Entretenimento e Cultura

Animais enganam humanos? Profissional explica vídeos curiosos

Vídeos virais que mostram animais fingindo machucados não são intencionais e comportamento pode ser considerado experiência de aprendizado positivo, segundo especialista

Foto: Montagem / Folha Vitória

Vídeos de animais na internet são a receita para o sucesso, principalmente quando os pets agem de modo peculiar. 

Durante as últimas semanas, registros de cães que fingem estar machucados para receber carinho e esquilos simulando a morte ao perceber a presença de humanos viralizaram nas redes, entre muitos outros animais considerados “atores”. Mas, por que este comportamento acontece?

De acordo com a crença popular, os animais seriam capazes de manipular os donos assim como humanos, de maneira intencional. No entanto, especialistas desmentem esta interpretação. 

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Segundo o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Mateus Paranhos, atuante da área de comportamento animal, a atitude pode ter diferentes motivações, a depender da espécie. 

“Na verdade, há um equívoco na interpretação desse comportamento. Alguns animais, principalmente pássaros, apresentam esse comportamento de simulação (aparentando estar feridos), visando promover a distração de um potencial predador ao se aproximar do ninho, por exemplo. Há poucos relatos sobre esse tipo de comportamento em mamíferos e nenhum em particular entre animais de companhia”. 

Acerca do comportamento de pets domésticos, o especialista afirmou que cães não possuem a capacidade de fingir uma lesão. “Geralmente, o comportamento de mancar ou outros sintomas de ferimentos e doenças são reais e não devem ser ignorados”. 

Comportamento de aprendizado associativo 

Por outro lado, o professor também reconheceu a habilidade da espécie de aprendizado, registrada em diversos vídeos virais. Para o especialista, o comportamento é fruto de uma associação e reforço positivo.

“É possível que um cão aprenda que mancar atrai a atenção positiva, gerando um aprendizado associativo. Essa associação geralmente acontece durante uma lesão real, levando o cão a repetir o comportamento no futuro. Portanto, não é ‘fingir’, mas uma experiência de aprendizado. Ele aprende a ‘mancar’ porque recebeu mais atenção durante o período em que estava ferido. A atenção especial dada nesse momento atua como um reforçador positivo (recompensa), fazendo o animal apresentar esse comportamento quando não há mais lesão e dor”, explicou.

Comportamento animal difere do humano

Ainda segundo Mateus Paranhos, este tipo de comportamento não é intencional, diferente do pensamento humano de que os animais estariam “atuando”. 

“Não há intenção na expressão desse tipo de comportamento, ou ele representa uma condição real, e o animal está realmente ferido ou doente, ou ele aprendeu a apresentar este comportamento, ao entender que a condição atrai mais a atenção do dono”.

Vídeos virais e esquilo “fingindo de morto”

Durante os últimos dias, um vídeo viral foi muito comentado pelos internautas. Nele, um esquilo utiliza de artifícios e até mesmo um cabo de vassoura para “fingir a própria morte” ao detectar a presença de humanos. Veja:   

Para o especialista, ao contrário do senso comum, a interpretação de que o animal estaria fingindo estar morto pode ser uma perspectiva humana. 

“Analisamos as imagens com a nossa perspectiva, de seres humanos que somos. Nem sempre é fácil explicar o comportamento de um dado animal. Na minha opinião, o esquilo não está fingindo estar morto, pois ele se mexe com muita frequência. Me parece mais um comportamento de brincadeira, mas isso também é uma interpretação especulativa. No meu caso e, acredito, na maioria das pessoas que assistem ao vídeo, não tenho nenhum conhecimento sobre a história de vida deste esquilo que me permita chegar a uma conclusão mais segura sobre o que estaria acontecendo com ele”, comentou. 

Acerca dos malefícios do comportamento de aprendizagem associativa que leva pets a simularem situações de ferimentos, Mateus Paranhos contou não haver. “Caso a pessoa deixe de dar atenção ao animal no momento que este comportamento ocorre, com o tempo o animal deixa de apresentá-lo”, finalizou.

*Texto escrito pela estagiária Sofia Galois, sob supervisão da editora Erika Santos.