A internet se consolidou como um dos maiores palcos de interação social, diálogo público e expressão de opiniões. O X (antigo Twitter) é uma das plataformas que mais contribuíram para esse fenômeno ao reunir milhões de usuários ao redor do mundo, inclusive no Brasil. No entanto, a recente suspensão da plataforma no país alterou esse cenário.
A mencionada suspensão não é um episódio isolado, mas sim parte de um movimento maior de controle sobre o conteúdo compartilhado nas plataformas digitais. A alegação do governo a favor de intervenções no ambiente digital gira em torno de queixas relacionadas à disseminação de fake news, incitação ao ódio e desinformação. Contudo, o que está em jogo é mais do que a luta contra a desinformação; é a própria liberdade de expressão de milhões de brasileiros.
A liberdade de expressão é um dos pilares fundamentais de qualquer sociedade democrática. A garantia de que cada cidadão possa expressar suas opiniões, mesmo que sejam contrárias ao consenso social, é essencial para a diversidade de pensamento e para o desenvolvimento de uma sociedade mais plural.
A suspensão de uma rede social, por si só, atinge diretamente o direito de cada cidadão de compartilhar ideias e visões de mundo. No Brasil, o impacto é ainda mais expressivo, dado que milhões de brasileiros utilizam o X como uma plataforma para discutir temas políticos, econômicos, sociais e culturais. As autoridades frequentemente defendem a suspensão de plataformas sob o pretexto de que é uma medida temporária para evitar o caos digital.
No entanto, essas justificativas soam perigosamente similares aos argumentos usados por regimes autoritários para reprimir a dissidência. A linha entre proteger a sociedade de danos reais e limitar a liberdade de expressão é tênue. E, no caso da suspensão do X, é válido questionar se tal medida não se tornou uma forma de censura disfarçada.
Em vez de se combater o problema na raiz, que é a desinformação, optou-se por um atalho que penaliza todos os usuários, indistintamente. Milhões de brasileiros que utilizam a plataforma de forma legítima para compartilhar suas opiniões acabaram silenciados. E isso levanta a questão: quando o Estado decide quem pode ou não se expressar, até que ponto estamos dispostos a abdicar de nossas liberdades?
A internet é, para muitos, um dos poucos espaços onde a opinião pública pode ser moldada sem a intermediação direta dos grandes veículos de comunicação ou das elites políticas. A possibilidade de compartilhamento direto de ideias transforma o cidadão comum em uma peça central na construção do debate público.
Quando esse espaço é restringido, a percepção geral é de que o governo está tentando controlar as narrativas que podem ser disseminadas. Isso acaba gerando um ambiente de desconfiança, no qual qualquer ação regulatória é vista como uma tentativa de cercear as liberdades civis.
Além disso, é importante reconhecer que a liberdade de expressão online é uma extensão do direito à comunicação em outras esferas. Suspender o X não é apenas um ataque ao uso da plataforma em si, mas uma interferência direta no fluxo de ideias e no acesso a informações. Em uma sociedade globalizada e conectada como a nossa, limitar o uso de uma rede social representa, em última instância, a criação de um ambiente onde o debate é controlado, e as vozes dissonantes são marginalizadas.
Em vez de suspender plataformas como o X, o foco deveria estar em soluções que visam educar os cidadãos sobre o uso responsável das redes sociais. A educação digital é um caminho muito mais promissor e democrático para combater a desinformação e o discurso de ódio. Se queremos uma internet mais saudável, é fundamental que os usuários sejam ensinados a discernir entre conteúdo verdadeiro e falso.
Medidas que envolvem o uso de inteligência artificial para moderar o conteúdo, o incentivo à verificação de informações antes de compartilhá-las e a promoção de uma cultura digital de respeito são caminhos que podem ser adotados para evitar a censura. A punição indiscriminada de milhões de usuários apenas alimenta a percepção de que o controle do Estado sobre o espaço digital está aumentando.
Se permitirmos que decisões como a que determinou a suspensão do X no Brasil se tornem comuns, corremos o risco de nos acostumarmos com o silêncio imposto, em que só as vozes que se alinham ao consenso do poder têm espaço. É preciso lembrar que a democracia se fortalece no debate e na divergência, e não na supressão de opiniões.
Portanto, a resposta para os desafios apresentados pelo ambiente digital deve ser sempre mais democracia, mais educação e mais liberdade. O preço de permitir que medidas como a suspensão do X se tornem corriqueiras é alto demais: uma sociedade cada vez mais controlada.