O abaixo-assinado em reação ao especial de Natal do Porta dos Fundos chegou a mais de 2 milhões de assinaturas nesta quinta-feira (18). A produção do grupo humorístico carioca, que causou polêmica por ter sido apontada como ofensiva à fé cristã, está disponível no serviço de streaming Netflix desde o dia 3 de dezembro. A mobilização popular teve início na última quarta-feira (11) e, até às 11 horas desta quinta, contava com 2.218.560 assinaturas.
O documento abaixo-assinado pede o veto da produção. A polêmica pode render novos capítulos. De acordo com a colunista do jornal O Globo, Patricia Kogut, o Porta dos Fundos e a Netflix já teriam acertado um novo especial de Natal para 2020.
Ainda conforme a colunista, a produção brasileira foi a mais assistida da história do serviço. A Netflix não divulga os números da sua audiência.
No especial de humor, Jesus é surpreendido com uma festa de aniversário de 30 anos. A certa altura, Maria e José, os pais do aniversariante, fazem uma revelação bombástica: ele foi adotado e seu verdadeiro pai é Deus. Outra das surpresas (cuidado com o spoiler) é que Jesus poderia estar em um relacionamento com outro homem.
Políticos e religiosos reagem
Políticos e líderes religiosos também usaram as redes sociais para demonstrar insatisfação com o filme. No site da Coalizão pelo Evangelho, o pastor Joel Theodoro, da Igreja Presbiteriana do Bairro Imperial no Rio de Janeiro, escreveu que cancelou sua assinatura da Netflix. “Manter-me na qualidade de um patrocinador de produções cinematográficas que zombam e vilipendiam o Senhor é o mesmo que esbofeteá-lo”, opinou.
No mesmo espaço, o pastor Thiago Guerra escreveu que “há diferentes formas de protestar: cancelar assinatura; deixar de assistir os episódios; ensinar o que a Bíblia diz; entrar em contato com a empresa; envolver-se culturalmente e promover filmes e séries com valores bíblicos etc”.
No Twitter, o deputado federal Marco Feliciano relembrou que já processou o Porta dos Fundos (a ação foi arquivada pela Justiça). “Cristãos e não cristãos me cobram atuação contra os irresponsáveis do Porta dos Fundos. Em anos anteriores já os processei, mas a “Justiça” diz que é liberdade de expressão”, escreveu Feliciano.
Conhecido como apoiador da gestão Bolsonaro, o ator Carlos Vereza disse em sua página do Facebook que os comediantes do grupo “são lamentáveis como viventes”.
Também nas redes sociais, o próprio Porta dos Fundos ironizou o abaixo-assinado e a reação que o especial gerou.
Porchat e Netflix respondem
Em meio às críticas, Fabio Porchat decidiu se pronunciar a respeito do assunto. O humorista escreveu, em seu Twitter:
“Gente, pode deixar que eu me resolvo com Deus, tá de boa, não precisa se preocupar não. Agora pode voltar a se indignar com a desigualdade que destrói nosso país. Mas tem que se indignar com o mesmo fervor, tá?”
Respondendo e retuitando alguns internautas, Porchat ainda disse que o Porta dos Fundos não faz sátiras apenas com o cristianismo, já que também há diversos vídeos no YouTube em que eles brincam com outras religiões, como o islamismo e o candomblé.
Ele também concordou com um internauta que insinuou que a repercussão causada pelo especial não foi devido a blasfêmia, mas por retratar Jesus como homossexual, já que em 2018, foi lançado, pela Netflix, outro controverso especial de Natal envolvendo figuras bíblicas – “Se Beber, Não Ceie”, que inclusive ganhou o Emmy Internacional de Melhor Comédia – que não teve a mesma repercussão negativa.
O jornal O Estado de S. Paulo entrou em contato com a Netflix, que afirmou que “valoriza e aprova a liberdade criativa dos artistas com quem trabalha, e reconhece também que nem todas as pessoas vão gostar desse conteúdo. Daí a liberdade de escolha oferecida pela empresa, em seu cardápio variado de opções, que inclui, por exemplo, novelas bíblicas”.
Também via assessoria de imprensa, o Porta dos Fundos se pronunciou: “O Porta dos Fundos valoriza a liberdade artística e faz humor sátira sobre os mais diversos temas culturais e da nossa sociedade”.