Onças-pardas “miam”? Vídeo flagra o som do felino no Instituto Terra

A vocalização da onça-parda no Instituto Terra revela a recuperação ambiental e o retorno dos predadores de topo, documentado em imagens exclusivas

16 de outubro de 2024
COMPARTILHE:

O som ecoou na mata silenciosa, um som que, para quem não conhecesse, poderia ser confundido com um miado. Mas estava longe das cidades, em um dos recantos de conservação mais icônicos e mágicos da Mata Atlântica, no Instituto Terra. 

O protagonista deste momento, ao menos dessa vez, não são os queridos Sebastião Salgado e Lélia Salgado. É ninguém menos que a onça-parda (Puma concolor), um dos felinos mais curiosos das Américas. 

Eu estava em uma jornada para capturar as imagens para a série “Green Planet” da BBC, quando registrei algo especial, uma vocalização incomum, que, a princípio, parecia simples, mas que carrega em si a força da restauração ambiental. A transformação do Instituto Terra, de uma área desertificada a uma floresta capaz de suportar a presença de onças.

Aventura na floresta regenerada

Entre 2019 e 2022, tive a honra de atuar como produtor local e cinegrafista para a BBC, em um projeto com a participação inspiradora de ninguém menos que o Sir David Attenborough. 

Era surreal, poder estar envolvido em uma produção com esse gigante da divulgação científica. Aquilo era uma missão de vida para mim, não só por ser um trabalho com ligação de pessoas as quais admiro tanto, mas também uma forma de mostrar ao mundo que a natureza pode ser recuperada.

O fotógrafo Leonardo Merçon trabalhando na regenerada floresta do Instituto Terra. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

 

Durante dois anos de monitoramento intenso, registrei imagens bem interessantes no Instituto Terra. As onças-pardas, animais que normalmente evitam o contato humano, se tornaram o centro das minhas atenções. 

Eu me deparei com cenas difíceis de serem registradas na Mata Atlântica: mães cuidando de seus filhotes, casais em rituais de acasalamento e onças solitárias explorando o território regenerado. Um sinal claro: o reflorestamento estava funcionando.

A cada filmagem, eu sentia a emoção de fazer parte de algo maior, algo que mostrava que a natureza, quando cuidada, responde de maneira poderosa e é capaz de trazer de volta até mesmo os predadores de topo de cadeia.

O “miado” que contou uma história

Onça-parda parada na floresta do Instituto Terra, olhando diretamente para a câmera

Onça-parda observando a câmera em uma área regenerada do Instituto Terra. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Uma das cenas que mais me marcou aconteceu em uma encruzilhada na floresta. Eu havia montado uma câmera trap em um ponto estratégico, próximo ao mirante conhecido como “Mirante do Sebastião Salgado”, e deixei ali por meses. 

Quando voltei para verificar, a surpresa: uma onça-parda parada bem diante da câmera, vocalizando algo que parecia um miado. Ela parecia estar chamando outra onça, pedindo uma direção, e a resposta logo veio de longe. A vocalização, simples e suave, contrastava com a imagem de um animal tão poderoso.

Esse “miado”, na verdade, parece mais com um guincho. Ao contrário da onça-pintada, a onça-parda não esturra. Ela não tem a estrutura vocal para rugir como os grandes felinos do gênero, mas esse som suave que ela emite é o suficiente para comunicação entre fêmeas e filhotes, ou durante o acasalamento. 

A resiliência de um predador

A onça-parda é um símbolo de força e adaptabilidade. Ela prospera em áreas onde a floresta foi regenerada. Saber que esse felino está ali, habitando o Instituto Terra, é uma vitória imensa para a conservação. 

Para um animal desse porte se estabelecer, o ambiente precisa estar em equilíbrio, com presas suficientes e uma área grande o suficiente para que ele possa caçar e sobreviver.

Para mim, essas onças representam o sucesso de uma missão de vida – o trabalho de reflorestamento iniciado por Sebastião Salgado e Lélia Wanick Salgado. 

Sebastião e Lélia Salgado posam com o fotógrafo Leonardo Merçon no Instituto Terra

Sebastião e Lélia Salgado posam com o fotógrafo Leonardo Merçon no Instituto Terra | FOTO: Laís Pimentel

A natureza responde

Esse trabalho árduo e contínuo me ensina uma lição valiosa: a natureza sempre responde quando damos a ela uma chance. Cada animal que fotografo, cada cena que registro, é uma prova de que ainda há tempo de mudar o rumo. 

Diferentes ângulos da onça-parda explorando o território regenerado no Instituto Terra. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

A história da onça-parda e seu “miado” é só um exemplo de como a vida selvagem encontra seu caminho de volta, mesmo nas condições mais adversas.

A mensagem que fica é simples, mas profunda: preservar a natureza é um ato de respeito pelo planeta e por nós mesmos: uma questão de sobrevivência.  Afinal, somos parte desse ecossistema, e as escolhas que fazemos agora definirão nosso futuro.

Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!

Por Leonardo Merçon

Leonardo Merçon, fotógrafo de natureza sorri enquanto um passaro chamado de "corrupião" ou "sofrê" pousa em sua câmera, interagindo com o fotógrafo.

Fotógrafo e Cinegrafista de natureza, fundador do Instituto Últimos Refúgios, Mestre em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, apaixonado pelo meio ambiente! Junte-se a mim nesta incrível jornada de descobertas sobre a vida selvagem e veja mais histórias lindas que vivo estando sempre explorando a natureza. 🌳 (Foto de making of: Iago Bueno)

 


VEJA MAIS MATÉRIAS POR LEONARDO MERÇON

SIGA O FOTÓGRAFO NO INSTAGRAM