Retorno da fauna! Fotos mostram a jaguatirica do Instituto Terra

Fotografar a jaguatirica no Instituto Terra foi uma das experiências mais emocionantes da minha carreira. Acompanhe a jornada e os desafios enfrentados para capturar essa imagem icônica que simboliza a recuperação ambiental.

29 de maio de 2024
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A Jaguatirica do Instituto Terra

Felinos… amo fotografá-los. Mas nenhuma de minhas histórias se compara à emoção de fotografar a jaguatirica do Instituto Terra para o Sebastião Salgado. Foi uma das experiências mais emocionantes da minha carreira. 

Jaguatirica fotografada no Instituto Terra.

A famosa jaguatirica fotografada no Instituto Terra, inspiradora desta matéria. | Foto: Leonardo Merçon

Em meados de 2011, recebi um convite que mudaria minha trajetória. Registrar a fauna e flora do Instituto Terra. Porém, para complementar a missão, Sebastião Salgado, o renomado fotógrafo, me desafiou a registrar uma jaguatirica na área do Instituto, em Aimorés, Minas Gerais. 

O Instituto Terra, fundado por ele e sua esposa, Lélia Wanick Salgado, estava engajado na recuperação ambiental da região, e a presença da jaguatirica e muitos outros animais, era um sinal de sucesso desse trabalho. Eles precisavam mostrar isso para a sociedade, seus parceiros e patrocinadores.

Uma Missão Desafiadora

Aceitei o convite com entusiasmo, sabendo dos desafios que viriam. A tecnologia fotográfica da época era limitada, e capturar a imagem de um felino noturno exigia criatividade. 

Desenhei um estúdio fotográfico improvisado para fotografar a jaguatirica no Instituto Terra, carinhosamente apelidado por nós de “Parafernália Fotográfica Noturna” (PFN), com a ajuda de amigos voluntários. 

Esquema do estúdio fotográfico na mata para fotografar a jaguatirica.

Esquema do estúdio fotográfico improvisado para registrar a jaguatirica no Instituto Terra. | Foto: Leonardo Merçon

Camuflamos uma câmera profissional entre as folhagens e conectamos a um disparador a 200 metros de distância. Penduramos flashes nas árvores, que seriam disparados remotamente pela câmera.

Para monitorar o local do estúdio, adaptamos câmeras de vigilância noturna, conectadas a um laptop, que tínhamos que ficar olhando o tempo inteiro. 

Ficávamos esperando a distância dentro de uma barraca. Uma verdadeira espera, na qual revezamos de duas em duas horas. Não poderíamos tirar os olhos do laptop.

Espera Ansiosa na Mata

Montamos nosso equipamento no local estratégico e iniciamos a longa espera. Passamos noites em claro, enfrentando o calor, os mosquitos e os carrapatos. 

Ficamos atentos a qualquer movimento, monitorando com câmeras de vigilância. A espera parecia interminável, mas nossa determinação era inabalável. Afinal, quem havia me dado a missão era ninguém menos que o Sebastião Salgado em pessoa.

O Momento de Glória

Finalmente, após muitas noites, a jaguatirica apareceu. 

Uma fêmea super saudável do felino subiu em um tronco caído, iluminado pela luz do estúdio. Aquele olhar compenetrado para a câmera, a pelagem brilhosa e padrões característicos da espécie. Linda!

Jaguatirica fotografada no Instituto Terra.

A famosa jaguatirica fotografada no Instituto Terra, inspiradora desta matéria. | Foto: Leonardo Merçon

Curiosidades sobre a Jaguatirica

A jaguatirica (Leopardus pardalis) é um felídeo de porte médio, encontrado desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina, estando bastante presente em todo o Brasil. É um animal solitário e noturno, que se alimenta de roedores, répteis e aves. Sua beleza e comportamento intrigante fazem dela uma espécie fascinante para qualquer fotógrafo de natureza.

A técnica fotográfica

Eu sabia que ela passaria por lá, pois já estava monitorando o local com uma câmera de baixa resolução, então montei todo o esquema para captar aquele momento. 

Porém, a ansiedade de saber se tudo havia funcionado era enorme. Será que os flashes estavam bem regulados? A exposição da luz correta? O foco ajustado? 

Ai meu deus… será que eu havia verificado o foco?

A emoção tomou conta de todos. Conseguimos a imagem exatamente como eu queria. Um registro que simbolizava a recuperação ambiental do Instituto Terra. Missão cumprida. Um grande alívio.

Eu, fotógrafo de natureza

Entregar essa foto ao Sebastião Salgado foi um momento de imenso orgulho. Imagine se eu, um fotógrafo de natureza do Espírito Santo, sem muitas condições financeiras e sem tantos contatos, longe dos circuitos culturais mais badalados do Brasil e do mundo, teria uma oportunidade dessas!?

Leonardo Merçon mostrando foto a Sebastião Salgado e Lélia Wanick Salgado.

Leonardo Merçon mostrando fotos de animais do Instituto Terra a Sebastião Salgado e Lélia Wanick Salgado. | Foto: Ilka Werstermeyer

 Naquela época, não tínhamos um mercado para esse tipo de fotografia no Espírito Santo. Nos editais culturais que nos inscrevemos, diziam que minhas fotografias não eram arte, eram biologia. E nos editais de biologia que nos inscrevemos, diziam que nosso trabalho era cultura e não sobre meio ambiente.

Alguns me consideravam louco por tentar seguir nessa profissão, quanto mais trabalhar para meu ídolo e conseguir entregar um resultado a altura do qual ele estava acostumado. Era algo tão distante…

Desafios

Anos depois, aos poucos fomos vencendo as barreiras que nos impunham. Certa vez em um edital cheguei a responder o seguinte para um jurado que me disse que a fotografia de natureza não era arte:

“O que diria Gonçalves Dias se disséssemos em sua época, que as palmeiras onde canta o sabiá, de nossa terra tão querida, não podem ser utilizadas como inspiração para arte, em um dos países mais ricos em biodiversidade do mundo?”

Os desafios ainda são muitos, porém, hoje grande parte da sociedade entende o valor do trabalho de um fotógrafo de natureza. 

Então, com novos recursos, e com um mercado um pouco mais receptivo, aprimoramos nossa PFN. Instalamos o equipamento em diversas reservas e parques. A tecnologia evoluiu, mas a essência do trabalho continuou a mesma: capturar a beleza da fauna e promover a conservação ambiental.

Uma Jornada de Inspiração

A jornada para fotografar o Instituto Terra foi além de ser um desafio técnico e criativo. 

Foi uma experiência que reafirmou minha paixão pela fotografia de natureza e a importância da conservação ambiental. 

Leonardo Merçon com câmera no Instituto Terra.

Leonardo Merçon registrando a fauna e flora do Instituto Terra com sua câmera.

Leonardo Merçon subindo em árvore para fotografar.

Leonardo Merçon subindo em uma árvore para captar imagens únicas do Instituto Terra.

Inspirado pelas ações do Instituto Terra, continuei a apoiar outras iniciativas e a criar minhas próprias, por meio do Instituto Últimos Refúgios, sempre com o objetivo de sensibilizar o público sobre a importância de proteger nossa fauna e flora.

Convite à Ação

Convido todos a conhecerem mais sobre este trabalho e a se envolverem com a causa da conservação ambiental, especialmente a do Instituto Terra, que inspirou esta história. 

Explore minhas fotografias, comente, curta e compartilhe. Juntos, podemos fazer a diferença e garantir que histórias como a da jaguatirica do Instituto Terra continuem a ser contadas.

Espero que tenham gostado de mais essa história. Te vejo na próxima aventura!

Por Leonardo Merçon

Leonardo Merçon, fotógrafo de natureza sorri enquanto um passaro chamado de "corrupião" ou "sofrê" pousa em sua câmera, interagindo com o fotógrafo.

Foto: Iago Bueno

 

Fotógrafo e Cinegrafista de natureza, fundador do Instituto Últimos Refúgios, apaixonado pelo meio ambiente!

Junte-se a mim nesta incrível jornada de descobertas sobre a vida selvagem e veja mais histórias lindas que vivo estando sempre explorando a natureza. 🌳

 

 


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