A manhã estava tranquila e úmida quando decidi trocar o descanso do feriado por uma aventura. Em vez de acompanhar os amigos em um brinde à noite anterior, levantei cedo, às 5h30, e, com a câmera na mão, caminhei em direção à trilha no Sítio Javali, em Viana, Espírito Santo.
Meu objetivo era simples, mas desafiador: encontrar e registrar as belezas que só a natureza pode proporcionar. O Espírito Santo guarda cenas incríveis em suas matas, e naquela manhã, uma dessas maravilhas estava prestes a se revelar para mim.
A trilha
Entrei na trilha às 6h, sozinho, em completo silêncio, cercado pela umidade da floresta e pelo suave som das aves começando o dia. A luz ainda era fraca, e as primeiras fotos que fiz foram apenas registros, sem a qualidade técnica ideal que busco como fotógrafo de natureza.
Naquele momento, senti-me dividido entre dois lados: o naturalista, satisfeito em registrar cada espécie que encontrava, e o fotógrafo, sempre em busca de uma imagem digna de ser impressa em um livro.
Foi só quando decidi subir o morro, em busca de uma luz melhor, que tudo mudou.
O encontro com o gavião-pato
No topo do morro, a luz se abriu e, ali, em uma árvore sem folhas, estava ele: o gavião-pato (Spizaetus melanoleucus), pousado em um galho próximo. Ele olhou diretamente para mim, mas não parecia me considerar uma ameaça.
Saiba mais sobre o gavião-pato aqui.
Fiquei imóvel, com a câmera em mãos, registrando cada momento. A luz da manhã realçava as cores de sua plumagem, e o céu azul servia como fundo perfeito. Fiz várias fotos e até um vídeo, enquanto ele permanecia imponente em seu poleiro.
A foto desse encontro capturou a beleza da espécie, com sua plumagem peitoral branca, asas escuras e seu topete estiloso. Foi um daqueles momentos em que tudo se alinha: a luz, a composição e o comportamento do animal, que nos presenteia com sua confiança.
Mas essas fotografias carregam uma mensagem que vai além da beleza.
Águias no Espírito Santo
Embora seja conhecido como gavião-pato, o Spizaetus melanoleucus é, na verdade, uma águia. Ele pertence ao mesmo grupo de aves de rapina poderosas e majestosas, que inclui espécies emblemáticas como a harpia (Harpia harpyja), uma das maiores e mais fortes águias do mundo, e o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus).
Descubra a diferença entre águia, gavião e falcão.
As águias são predadores de topo em seus ecossistemas, desempenhando um papel crucial no equilíbrio da natureza. A presença do gavião-pato nas matas capixabas é um indicativo de que esses ambientes ainda possuem recursos para sustentar predadores como ele, mas sua sobrevivência depende da preservação dessas áreas.
Beleza e vulnerabilidade
Vê-lo tão de perto, admirando sua beleza e olhando em seus olhos, fez-me refletir sobre sua vulnerabilidade. Assim como tantas outras espécies, ele depende da conservação de seu habitat para sobreviver, e as florestas ao seu redor estão sob constante ameaça.
No Espírito Santo, regiões como a Reserva Biológica de Duas Bocas e seu entorno ainda oferecem refúgio para essas aves. Mas até quando? O desmatamento, a caça e as mudanças climáticas afetam diretamente suas chances de sobrevivência.
Cada foto que tiro é um lembrete da importância de proteger o que ainda temos.
Proteção através da fotografia
Fotografar não é apenas registrar momentos; é uma forma de sensibilizar. Cada imagem conta uma história e, ao mesmo tempo, inspira. Esta foto do gavião-pato é um convite para olharmos mais de perto a riqueza natural do Espírito Santo e a necessidade urgente de preservá-la.
Orgulho de ser capixaba
Se você é capixaba, compartilhe essa maravilha do nosso Estado com seus amigos. Se você é de outros lugares, venha observar aves no Espírito Santo. Tenho certeza de que você vai adorar nossas belezas naturais.
Espero que tenham gostado dessa história. Nos vemos na próxima aventura!
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Por Leonardo Merçon
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