Eugênio Martini

Comerciante que retirou 200 câmeras do Centro desabafa: "Ajudei a identificar muitos bandidos"

Eugênio Martini é alvo de denúncia no Ministério Público e relembra que começou a instalar as câmeras após ser alvo diversas vezes de assaltantes

Eugênio Martini, comerciante do Centro de Vitória
Eugênio Martini, comerciante do Centro de Vitória

O comerciante Eugênio Martini, dono de uma loja de equipamentos para celulares, retirou 200 câmeras de videomonitoramento instaladas por ele no Centro de Vitória. A remoção ocorre após uma ação apresentada ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES).

Em entrevista ao Folha Vitória, Martini contou sobre os últimos 15 anos sendo comerciante da região e realizando a instalação de câmeras em pontos estratégicos do Centro, com autorização dos demais comerciantes.

Ele classifica o videomonitoramento como um trabalho comunitário e defende que se trata de uma ação boa e que deveria ser legalizada.

Martini retirou as câmeras em comum acordo com a EDP, concessionária de energia do Espírito Santo. Portanto, não há processo da empresa contra o comerciante.

A denúncia ao MPES foi feita pelo ex-vereador André Moreira (PSOL), em fevereiro de 2024, quando ainda era parlamentar em Vitória, depois que uma moradora se sentiu “incomodada com a presença das câmeras”. Ela alegou que a imagem estaria sendo usada pelo comerciante sem autorização.

Confira a entrevista com Eugênio Martini:

Folha Vitória: Por que a ideia de instalar tantas câmeras no Centro de Vitória? De onde surgiu essa necessidade?

Eugênio Martini: Eu fui um dos comerciantes mais assaltados. Meu histórico de assalto é muito antigo. E eu fui buscar soluções. Coloquei uma, duas, três câmeras… Na época, muita gente questionou se podia, porque o espaço era público, mas depois as pessoas foram se adaptando. Faziam pedidos do tipo: ‘”Olha, não quero que aponte para a minha janela”, e tudo bem. Assim, outros comerciantes começaram a pedir para instalar na frente das lojas deles também.

E as pessoas que reclamavam eram maioria?

Tudo que você faz na vida tem quem aprove e quem não aprove, certo? Então, é normal que algumas pessoas também invistam nas suas razões. O caso é que o vereador André Moreira escutou algumas pessoas que estavam descontentes e fez uma denúncia no Ministério Público. Assim, a EDP fez o que tinha que fazer. A concessão não permite monitoramento no poste. Por isso, tive que retirar. O Ministério Público vai investigar, é o que está acontecendo. É a lei. Mas o que digo é: o primeiro olhar é se a coisa é boa. Depois, se ela é legal, né? E aí, se é bom, vamos tornar legal.

Mas, além das reclamações, suas câmeras foram úteis? Você já auxiliou a polícia, a Guarda Municipal, flagrou crimes?

Não tem nenhum processo judicial desabonando a minha conduta com as câmeras. Danos morais, invasão de privacidade, por exemplo, cenas que mostrei que a pessoa não gostou. Não tem nada. Zero. Isso então mostra que eu não fiz nada de errado com o monitoramento. Outra coisa: foram dezenas e dezenas de contribuições nesses 15 anos. Vários policiais estão me mandando mensagem. Ajudei a polícia identificando muitos bandidos. Na Delegacia da Mulher, por exemplo, vários casos foram resolvidos porque eu tinha as imagens do agressor.

Câmeras retiradas por Martini. Foto: Divulgação/Eugênio Martini

Como era a instalação das câmeras? De onde vinha a energia?

Todas as minhas câmeras são alimentadas com 12 volts vindo do comércio. Todas. A energia vinha das outras lojas, em acordo com os comerciantes. Sou técnico em telecomunicações, eu sei que a rede elétrica passa no alto do poste e as câmeras são instaladas no meio. Não tem lógica eu puxar a rede do poste para fazer um gato e colocar na minha câmera. Eu fazia um acordo com o comerciante para instalar com a energia dele. Todas as câmeras de rua tinham autorização do comerciante. Só que foi um pedido da EDP, porque a fiação passa no poste, então, não pode. Fui me retratar e pedir desculpas porque eu não tinha autorização. As câmeras que ficaram foram as que não passam nos postes, perto da minha loja e em volta da minha casa.

E o que o senhor vai fazer com as câmeras retiradas? Vai vendê-las, vai guardar?

Estou com o porta-malas cheio de câmeras. De início, vou fazer a restauração, a limpeza e o armazenamento. É claro que eu não vou guardar porque as câmeras ficam obsoletas, sempre tem uma tecnologia mais moderna. Vou, de imediato, ver o desdobramento disso tudo, né? Pode ser que amanhã a Justiça deixe instalar tudo de novo. O que podemos fazer agora é provocar o poder público para criar um projeto municipal e colocar as câmeras nas calçadas. Quem sabe a câmera pode ser bancada pelo comerciante que está na frente, com uma plaquinha fazendo propaganda. Essas câmeras podem ser compartilhadas com a Guarda, com os vizinhos, comerciantes e todo mundo vai viver bem. Acho que, dessa semente que plantei, uma árvore vai nascer em algum lugar.

VEJA VÍDEO DE MARTINI RETIRANDO AS CÂMERAS

Carol Poleze, repórter do Folha Vitória
Carol Poleze

Repórter

Graduada em Jornalismo e mestranda em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Graduada em Jornalismo e mestranda em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).