entre ela e o pai a fazia acompanhar o já renomado educador Rubem Alves em suas palestras pelo mundo. No octogésimo aniversário de Rubem, foi ela quem conduziu a fundação do Instituto Rubem Alves, sediado em Campina, São Paulo.
Um mês depois da inauguração do Instituto, em 14 de julho de 2014, Rubem Alves “foi ter com as nuvens do céu. Virou sopro, uma breve lacuna entre o tudo e o nada”, nas palavras de Raquel.
A filha, então, deixa a arquitetura para se dedicar à preservação da memória do pai. Mesmo adulta, segue lidando com problemas de saúde, que lhe retiraram a acuidade auditiva e visual, mas em nada reduziram sua potência criativa.
Em 2021 Raquel escreve seu primeiro livro infantil, “Crisálida, a cigarra que gostava de primavera”. Hoje, já são 10 livros publicados por ela, daqueles para crianças de 0 a 99 anos.
Os últimos 10 anos sem Rubem Alves só confirmaram quão necessária e atual é a sua obra:
- Educar as sensibilidades, e não apenas as habilidades;
- Valorizar a alegria de ensinar e de aprender;
- Tornar as escolas ambientes verdadeiramente cooperativos e não competitivos;
- Manter os nossos olhos encantados pelo cotidiano… isso é Rubem Alves.
Para comemorar a infinitude da obra de Rubem, ao longo de todo o mês de julho esta colunista, ladeada de Carol Braga, do espaço de formação para professores Conversa de Quintal (@conversadequintal), revisitará suas crônicas e livros infantis num espaço virtual dedicado à “Escutatória”.
Ainda dá tempo de se inscrever, caso este texto lhe soe como um chamado. É só clicar neste link.
Além disso, Raquel Alves estará na Escola Americana de Vitória (EAV), no dia 10 de julho, num evento exclusivo para pais, professores e convidados, acompanhada de seus livros, das memórias desse pai tão amado e, principalmente, da sua vasta experiência em superação e resiliência.
Antes, é claro, a autora passeará pela escola para conhecer as crianças e para colher o amor que seus livros têm plantado no coração dos pequenos.