As mulheres de todo o mundo são lembradas neste sábado (8), quando é comemorado o Dia Internacional da Mulher, momento em que elas são homenageadas e lembradas por grandes feitos conquistados. Em um mundo onde os homens controlam a maior parte das chefias de grandes empresas, existem mulheres que quebram barreiras.
Uma delas é do Espírito Santo, que desistiu da faculdade de Engenharia Mecânica para realizar o sonho de ser pilota de navio. Hoje, Carolina Natali Halász é supervisora de serviço de tráfego de embarcações, ou seja, ela ajuda a controlar as embarcações que entram e saem do Complexo Portuário de Vitória e Vila Velha.
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Pilota de navio tem 20 anos de carreira naval
A capixaba, de 41 anos, tem 20 anos de carreira naval, sendo oficial de náutica, que é o nome correto da profissão de pilota de navio.
Carolina é formada na Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante no Rio de Janeiro, já pilotou grandes navios e percorreu vários portos no Brasil e no mundo.
Desde 2005, ela é pilota de navio e, hoje em dia, atua como supervisora de serviço de tráfego de embarcação no VTMIS, o centro de controle e monitoramento da Vports, autoridade portuária de Vitória, coordenando o fluxo de navios desde a chegada na barra de Vitória, entrada no porto e até a saída final.
Na opinião de Carolina, os portos mais bonitos onde entrou pilotando são os do Rio de Janeiro e o de Vitória. Ela destaca que sente um carinho especial pelo porto capixaba.
“Claro que aqui há um componente afetivo importante, mas o acesso ao porto e a paisagem como um todo até hoje me impressiona. Já tive o privilégio de chegar aqui no final do dia e é realmente um espetáculo”, afirma.
A pilota de navio conta que se emocionou quando entrou na baía de Vitória pela primeira vez, pois era um sonho de infância, mas nunca imaginou que esse sonho fosse se tornar realidade.
Na minha adolescência adorava ficar da janela observando os navios em fila, aguardando para acessar o porto. Desde então, eu tinha curiosidade de saber como era trabalhar em um navio, como deveria ser a vida lá dentro, mas eu nunca imaginei que essa seria minha profissão no futuro e que teria, um dia, a oportunidade de olhar o continente de dentro de um navio, de ter a visão de lá para cá. Por isso, foi muito emocionante chegar aqui como pilota, disse Carolina.
O sonho começou a se tornar realidade quando a então estudante entrou no pré-vestibular e o diretor do cursinho sugeriu que ela tomasse a decisão de seguir a carreira marinha.
“Eu estava me preparando para fazer Engenharia Mecânica, mas ele ressaltou o potencial desse tipo de carreira, o fato de já receber uma bolsa como estudante, além de ter estrutura de suporte, como alojamento, uniforme, práticas esportivas e de sair do curso praticamente empregado, se formando em numa profissão diferenciada como piloto de navio e com um bom salário”, destacou.
Após um intenso período de estudos, Carolina acabou passando na Marinha Mercante e em Engenharia na Ufes, aos 19 anos. Ela conta que o início do curso foi bastante difícil, pois somente 30 mulheres estavam na turma dela, num total de 105 alunos.
“Tive dúvidas no início, mas decidi pela Marinha Mercante e acabei convencendo minha mãe. No início, a adaptação não foi fácil. Em uma turma de 105 alunos, apenas 30 eram mulheres. Eu tinha 19 anos e era tudo muito novo, diferente, vivíamos em um regime militar de semi-internato. Foi preciso disciplina e resiliência. Muitos colegas desistiram, mas segui em frente”, afirma.
Conheceu o marido na sala de aula
A pilota destaca que, atualmente, está completamente realizada pelo trajeto que escolheu para seguir na sua vida. O marido de Carolina, Saulo Luís Halász, também é oficial de náutica e trabalha em um navio-sonda de perfuração de poços de petróleo.
O casal se conheceu ainda em sala de aula, mas só começou a namorar depois da faculdade e de uma forma inesperada.
“Saulo foi meu colega de turma, mas o interessante é que só começamos a namorar depois que saímos da faculdade e de uma forma inusitada. Estudamos três anos juntos e fizemos um ano de estágio no mesmo navio que circulava pela Europa e nunca pensamos em nada mais do que amizade. Quando já estávamos trabalhando em empresas e navios diferentes, decidimos começar a namorar depois de uma ligação telefônica despretensiosa para desejar Feliz Ano Novo um para o outro”, diz.
Após a ligação, os dois se encontraram quase um mês depois, porque estavam embarcados em dois navios diferentes. Carolina relatou que era difícil conciliar a vida pessoal com a profissional, pois os dois já eram pilotos de navio e traçavam rotas e escalas de trabalho diferentes.
Depois de 2 anos e meio de namoro, Carolina e Saulo resolveram se casar e, no bolo, foram colocados bonequinhos personalizados de pilotos, em dois navios diferentes. Atualmente, o casal tem uma filha que se chama Marina, de 7 anos. A menina tem esse nome em referência ao mar e à navegação.
A mãe de Marina afirma que ela já é apaixonada pelo mar. “Ela diz que quer ser médica da Marinha e cientista”, conta a mãe.
Vida profissional entre mapas e até perrengues à bordo
Além de ser esposa e mãe, Carolina é uma profissional extremamente esforçada, tendo que enfrentar desafios enormes por estar em um cargo onde os homens predominam. Os desafios enfrentados por ela vão além dos problemas relacionados ao machismo, mas relacionados ao ofício de navegar.
A pilota explica que as pessoas que trabalham nessa área precisam seguir várias funções antes de pilotar um navio, como planejar roteiros e traças mapas, para definir os caminhos mais seguros.
Carolina conta que já passou por alguns perrengues à bordo.
Uma vez, o navio teve um blecaute e ficamos por horas à deriva, à noite, em meio à Bacia de Campos, enquanto os oficiais encarregados das máquinas trabalhavam para resolver o problema. Nessa hora, a gente toma as medidas preventivas, ligando luzes de emergência e enviando mensagens de alerta às outras embarcações. Mas havia um risco de colisão com plataformas fixas que também não tinham como se desviar, relata.
Tirar navio do estaleiro foi experiência marcante
Carolina também já tirou um navio do estaleiro, destacando que foi uma das experiências mais ricas durante a sua vida profissional.
A profissional, que atualmente é supervisora de serviço de tráfego de embarcações, conta que o porto de Vitória possui um alto grau de dificuldade para atracar um navio, pois eles ficam em meio a outras embarcações que atracam em outros portos próximos, como o de Tubarão e Praia Mole.
Hoje em dia, Carolina diz que a profissão que escolheu, que é predominantemente masculina, compensa em sua vida e na vida de outras mulheres que quiserem seguir. Ela afirma que somente esta profissão é capaz de ver belezas naturais indescritíveis.
Houve desafios, mas também pude ver paisagens magníficas, avistar baleias, golfinhos, navegar por dias vendo apenas céu e mar e contemplar as noites mais estreladas por conta da ausência da iluminação da cidade e ver o sol nascer e se pôr em espetáculos belíssimos, destaca.
Carolina atua ajudando a organizar o tráfego de embarcações que chegam a Vitória e compara o trabalho realizado ao dos controladores de voo dos aeroportos.
“Meu trabalho é similar ao dos controladores de voo, só que relacionado a navios. Auxiliamos comandantes na sua tomada de decisão a bordo, transmitindo informações sobre o tráfego, emitindo avisos aos navegantes, informando condições meteorológicas, entre outros”, relata.
*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos