Veja fotos de queimadas vistas do avião no caminho de São Paulo para o ES

Fotos aéreas mostram o impacto devastador das queimadas no Brasil, vistas de um voo entre São Paulo e Espírito Santo. Acompanhe a reflexão

11 de setembro de 2024
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Fotografia aérea de focos de incêndio e densa camada de fumaça, vista da janela de um avião, durante o voo entre São Paulo e Espírito Santo.

Incêndios florestais vistos do avião em meio a uma densa camada de fumaça, revelando a extensão do problema ambiental. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Durante um voo de São Paulo para o Espírito Santo, algo assustador chamou minha atenção. Lá de cima, pela pequena janela do avião, o que deveria ser um céu claro e uma paisagem tranquila se transformou em um cenário apocalíptico. No trajeto entre os dois estados, contei trinta focos de incêndio. Simultâneos. 

O horizonte, o solo, tudo estava coberto por uma densa camada de fumaça. A sensação de impotência era esmagadora. As imagens que ilustram este texto, não são suficientes para transmitir o tamanho do desastre que estava acontecendo abaixo de nós.

Em momentos como esse, não dá para ficar em silêncio. Como fotógrafo de natureza, minha missão vai além de registrar a beleza do mundo natural; tenho a responsabilidade de mostrar ao mundo o que estamos perdendo. Esse sentimento me acompanha em cada foto, e se intensifica quando vejo o fogo consumindo nosso país de dentro de um avião.

Refletindo Sobre a Destruição

Na matéria anterior, sobre as aranhas e minha reflexão sobre a vida, citei a frase que sempre penso: “Como indivíduos somos fantásticos, como sociedade, inconsequentemente irracionais!” A cada dia que passa, essas palavras fazem mais sentido. Nasci e cresci amando a natureza, mas percebo como estamos indo na direção errada. As enchentes no sul do país, as secas no Pantanal e esses incêndios que parecem não ter fim são sinais claros de que a nossa conexão com o planeta está rompida.

Sobrevoar o Brasil e ver tantos incêndios ativos, em pleno voo, foi aterrorizante. Como chegamos a esse ponto? E, mais importante, como alguns ainda conseguem negar o que está bem diante de seus olhos? A verdade é que estamos vendo as consequências de anos de desprezo pelas leis ambientais, da ganância de quem coloca o lucro acima da vida, e da negligência que só aumenta o sofrimento do povo e dos animais.

Diversos focos de incêndio em diferentes pontos | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

O Peso da Ganância

Não consigo evitar a indignação quando vejo políticos e empresários lutando para reduzir a proteção dos nossos biomas. Querem diminuir as reservas legais, mesmo enquanto as tragédias se multiplicam. Parece que, para alguns, a destruição da natureza traz uma espécie de prazer mórbido, uma sensação de poder. Não consigo encontrar outra explicação. A que ponto chegamos quando destruir se torna um objetivo?

Lembro-me de 20 anos atrás, quando alertávamos sobre os desastres que hoje enfrentamos. Naquela época, nos chamavam de “ecochatos”. Agora, escuto “ambientalóides”. Podem nos chamar do que quiserem, mas nós não somos os responsáveis por esses desastres que prejudicam milhões de pessoas. Vocês, que agridem a natureza sem remorso, estão construindo um futuro sombrio, o que é trágico, para todos nós.

Quando o Dinheiro Não Salva

Enquanto sobrevoava aquela terra em chamas, pensei: “Para quê tudo isso? Dinheiro no bolso de quem destrói a floresta não vai salvar suas casas das enchentes, não vai garantir água quando as secas chegarem.” E elas estão chegando. Um dia, todo esse dinheiro acumulado não será suficiente para comprar a saída do colapso social que se aproxima.

Estamos criando nossos próprios “refugiados climáticos”. Quem poderia imaginar que veríamos esse termo sendo aplicado ao Brasil? No entanto, aqui estamos, enquanto os desastres climáticos batem à porta e os tomadores de decisão seguem cegos. Sinto que não se trata apenas de ganância, mas de uma profunda desconexão com a realidade, como se estivessem destruindo o planeta apenas para preencher um vazio em suas próprias vidas.

O Novo Normal: Tragédias Anunciadas

Recentemente, vi mapas que mostravam o desmatamento em torno das cidades mais afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Foi assustador. As bacias hidrográficas estão devastadas, os rios assoreados e a água, que deveria infiltrar no solo, chega rápido demais às cidades. O que vemos hoje é o resultado de décadas de negligência.

Deveríamos estar aumentando as reservas legais da Mata Atlântica e do Cerrado, protegendo nossas florestas e rios, restaurando o que foi destruído. Mas, ao contrário, estamos retrocedendo. O que estamos fazendo é um crime, não só contra as leis ambientais falhas de nossa sociedade, mas contra a humanidade. Progresso e sustentabilidade devem andar juntos, não às custas da destruição da natureza.

Mais focos de incêndio e fumaça em meio ao centro urbano | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

O Despertar Necessário

Cada vez que vejo uma floresta sendo devastada, sei que o próximo incêndio será ainda mais forte, mais destrutivo. As mudanças estão acontecendo rápido demais para que a natureza — e nós — consigamos nos adaptar. Estamos perdendo o equilíbrio, e isso me preocupa profundamente. Quando era criança, morando em Vitória-ES, eu não precisava de ar condicionado. Hoje, não consigo dormir em minha cama sem um. Esse, mesmo antes de desenvolver minha consciência ambiental, já era sinal de que o planeta estava mudando, e não para melhor.

Alguns dizem que o aquecimento global é natural, e eles estão parcialmente certos, sempre com suas meias verdades. Porém, ignoram o papel que nós, humanos, temos nesse processo. Desmatamento, gases de efeito estufa, tudo isso está acelerando uma mudança que, de outra forma, levaria milhões de anos para acontecer. A natureza não está se adaptando rápido o suficiente, e isso nos inclui.

Fotografia aérea de focos de incêndio e densa camada de fumaça, vista da janela de um avião, durante o voo entre São Paulo e Espírito Santo

Não Podemos Desistir

Apesar de tudo, ainda acredito que há esperança. Não podemos parar de lutar. Cada um de nós tem o poder de fazer a diferença. E não estou falando apenas dos ambientalistas, mas de todos. Precisamos restaurar as florestas, proteger nossos rios, salvar o que ainda resta. Precisamos, acima de tudo, agir AGORA.

Infelizmente a história dessa semana foi um pouco diferente. Mas julguem necessária. Te vejo na próxima aventura!

Por Leonardo Merçon

Leonardo Merçon, fotógrafo de natureza sorri enquanto um passaro chamado de "corrupião" ou "sofrê" pousa em sua câmera, interagindo com o fotógrafo.

Fotógrafo e Cinegrafista de natureza, fundador do Instituto Últimos Refúgios, Mestre em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, apaixonado pelo meio ambiente! Junte-se a mim nesta incrível jornada de descobertas sobre a vida selvagem e veja mais histórias lindas que vivo estando sempre explorando a natureza. 🌳 (Foto de making of: Iago Bueno)

 


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