Você já imaginou ficar cara a cara com uma linda ANTA?
Quando me aventurei pelo Complexo Florestal Sooretama-Linhares, não imaginava o quanto aquelas expedições se tornariam inesquecíveis.
Era quase noite, em um dos dias nos quais explorávamos a região em busca das melhores fotografias, e, depois de um longo dia de trabalho de campo, a vontade de chegar ao alojamento era grande.
Mas, como de costume, meus olhos estavam atentos ao redor. Na natureza, nunca se sabe quando a sorte vai sorrir para você. Eu gosto de pensar que é a própria floresta que decide quando mostrar seus segredos.
Naquele dia, a floresta tinha uma surpresa para mim. Ao passar pelas estradas que cortam a RPPN Recanto das Antas, em Linhares, o carro em movimento fazia com que as estradas menores (perpendiculares) passassem rapidamente pelo nosso campo de visão.
De repente, algo chamou minha atenção. Uma silhueta grande e escura, deitada em uma poça d’água no meio da estrada, me fez gritar: “Para, para, para!”
Todos no carro tomaram um susto enorme, mas por um bom motivo. Havia uma anta repousando tranquila no meio da estrada, alheia à nossa presença.
O Encontro
Ela estava relaxada, acostumada com os carros que passavam pela estrada principal, e mal se movia.
Parar o carro distante e caminhar lentamente em direção à anta foi uma estratégia que escolhi, pois sabia que ao nos aproximarmos a pé, devagar e abaixados, ela nos permitiria chegar bem mais perto.
A adrenalina corria em minhas veias, mas era preciso manter a calma. Cada passo precisava ser cuidadoso, sem movimentos bruscos, para não assustar aquele magnífico animal.
A luminosidade já estava fraca, e eu sabia que precisava me aproximar o suficiente para usar iluminação artificial. Mantive um flash fixo bem alto, criando uma iluminação interessante.
Deitei no chão, buscando registrar um ângulo diferente, enquanto minha esposa, Ilka Westermeyer, gravava tudo em vídeo.
A anta, o maior mamífero terrestre do Brasil, estava ali, a poucos metros de mim.
Com seus mais de 300 quilos de imponência e serenidade, parecia estar posando para as fotos, como se soubesse que estava sendo fotografada para um propósito maior: sua própria proteção.
Será que ela Sabia?
Sentindo a brisa do anoitecer que começava a refrescar o ambiente, aos poucos, a anta se levantou, saindo da água devagar, olhou para mim como se quisesse ter certeza de que eu não representava uma ameaça.
Virou-se para um lado, depois para o outro, me permitindo fazer fotos definidas e bem iluminadas de todos os ângulos e seguiu calmamente seu caminho para dentro do mato. Nada tira da minha cabeça que ela sabia…
Essa experiência me marcou. A anta, com sua postura imponente e calma, parecia ser a guardiã daquela RPPN, um símbolo de resistência em meio às crescentes ameaças que enfrenta.
Explorando o Maior Fragmento de Floresta Nativa do ES
A região do Complexo Florestal Sooretama-Linhares, onde fiz essas fotos, é uma das últimas áreas de refúgio para as antas no Espírito Santo. Um dos maiores fragmentos de Mata Atlântica do Brasil. Também encontramos uma pequena população de antas em outra reserva, fora do complexo, a REBIO Córrego do Veado, onde essa população está isolada.
Complexo Florestal Sooretama-Linhares | Fotos: Leonardo Merçon / Últimos Refúgios
Formado por diversas áreas florestais protegidas, como a Reserva Biológica de Sooretama, a Reserva Natural Vale, a Fazenda Cupido & Refúgio, a RPPN Mutum Preto, e claro, a RPPN Recanto das Antas, no qual encontrei nossa amiga, que ilustra esse texto.
Eu estava por lá produzindo para o livro “Últimos Refúgios: Reserva Biológica de Sooretama”, durante os anos de 2013 a 2015.
Leonardo Merçon fotografando durante a produção do livro “Últimos Refúgios: Reserva Biológica de Sooretama” | Fotos: Instituto Últimos Refúgios
A área na qual encontrei a anta é de importância estratégica para a conservação da biodiversidade, abrigando também cachorros-do-mato, veados, preguiças e muitas aves coloridas, incluindo o ameaçado mutum-do-sudeste, entre muitos outros.
Animais nativos que habitam a RPPN Recanto das Antas, contribuindo para a rica biodiversidade da região. | Fotos: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
As Antas Capixabas: Símbolos de Resistência
As antas brasileiras, de nome científico Tapirus terrestris, são os maiores mamíferos terrestres do Brasil e desempenham um papel vital na manutenção dos ecossistemas onde vivem.
São dispersoras de sementes, conhecidas como as “jardineiras da floresta”.
Ao vê-la de perto, refleti sobre sua importância. Um animal grande e impressionante, peça fundamental no equilíbrio da floresta.
Anta é Elogio!
Infelizmente, o termo “anta” muitas vezes é usado como insulto. Mas, nós, que somos apaixonados por essas grandonas, encaramos isso como um elogio.
A anta é um animal muito inteligente, dócil, adaptável e essencial para o ecossistema em que vive.
É hora de ressignificar essa palavra e entender que as antas merecem nosso respeito, admiração, agradecimento e proteção.
RPPN Recanto das Antas
No Espírito Santo, as antas ainda podem ser encontradas em áreas naturais protegidas, como a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Recanto das Antas, que fica no coração de uma das florestas mais importantes do Espírito Santo.
A reserva é uma área de proteção ambiental com mais de 2.240 hectares de refúgio para a biodiversidade.
Localizada no extremo norte do município de Linhares, a Recanto das Antas abriga um fragmento bem preservado de Mata Atlântica, integrando-se à grande porção de floresta nativa da região.
A criação da RPPN surgiu de uma parceria entre o Instituto BioAtlântica e a Suzano.
Áreas como essa são vitais para a sobrevivência da espécie, mas enfrentam muitos desafios, como o desmatamento, incêndios, caça ilegal e os atropelamentos, especialmente na rodovia BR-101, que há muitos anos corta o Complexo Florestal à revelia da legislação.
É essencial proteger esses habitats para garantir que as antas e outras espécies continuem a prosperar.
Ameaça de Extinção Local
As antas estão ameaçadas de extinção no Espírito Santo. Os principais fatores são a perda de habitat (desmatamentos e incêndios), a caça e os atropelamentos.
Os incêndios representam uma das maiores ameaças às antas na RPPN Recanto das Antas e em toda a região.
Incêndios ocorridos no Complexo Florestal Sooretama-Linhares, uma ameaça significativa à fauna local, incluindo as antas. | Fotos: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Eu mesmo presenciei incêndios devastadores, que causaram grandes perdas de florestas e vidas de animais. O trabalho para conter incêndios em áreas de vegetação em períodos de seca é exaustivo e perigoso.
Perda de vidas
Esses eventos são devastadores, não apenas pela destruição imediata da vegetação, mas também pelo impacto a longo prazo sobre o habitat das antas.
Quando o fogo avança pela floresta, ele elimina as fontes de alimento e abrigo, deixando esses animais vulneráveis e forçando-os a buscar refúgio em áreas menos seguras, como as próximas às rodovias, onde o risco de atropelamento aumenta significativamente.
Ver um animal tão majestoso perder a vida em uma rodovia é um lembrete doloroso de quanto ainda precisamos fazer para proteger nossa biodiversidade.
Atropelamento de fauna no Complexo Florestal Sooretama-Linhares, uma tragédia para a pequena população de antas da região. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Esperança para o Futuro
Felizmente, existem iniciativas importantes para proteger as antas e outras espécies na área.
A criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) é uma das muitas estratégias usadas para proteger esses animais e seu habitat.
Nesse contexto, existem iniciativas de prevenção de incêndios na região, inclusive na RPPN Recanto das Antas, onde fiz a fotografia da anta que ilustra esta matéria. O programa “Guardiões da Floresta”, mantido pela empresa Suzano, tenta proteger tanto as áreas da empresa quanto as comunidades vizinhas.
No site deles, descobri que é possível reportar incidentes de forma rápida e eficiente pelo número 0800 203 0000 ou via WhatsApp, o que facilita a comunicação e garante uma resposta ágil às ocorrências.
Essa ação é complementada por outras estratégias, como a presença de brigadistas treinados e uma central de operações que monitora as áreas para a prevenção de desastres.
Além disso, há ações heróicas de pessoas e instituições sem fins lucrativos, como o Instituto Pró-Tapir, que trabalha incansavelmente na conservação das antas e de outros ungulados da Mata Atlântica.
Ações do Projeto Pró-Tapir no Complexo Florestal Sooretama-Linhares, focadas na conservação das antas e outros ungulados. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Programas de pesquisa, educação ambiental e divulgação científica, como os realizados pelo Instituto, são essenciais para conscientizar a população e inspirar novas gerações.
Em meu trabalho como fotógrafo de natureza, pude acompanhar alguns desses projetos de conservação super importantes.
Vida Longa às Antas
Espero, do fundo do coração, que a população de antas capixabas nunca desapareça e que eu possa ainda viver outros encontros apaixonantes como o narrado nesse post.
Reparem na Linguinha… como não se apaixonar?
Se você é capixaba, compartilhe essa maravilha do nosso estado com seus amigos. As antas merecem! 💚
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Espero que tenham gostado de mais essa história. Te vejo na próxima aventura!
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Por Leonardo Merçon
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