Em uma manhã ensolarada, enquanto caminhava pela Praia de Camburi, em Vitória-ES, fui presenteado por uma cena inusitada. Presenciamos o momento exato em que um Lagarto teiú devora caracol-africano.
Meu irmão Felipe me acompanhava, como tantas vezes fizemos desde crianças, explorando a biodiversidade local dessa região.
Essa conexão profunda com a natureza dessa região, onde cresci e me apaixonei por cada detalhe, sempre me inspira a buscar histórias que possam sensibilizar outras pessoas.
Foi durante essa caminhada que algo chamou minha atenção: um grande lagarto teiú buscava algo em meio à vegetação.
Ele parecia determinado, como se estivesse caçando algo específico. Em poucos instantes, reapareceu com um caracol-africano na boca.
Foi fascinante assistir enquanto ele rompia a concha com facilidade, devorando a parte mole rapidamente. Me senti voltando ao passado, na época dos dinossauros. Não duvido que as cenas daquela época fossem bem parecidas com essa, porém, numa escala muito maior.
Ele repetiu a cena, voltando à vegetação e capturando outro caracol, exibindo um comportamento que, até onde sei, é raramente registrado.
Essa experiência, registrada em vídeo, me trouxe uma reflexão sobre a relação entre espécies nativas e exóticas.
A batalha contra os invasores
O caracol-africano (Achatina fulica), espécie exótica introduzida no Brasil, é conhecido como uma das espécies invasoras mais danosas do mundo.
Ele se reproduz rapidamente e compete com espécies nativas (por isso eu o chamo também de espécie invasora), causando desequilíbrios nos ecossistemas. Além disso, é um vetor de doenças como meningite e angiostrongilíase.
Infestação de caracóis-africanos: adultos e filhotes, uma ameaça aos ecossistemas locais. | Fotos: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Por isso, encontrar predadores naturais como o teiú, capazes de ajudar no controle dessa praga, é uma notícia positiva para a conservação ambiental.
Mesmo com seu impacto positivo nesse caso, é preciso cuidado. Muitas pessoas me perguntaram se o caracol-africano, sendo perigoso para os humanos, também não traria riscos aos teiús. A resposta não é simples.
Ainda há muito a ser estudado, mas sabemos que a fisiologia dos lagartos é diferente da nossa. Isso não significa que eles sejam imunes a possíveis riscos, mas sua ação como predadores de caracóis é, sem dúvida, crucial.
Conheça o lagarto teiú
O teiú (Salvator merianae), além de ser um predador oportunista, é uma das maiores espécies de lagarto das Américas, podendo chegar a 1,4 metro.
Esses animais são onívoros, alimentando-se de frutas, pequenos animais e, como vimos, de espécies invasoras como o caracol-africano apresentado no vídeo.
Eles têm um papel ecológico importante, não apenas no controle de pragas, mas também na dispersão de sementes.
Suas atividades diurnas e hábitos generalistas fazem deles um símbolo de resiliência e adaptação.
Na Praia de Camburi, os teiús se tornaram uma atração turística, permitindo que famílias se aproximem e conheçam mais sobre a fauna local.
Um alerta e uma oportunidade de aprendizado
Infelizmente, essa exposição também os coloca em risco. Normalmente os teiús são ariscos, porém, em Vitória, eles aprenderam a conviver com as pessoas. Animais mansos como esses nossos teiús podem ser alvos de maus-tratos, atropelamentos ou outros perigos.
É nossa responsabilidade protegê-los, valorizando sua importância para o equilíbrio ambiental.
Além disso, momentos como o que registrei servem como um lembrete de que a natureza está sempre nos oferecendo oportunidades para aprender. Meu vídeo, por exemplo, gerou interesse entre amigos cientistas que estão considerando estudar mais a fundo essa interação entre teiús e caracóis-africanos.
Você também pode participar
Estar atento a cenas como essa não é só um privilégio, é uma oportunidade para ajudar a ciência e também a conservação de espécies e ecossistemas.
Registrar e compartilhar essas histórias com os cientistas pode fazer a diferença, contribuindo para a ciência e para a conscientização de mais pessoas.
Inclusive, existem algumas plataformas de ciência cidadã muito interessantes, que além de nossos registros ajudarem a ciência, também são um ótimo hobby. Eu mesmo sou fotógrafo de natureza por profissão, mas também adoro registrar espécies diversas apenas para me divertir.
No iNaturalist, por exemplo, já registrei quase 2000 espécies confirmadas. E centenas de outras que ainda não conseguimos identificar.
E você, já viu algo tão fascinante quanto um lagarto comendo um caracol? Compartilhe nos comentários!
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Conheça os projetos do Instituto Últimos Refúgios para proteger, entender e sensibilizar as pessoas sobre a Restinga e os animais que habitam nela:
Veja também o vídeo que o amigo Biólogo Gustavo Figueiroa fez sobre o tema e utilizando o meu vídeo: VIDEO NO INSTAGRAM
Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!
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