Não é só nos corredores do Palácio Anchieta que a discussão sobre as vagas no Senado ganha corpo. Do outro lado do tabuleiro, mais precisamente no campo oposto, muitos já se movimentam para viabilizar o próprio nome para o jogo.
No ano que vem, duas cadeiras na Câmara Alta estarão em disputa. Hoje, esses assentos são ocupados pelos senadores Fabiano Contarato (PT) e Marcos do Val (Podemos), eleitos em 2018 ao desbancarem Ricardo Ferraço (na época, PSDB) e Magno Malta (PL).
Tanto o PT capixaba quanto o nacional têm como prioridade a reeleição de Contarato, que pode vir numa chapa puro-sangue – só com candidatos do partido – ou ainda fazer uma dobradinha com o governador Renato Casagrande (PSB), que tem como “plano A” deixar o governo para disputar o Senado.
A coluna inclusive já noticiou quem são os cotados para receberem a benção do Palácio Anchieta e caminharem junto ao governador. Até o momento são três nomes que concorrem entre si pela segunda vaga (leia sobre aqui).
No grupo dos aliados, até o momento – vale frisar – há quatro postulantes ao Senado, exatamente metade do número no campo oposto. No palanque que será construído para fazer frente a Casagrande há, pelo menos, oito nomes na disputa – sendo quatro num mesmo partido.
A coluna traz, abaixo, os nomes que devem desafiar o grupo governista:
Evair de Melo (PP)
O deputado federal Evair de Melo (PP) é declaradamente oposição a Casagrande e também é cotado para disputar uma vaga ao Senado. Evair ganhou estatura no jogo após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmar, numa entrevista, que apoiaria o capixaba ao Senado, mesmo sem o deputado ser do seu partido.
Desde então, Evair tem aumentado as andanças pelo Estado, a presença nas redes sociais e até a atuação na Câmara Federal. A questão é que Evair está no PP e o PP está na base do governo de Casagrande, representado pelo comando da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb).
E não é só isso. O presidente estadual do PP, deputado federal Josias da Vitória, também tem interesse em disputar o Senado e ao lado de Casagrande, na segunda vaga do grupo do governo.
Ter dois deputados federais do mesmo partido mas com posturas e posicionamentos divergentes é algo normal no PP que, nacionalmente, tem suas lideranças divididas: uma parte apoia o governo Lula e faz parte dele. Outra, permanece fiel a Bolsonaro.
O próprio Evair sempre diz que tem liberdade dentro do partido e que Da Vitória nunca o censurou por ter um posicionamento contrário a Casagrande.
Porém, o que está em jogo no ano que vem é o Senado e a não ser que o partido vá sozinho, sem coligações, para as eleições – podendo assim se dar ao luxo de ter dois candidatos ao Senado, o que parece improvável –, só haverá vaga para um dos dois disputar. E se o PP permanecer onde está hoje, na base aliada, a chance maior é que Da Vitória ocupe esse espaço.
Há, no entanto, a possibilidade de Evair mudar de partido ou do PP capixaba mudar de comando. Numa eventual mudança, ocasionada, por exemplo, por uma intervenção da Executiva nacional – com a possibilidade do PP capixaba ir para as mãos de Evair –, aí a coisa muda de figura.
Não que haja indícios hoje de que isso possa ocorrer, mas também não é nada impossível. Basta lembrar que o próprio Da Vitória tomou o comando do partido – que era presidido pelo ex-secretário estadual Marcus Vicente – por meio de uma intervenção federal e que na política nada é estático.
Sergio Meneguelli (Republicanos)
O deputado estadual Sergio Meneguelli (Republicanos) não trabalha com outro objetivo a não ser disputar o Senado no ano que vem. Após ser rifado na eleição passada (2022), pelo próprio partido, às vésperas da convenção, Meneguelli acredita que agora terá a oportunidade de ir até o fim.
“Meu projeto político é disputar o Senado. Não tenho interesse na Câmara e não vou para a reeleição”, disse Meneguelli à coluna De Olho no Poder, no último dia 07.
Meneguelli foi o deputado mais votado da história da Assembleia Legislativa (conquistou 138.523 votos) e foi graças também à sua votação, que o Republicanos conseguiu conquistar cinco cadeiras no Legislativo estadual.
Meneguelli é, sem dúvida, um forte puxador de votos, o que desperta o interesse de vários partidos. No entanto, esse interesse recai sobre a disputa proporcional, sobretudo a da Câmara Federal, que tem impacto direto no tamanho e na força da sigla.
É o número de deputados federais que define o tamanho e até a sobrevivência de um partido político, assim como o quanto ele abocanhará das verbas destinadas às campanhas e o tempo que terá de propaganda em rádios e TVs durante o programa eleitoral.
Questionado se o Republicanos daria legenda para Meneguelli disputar o Senado, o presidente da legenda no Espírito Santo, Erick Musso, desconversou, numa entrevista anterior: “Serginho é um quadro importantíssimo do Republicanos”.
Como Meneguelli já teve o tapete puxado uma vez, dessa vez ele já está se antecipando e sondando outros partidos. Foi convidado para se filiar ao PSD, que garantiu espaço para ele disputar o Senado. O PSD, aliás, conta com outro cotado para a disputa.
Na Assembleia, Meneguelli exerce um mandato independente. Não chega a ser nem aliado e nem oposição ao governo. Porém, tanto Republicanos quanto PSD devem construir um palanque de oposição ao grupo de Casagrande para as eleições de 2026.
Paulo Hartung (sem partido)
O ex-governador Paulo Hartung confirmou que vai se filiar ao PSD em maio, após uma temporada de quase seis anos e meio longe da política partidária e da política regional – se bem que há quem jure que ele nunca saiu das articulações nos bastidores.
Confirmando-se a filiação, Hartung é cotado para disputar ou o governo do Estado – o que seria uma tentativa para um quarto mandato – ou uma vaga ao Senado, o que é a aposta do mercado político.
E essa aposta está baseada em alguns fatores: primeiro que Hartung poderia ter disputado a reeleição em 2018. Ele estava à frente da máquina pública estadual, tinha o apoio dos maiores e principais partidos e uma avaliação positiva de sua gestão como governador.
Porém, ele declinou, sinalizando, em sua saída, que não disputaria mais o governo do Estado.
Segundo porque o PSD no Espírito Santo, hoje, está bem próximo do Republicanos. As duas legendas estiveram juntas nas eleições de vários municípios e é bem provável que sigam em sintonia para 2026.
Hoje, são poucos os partidos que não estão na órbita de Casagrande e que, para se apresentarem competitivos no ano que vem, precisam ter como estratégia caminharem juntos ou formarem blocos. E isso o Republicanos já entendeu.
O partido, no entanto, aposta na candidatura do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), ao governo do Estado. E já tem trabalhado nisso. O secretário de governo de Vitória, Erick Musso – que é também o presidente estadual do Republicanos –, tem levado Pazolini para participar de eventos no interior, para torná-lo mais conhecido.
Embora o prefeito Renzo Vasconcelos, que preside o PSD no Estado, tenha dito à coluna que trabalha com a possibilidade de ir com chapa completa para as eleições do ano que vem, se estiver numa aliança com o Republicanos um dos dois terá de ceder e retirar o nome para a disputa ao governo. Hoje, a possibilidade maior é que o recuo seja do PSD.
Sem contar que o próprio Hartung já elogiou Pazolini publicamente, como uma aposta de renovação em meio às lideranças políticas capixabas.
Em terceiro lugar, desde que deixou o governo do Estado, Hartung tem se dedicado à iniciativa privada, sem, no entanto, se afastar do debate político. Ainda assim, ele tem evitado tratar de temas regionais.
Não participou ativamente das eleições de 2022, tampouco carimbou seu nome em campanhas municipais, no ano passado. O foco de Hartung tem sido as discussões sobre a política nacional, com temas que caberiam, perfeitamente, na tribuna do Senado.
Como já é de conhecimento do capixaba, Hartung não costuma revelar com antecedência sobre as decisões que irá tomar. Por isso, faz mistério sobre o que disputará e se irá disputar algum cargo. Por ora, o mercado tenta interpretar os sinais e o mais contundente será o da filiação, se ocorrer.
Marcos do Val (Podemos)
Eleito senador na primeira eleição que disputou na vida, em 2018, Do Val ainda não bateu o martelo se irá mesmo para a reeleição. Há sete anos, quando disputou, ele estava na coligação de Casagrande e contou com o apoio dos partidos aliados e de um grande movimento de renovação que tomou conta do eleitorado para conquistar uma cadeira no Senado.
“Meu foco agora é concluir meu trabalho como senador. Quando isso acontecer, aí sim vou avaliar se a sociedade que me elegeu ainda deseja que eu continue nesse caminho”, disse o senador em entrevista anterior a coluna, conforme já noticiado.
Ainda que decida pela disputa, a situação do senador hoje no Estado é complicada. Detentor de um mandato polêmico, muito mais voltado para pautas ideológicas e brigas com o Supremo do que pelas pautas econômicas e sociais que realmente interessam ao Espírito Santo, Do Val não tem o apoio do PSB para tentar um novo mandato.
O PSB é o partido do governador e é quem está, junto com Casagrande, à frente das articulações para a formação de uma frente ampla rumo a 2026.
A discussão sobre o segundo nome que receberá a benção do Palácio Anchieta para uma dobradinha com Casagrande passa pelo partido e o nome de Do Val está vetado, conforme já definido numa reunião interna do ninho socialista e confirmado à coluna pelo presidente estadual da sigla, Alberto Gavini: “Marcos do Val não tem o apoio do PSB”.
Do Val está no Podemos, partido que faz parte da base aliada e que Casagrande quer manter por perto. Tanto que, mesmo com a recusa do deputado federal Gilson Daniel – presidente estadual do Podemos – de indicar um nome ao secretariado, o governador não encerrou as conversas e deixou a porta do Palácio aberta para o aliado.
A bem da verdade, Do Val nunca mirou sua artilharia contra Casagrande e a cúpula do governo também nunca veio a público criticá-lo. Mesmo assim, dificilmente ele encontrará espaço para disputar a reeleição no grupo dos aliados.
Se continuar no Podemos e o partido integrar a coligação de Casagrande, Do Val corre o risco de fazer uma campanha solitária se insistir em disputar a reeleição. Sem o apoio do PSB que, na prática, significa o apoio do governo, resta a Do Val encontrar abrigo num partido mais alinhado ao seu atual perfil ideológico – ou seja, no palanque da oposição.
Em tempo: Outros quatro nomes também se movimentam para a disputa ao Senado. A análise dessas outras lideranças ficará para uma próxima coluna.
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