Em uma aventura para percorrer o trecho de Linhares-ES a Regência-ES seguindo o Rio Doce, com o amigo Professor Aureo Banhos e outros colegas, paramos em um ponto para descansar e aproveitei para sobrevoar o rio com meu drone.
No visor, uma paisagem improvável: florestas densas e um rio caudaloso que poderiam enganar qualquer um. “Será Amazônia?”, alguns diriam ao ver essa imagem. A resposta é não, essa é a nossa Mata Atlântica capixaba, ou o que restou dela.
Essa fotografia, feita em 2019, registra um raro trecho ainda preservado do Baixo Rio Doce, no Espírito Santo.
Uma imagem que contrasta com a realidade do restante do rio, onde desmatamento, assoreamento e poluição dominam. Apesar dos esforços de muitas instituições que trabalham para regenerar a paisagem, como o Instituto Terra com projetos de regeneração de nascentes (SAIBA MAIS ), a condição ecológica dessa bacia hidrográfica ainda está longe do ideal.
Olhando para essa paisagem da foto, é impossível não pensar em como esse lugar foi descrito há mais de 200 anos pelos viajantes naturalistas, como Maximiliano de Wied e Saint-Hilaire. Eles relataram uma exuberância natural que hoje parece um sonho distante.
Mas que motivação teríamos em nossas vidas senão a esperança de transformar sonhos em realidade?
O retrato de um sonho perdido
No dia em que registrei essa imagem, as chuvas deixavam o rio amarronzado, mas ainda assim ele parecia vivo. Contudo, as lembranças do desastre de Mariana em 2015 não me abandonaram.
Participei ativamente do registro dos impactos no Rio Doce, provenientes do rompimento da barragem de Mariana. Fotografar aquele cenário devastado foi uma das experiências mais dolorosas da minha carreira.
Imagens mostram o Rio Doce antes e durante a tragédia de Mariana, e a repercussão nas redes sociais. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
A lama de rejeitos, que percorreu 670 quilômetros, deixou marcas profundas na biodiversidade e nas comunidades ao redor do Rio Doce. Em meio à beleza desse pedaço intacto, a sombra da tragédia me fez refletir sobre como chegamos até aqui.
Imagens do Rio Doce durante a passagem dos rejeitos de mineração em 2015. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Histórias que as águas contam
Porém, este é um dos impactos sofridos pelo Rio Doce. A foto que ilustra o início deste post destaca ilhas com vegetação frondosa, um resquício do que o rio já foi.
Os naturalistas que desbravaram o Rio Doce no passado ficaram fascinados com sua biodiversidade. Wied escreveu sobre tucanos, macacos e o canto de papagaios que preenchiam o ar.
Hoje, as matas ciliares foram substituídas por pastos e monoculturas, agravando o assoreamento e dificultando a recuperação do rio. Isso gera secas mais severas e enchentes mais destruidoras.
Segundo as histórias contadas, a última dessas araras-vermelhas nativas do Espírito Santo, morreu em cativeiro na década de 70 do século passado. Ainda hoje, algumas podem ser vistas, mas são frutos de soltura, e até onde sei, não são de populações naturais.
Arara-vermelha na região do Rio Doce, fruto de soltura. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Mas essas imagens, assim como a que apresento como foto principal desta matéria, são contrastes do que foi destruído e do que ainda pode ser salvo.
CONHEÇA UM POUCO MAIS SOBRE AS VIAGENS DOS NATURALISTAS HÁ 200 ANOS ATRÁS:
- “Viagens à Capitania do Espírito Santo”
- “O Principe Maximiliano Weied-Newied e sua viagem ao Brasil(1815-1817)“
O Rio Doce que sonhamos
Ainda próximo à foz do rio, outra fotografia revela os rejeitos que ainda chegam ao mar. Rejeitos de mineração que são liberados no rio há décadas, agravados com o incidente de Mariana que ainda polui o rio.
Um lembrete de que a recuperação desse ecossistema requer um compromisso coletivo. Não podemos mudar o passado, mas podemos escolher a regeneração como caminho para o futuro.
Com um drone, captei um vislumbre de esperança. A natureza resiste, apesar de nossos erros.
A primeira foto a ilustrar esta matéria é um convite para imaginar o futuro do Rio Doce como ele foi descrito por Saint-Hilaire: um lugar de vida exuberante, com águas que sustentam comunidades, flora e fauna.
O que podemos fazer
Enquanto o governo anuncia iniciativas como a Secretaria de Recuperação do Rio Doce, é essencial que cada um de nós faça parte dessa luta.
SAIBA MAIS:
- https://mpes.mp.br/noticias/2024/11/21/mpes-e-governo-do-estado-alinham-acoes-para-o-cumprimento-do-acordo-de-repactuacao-da-tragedia-do-rio-doce/
- https://www.al.es.gov.br/Noticia/2024/12/47950/governo-vai-criar-secretaria-de-recuperacao-do-rio-doce.html )
A restauração de matas ciliares e a fiscalização contra crimes ambientais são apenas o começo. Precisamos de vontade política, mas também de vozes que clamem pela conservação.
Finalizando com orgulho e esperança
Concluo com a esperança de que este texto seja mais uma pequena força somada a milhares de outras vozes.
Apesar de eu ser apenas um fotógrafo de natureza que tenta fazer a sua parte. Acredito que a foto que apresento aqui, representa um sonho que não pode ser esquecido.
Se mais vozes se juntarem à causa, conseguiremos fazer com que nossa sociedade sobreviva à Emergência Climática que já é uma realidade e não mais algo de um possível futuro. Está acontecendo!
O Rio Doce ainda tem muito a nos oferecer, mas cabe a nós garantir que ele volte a ser um símbolo de vida, não de destruição. Capixabas, esta é nossa herança. Que possamos nos orgulhar dela.
Visite, comente, curta e compartilhe este apelo. Envie o link da matéria para seus amigos que vão curtir. Sua interação é fundamental para manter viva a minha chama da conservação e mostrar ao mundo a importância de proteger nossa biodiversidade.
Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!
Abaixo, seguem algumas instituições e projetos que trabalham no contexto do Rio Doce, para que você que gostou deste texto, possa acompanhar e ajudar na medida do possível:
* Instituto Terra (o Terra Doce é uma iniciativa do Instituto Terra para apoiar pequenos e médios produtores da Bacia do Rio Doce, recuperando a água em suas propriedades e implementando sistemas agroflorestais, trazendo benefícios econômicos e ambientais para os produtores rurais.) SAIBA MAIS
* Projeto Harpia Mata Atlântica (Por meio do edital do Funbio e Semente, via Instituto Últimos Refúgios, o Projeto Harpia atua na conservação das Harpias no contexto do território da Bacia do Rio Doce). SAIBA MAIS
* Projeto Semente (Por meio de parceria entre o Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais – CeMAIS e Ministério Público de Minas Gerais, o projeto Semente subsidia os Promotores de Justiça na seleção de projetos de relevância socioambiental apresentados por instituições do terceiro setor, com a utilização de uma plataforma virtual com amplo acesso em todo o estado.) SAIBA MAIS
* Projeto Tamar (Monitoramento das tartarugas marinhas na foz do Rio Doce) SAIBA MAIS
* Instiuto Marcos Daniel (Com projetos de conservação e estudos dos jacarés e tartarugas marinhas). SAIBA MAIS
* Projeto Surucucu (Iniciativa do Projeto Herpeto Capixaba, em tentando redescobrir a serpente Surucucu no território capixaba, em especial na Bacia do Rio Doce). SAIBA MAIS
* Sementes do Rio Doce (Tem como objetivo fomentar projetos inovadores na Bacia do Rio Doce, estimulando soluções que beneficiem a população da região – O edital do Sementes está previsto para janeiro de 2025). SAIBA MAIS
Dentre muitos outros projetos fantásticos e que conseguirão fazer ainda mais diferença para o Rio Doce. Se você tem mais algum projeto para indicar para a lista acima, entre em contato e me mande o nome. Ficarei feliz em divulgar.
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